terça-feira, fevereiro 17, 2009

"Deixa pra lá"

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

O jornalismo hoje é como diria o caipira: "Uma faca de dois legumes!". Se por um lado o mundo-cão tem cada vez mais êxito, aos ditos ícones "cults" do jornalismo do país tem em seus maiores representantes um desgaste, quem dirá ao público leigo. Em mais uma re-reviravolta profissional depois de tantas uma das mais respeitas profissionais do país deu um tiro a queima roupa aos pudicos de plantão.

Após ocupar um dos postos de mais prestigio do país, a apresentação do "Roda Viva", TV Cultura, sua apresentadora declarou a mídia sua insatisfação: "Os entrevistados estão pobres. Quem está sentando naquela cadeira não tem nada a dizer ao telespectador. Fico com vergonha. Aquilo lá está um sonífero. Nem o Markun consegue assistir.", bombástica declaração dado por Lillian Witte Fibe dada a Folha de São Paulo em 16/02/2009.

A quem trouxe novidade? O Roda Viva só teve bons momentos em significantes episódios políticos e ao entrevistar grandes figuras. É um formato engessado e muito dependente da qualidade do entrevistado. Pois deve-se considerar alguns pontos. A TV Cultura pelo nome só já é algo ante-atrativa nos dias de hoje. Vivemos um momento de aculturação dos mais intensos que já se viu fora de uma ditadura no Brasil.

No Brasil hoje ter opinião é pejorativo e não é a toa que o "Opinião Nacional" da mesma emissora recém saiu do ar. Diferente das décadas passadas o debate político saiu da mesa de bar, do supermercado, da padaria e dos aniversários. Ser politizado hoje é sinônimo de ser chato. Ter raciocínio e opinião própria é quase que uma agressão moral aos acéfalos de plantão. Seja coerente e sincero hoje por mais de 20 minutos e vire motivo de chacota. Tenha moral e serás tratado como um criminoso que quer tirar a alegria de viver dos aculturados de plantão.

Cada vez mais os que se fazem valer da desistência dos poucos que ainda tem valores éticos em lutar por um mundo distinto da bandalha que tem se tornado a sócio cultura vigente, e o "deixa pra lá" tem se torna não apenas um hábito, mais que isso, a sentença de morte de uma ex-nação.

A de se pensar algumas coisas por sobre esta fala de Lillian, para que se possa explicar o desinteresse da população em programas do gênero do "Roda Viva". Ou nada mais acontece na cena política do país, quicá estão todos cegos. Creio ser impossível não se ter mais gente que tenha o que dizer em um momento de crise mundial. Da-me a impressão suave e talvez equivocada de que os vínculos com o governo paulista estejam a interferir na pauta do programa. Em contra isso somente posso massificar um pensamento corrente de algumas pseudo-elites intelectuais: "O mundo emburreceu, e eu além de não ter emburrecido junto, me esqueci de fazer lobotomia".

Faco minha "sugerencias" de entrevistados ao "Roda Viva". José Saramago. Ele que já proferira frases como "A lucidez é um luxo que nem todos se podem permitir."; "Sou um sobrevivente por ter conseguido manter alguns valores éticos."; "Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor."; "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.", deve ter algo a dizer talvez. Mas será que o velho ateu-comunista e Prêmio Nobel não seria vetado?

Esperamos que em caminhos distintos a grande profissional e o grande programa, em alusão clara ao que já representou ou mesmo apresentou no passado, tenham êxito futuro e não se perdão no mar incipiente da banalização vigente que é a atual moeda vigente e deprimente no país.

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