quinta-feira, abril 09, 2015

Meu primeiro g0y - Nando Schweitzer

Na vida sempre podemos provar algo inusitado. Basta caminhar pelo mundo e relaxar. Minha vida que por semanas pensei estar no fim, teve um suspiro de sobrevida. Ou ao menos um instante inédito.

Pensei que jamais estaria com um G0Y. Mas nunca diga nunca. Ocorreu!!! A parte interessante foi mesmo depois do primeiro beijo, a afirmativa repetida após cada beijo subsequente "sou hétero". Ao passo que eu gargalhei me surpreendi com a confissão, "sou g0y, minha mina tá me esperando la dentro(da balada).


Para Entender

O termo - g0y - é escrito com um zero no lugar da letra 'a' da palavra gay, isso para expressar que os g0ys, sejam heteros ou não, são homens (NÃO HÁ MULHERES GØYS). Homens que por principio não se identificam com os valores e os comportamentos da comunidade gay. O termo pode ser abrangente, podendo incorporar coisas diversas como atitude, postura masculina, pró-atividade, etc. MAS O PRINCIPAL é que com o zero em destaque o termo g0y serve designar homens que não praticam sexo anal com outros homens.

 Por uma questão lógica dedutiva, consequentemente um homem heterossexual tradicional como conhecemos não pratica sexo anal e nem qualquer outro tipo de interação intima com outros homens adultos. Dessa forma um Hetero gØy é um heterossexual mais liberal, mas que mantém seu comportamento reto/restrito e por uma ética própria masculina, não faz sexo com homens, apenas faz brincadeiras sacanas, interações mais leves ou até mais ousadas desde que nesses contatos HxH - que podem ser múltiplos, não ocorra o ato homossexual e que o sexo (ou seja a penetração) seja exclusiva com mulheres.


Voltando ao g0y

Como 90% dos heteronormativos, este também não sabia beijar. Para isso nossa vocação de professor acende como palha atingida por um relâmpago. Então começamos a aula! Primeiro a aplicar o movimento de língua inclinada a quinze graus, logo ao enrijecimento suave dos lábios, avançamos logo para as mordidas suaves do lábio superior ao clássico roçar no cangote seguido de lambidas na orelha.

Então cometi o grande erro. Perguntei o nome do tal. A porção hétero que segue naquele corpo se manifestou. Mentiu o nome. Porque? Os g0ys não curtem vínculos com homens, e tal qual os machos alpha héteros não gostam de laços afetivos.

Goy, palavra hebraica para nação ou povo, também utilizado pela comunidade judaica para se referir aos não judeus ou gentios, sofreu um ressignificação na Europa e Estados Unidos, e parece estar entrando no linguajar dos meninos alternativos brasileiros. Mais uma divisão? Não, meramente um termo para o que já existia, mas de uma forma polida e que retira o peso social de ser homossexual.

Esse novo ser que emerge das profundezas da auto-homofobia é um fenômeno que já ocorre com maior frequência. Mas respirando fundo eu desomatizei e lembrei que já transei com caras que demoraram 5 anos para tocar no assunto após o dia da conjunção carnal, este ao menos acredita ser um g0y.

Qual seria a inspiração/tara/motivação destes jovens moços para com seus pares viris? Quiçá na Antiguidade, aonde era comum para gregos e romanos, o beijo entre guerreiros no retorno dos combates.


Musical tem estreia neste fim de semana

Obviamente eu prefiro a opera a música popular. Mas como vivemos neste mundo fétido do pop deslavada-mente sem aura, como diria Adorno, o que nos resta é adentrar ao mundo das canções clássicas dos áureos anos 60. Aos transeuntes que perambulam sem rumo na chatice do trópico sul do continente latino americano lhes vou alçar a melhor pedida desta semana. Que tal uma ópera moderna sobre a noite que precedeu o Golpe Militar?

Essa é a hora de revisitarmos estupendas músicas do cancioneiro popular brasileiro. Antes do Golpe, concebida pelo diretor teatral e cantor Nando Schweitzer, depois dos sucessos Bacalhau Regado ao Vinho(2013) e Somente Tu e Eu(2014). Com sua rebelde e refinada Companhia a Tribo da Arte o artista insano está produzindo uma web série, além do musical que será lançado nos dias 10 e 11 de Abril no Teatro da UBRO, em Florianópolis.

Para nós que tivemos de suportar as briguinhas decrépitas ente a pseudo-esquerda petista e os penosos tucanos nazis-pobretas, temos aqui uma chance única de aprendermos com o passado. O musical Antes do Golpe conta a história de seis jovens alienados ao momento político de sua época(coincidências como a atualidade não param por aí), que resolvem fazer um luau em torno de uma fogueira na noite que antecedeu o Golpe Militar de 1964.

Um dos integrantes mais antigos da montagem, Bryan Lacerda, afirma que além do própria projeto em si o clima de “amizade que se formou” neste trabalho o tornam ímpar. A soprano Yasmin Moraes ressalta um dos momentos mais divertidos e clássicos dos bastidores(pois ocorre rotineiramente) quando seu companheiro de cena esquece a frase “mãozinhas com mãozinhas pra cá”, na canção icônica do saudoso Jair Rodrigues.

Se você não suporta mais as franquias de musicais da Broadway, ou os sonolentos e intragáveis espetáculos de sub-estrelas globais, tens aí a grande oportunidade de ser e FAZER diferente. O repertório? Canções baseadas no play liste híper-luxo focado nas 100 músicas mais tocadas no Brasil nos anos de 1962, 1963 e 1964, e apresentadas em forma de um grande pot-pourri, no qual as letras originais foram transformadas em diálogos. Glória a originalidade, tão em falta atualmente neste continente submergido em uma crise intelectual e financeira.

Maximo Pacheco, produtor no musical e também ator da companhia valora que “Antes do Golpe é realizado inteiramente ao vivo”(pasmem), e conta com um elenco formado por seis atores/cantores e banda. Por meio das músicas de maior sucesso da época, o musical traça o perfil social do Brasil em um dia crucial de sua história.


Ficha Técnica

Elenco: Bryan Lacerda, Cleber dos Santos, Dandara Manoela, Nando Schweitzer, Yasmin Moraes, Wagner Queiróz
Músicas: Anderson Fernandes, Gabriela Mafra, Cristian Pimentel 
Roteio e regência: Nando Schweitzer – Actor & Director 
Produção Executiva: Maximo Pacheco 

Serviço

O que? ANTES DO GOLPE, o musical
Aonde? Teatro da UBRO – Florianópolis / Teatro Studio Heleny Guariba – São Paulo
Quando? 10 e 11 de Abril(Florianópolis) / 24 e 25 de Abril (São Paulo)
Horário? 20:30h
Preço? R$ 30,00 / R$ 20,00 Antecipado / R$ 15 Estudantes e Idosos.


Entrevistados: Bryan Lacerda, Yasmin Moraes, Maximo Pacheco, Nando Schweitzer