quinta-feira, maio 09, 2019

10 dias de M: Um relato cru sobre ser assaltado no exterior

Se tens um cartão apenas de débito no Brasil, nunca viaje com ele. Se viajar com ele não saia com ele a noite. Se sair com ele a noite esconda em suas partes íntimas sempre.

Após redescobrir que o sistema bancário no Mercosul não está integrado e que Santander Brasil é um banco, e Santander Argentina é outro... A sensação de vulnerabilidade e impotência após ter sido assaltado via Moto-Chorro(Ladrões que atual em dueto com motos em Buenos Aires) é imensurável.

Os bancos brasileiros atualmente todavia em caso de roubo de cartão de débito não enviam uma segunda via ao exterior. O banco em que encontra-se minha conta após exaustivas chamadas escutando gravações e propagandas e sendo repassado de setor a setor me deu duas únicas opções para reaver um cartão e utilizar MINHA CONTA bancária. Primeiro regressar ao Brasil pessoalmente e ir a minha agência. Ou, poderia receber em minha residência no Brasil um cartão bloqueado que para habilitar-lhe- se faria necessário utilizar-se de biometria em um caixa eletrônico brasileiro deste tal banco.

Realmente é insólito e indignante que após ser roubado estando fora do país sem um mango, sem cartão, sem vida... te digam isto e ao final da ligação ainda te peçam desculpas por não poder ajudar. 

A terça-feira pós assalto foi um dos "melhores dias de minha vida". Sem ter o que comer, pois na residência de estudantes em que vivo em Buenos Aires sempre me roubam comida da geladeira coletiva, o que me força a comprar comida três vezes por dia: café da manhã, almoço e jantar. Somado a isto, estar indocumentado e ainda sem celular me deixavam bastante aturdido neste momento.

Claro que tudo pode "melhorar". Justo por não ter celular, não podia usar as bicicletas gratuitas do governo da Cidade de Buenos Aires, por não ter tão pouco o cartão do transporte público que fora também usurpado não podia usar metrô ou ônibus, caso tivera ou conseguira dinheiro para fazer a carga do cartão. Ainda no final da noite tinha um ensaio de teatro.

Nota: Além do mestrado em Jornalismo e Comunicação que façoi atualmente na UBA, estou no elenco de três espetáculos teatrais na Argentina, dois como ator e um outro como diretor. 

Depois de chegar atrasado ao ensaio, o diretor da peça me convidou a jantar. Obviamente, aceitei. A esse momento já com celular que me tinha deixado em conserto por acaso dias antes e portanto não foi roubado, regressei a residência em bicicleta.

Em meio a este caos pessoal uma conhecida minha uruguaia que em um louco rompante decidira mudar-se de madrugada a Buenos Aires passado um mês, resolveu não regressar a casa de sua mãe e como tenho muita sorte nesta reencarnação, sua último foto público fora comigo e os seus resolveram passar a semana ausando-me de sequestro ou de acobertar sua insana escapada. Dias depois ela ressurgiu e tudo se esclareceu, mas o inferno passei eu até que há três dias eta louca reapareceu.

Planejava mudar-me a um lugar menos bosta, mas devido ao ocorrido os planos de mudança estão postergados. Visitei vários apartamentos e hosteis e etc, na segunda. Depois de caminhar a cidade toda, roubarem minha comida, ir ao caixa eletrônico em reforma e decidir comer em um restaurante que aceitara débito, passar por vários que tinham suspendido os pagamentos com cartão, depois de comer sou assaltado.

Ao dia 2, pós assalto uma amiga de faculdade da época em que vivi na Argentina anteriormente me convida a jantar, me empresta um cartão SUBE para o transporte CARREGADA. Assim voltando a ter uma vida quase normal. Ao dia 3 pós assalto e já melhor da garganta, pois o assalto incluiu um golpe na garganta, me lancei a cantar no metrô portenho. Ao fim pude comer por mneus próprios meios financeiros.

Tenho desde então graças a que por fim consegui elenco para minha peça que criei para o metrô e cantar uma pequena fonte de renda. Ainda por sorte uma amiga me emprestou sua bicicleta, assim eu posso economizar para ir a alguns locais aonde possa deixar com segurança a mesma. Também passei a trabalhar como entregador de encomendas com a salvadora bicicleta.

Espero realmente que esta junção de biscates me alcancem para pagar a mensalidade do mestrado e o aluguel, pois estando sem dinheiro para fazer uma viajem em busca de um cartão de Buenos Aires a Florianópolis não tenho muitas opções a não ser contar com os poucos amigos que tenho por aqui e estes trabalhios alternativos que não me exigem documento argentino.

Sim, tenho radicação legal e cidadania argentina. O que ocorre é que não aceitam cartões se não apresentas documento e justo me roubaram o DNI argentino junto ao bendito cartão do Santander.

Os dias posteriores foram pesados, mas minha postura como jornalista foi a de pensar que se estivesse em uma cobertura de guerra poderia estar um uma situação pior.

Escrevo este quase artigo da sala de aula do mestrado enquanto o professor de Estilos Periodisticos de la America Latina. O professor falando de um artigo muito bem construido em sua forma de relato e eu escrevendo assim, apenas para desafogar minha angústia pessoal.