terça-feira, agosto 11, 2015

Uma certa virada!

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


A exatos 12 anos, no meu início na noite de Florianópolis, foi quando por primeira vez fui a uma balada. Porque?

Eu era um romântico-inocente, hoje sou apenas romântico.

Aquele 31 de Dezembro de 2003 iria mudar minha vida, minha concepção de mundo e até com algumas experiencias posteriores, mudar minha maneira de olhar o ser humano.

Outrora jovem, eu, um pueril ator, e apaixonado por um ator de minha ex-ex-companhia ao qual havia meses antes me declarado em cena piegas e patética que não comentarei para não estender-me, mais, tinha planejado passar na Praia do Campeche a noite boa, aqui nominada Réveillon.


Obviamente seria na companhia do ser amado. Seria... Apenas seria. Esperei todo o dia, toda a noite pela chamada naquele velho celular tijolo. E como um tijolo carregado ao sol cada vez mais me pesara.


Ao que a desesperação se acirrara em meu peito o número de tentativas de ligar aumentava, pois em tese me ligarias após ser definido em qual de seus amigos passaríamos a virada do ano.

Nunca recebi essa chamada. Então, as 23:47, após um jantar familiar com alguns parentes distantes e outros ainda próximos minha face era a mais nítida expressão do ano velho.

Houvia os fogos, fingia um sorrir, transbordava em lágrimas secas.

Que cousa louca era aquela? Que dor era aquela? Que virada era aquela?

Foi a virada da minha vida. Já passados umas dezenas de minutos, chamei um táxi. Disse o nome de um discoteca, me surpreendi pois o Taxista me diria: "Acho que vai ter trânsito... Em uns 40 minutos chegamos...". E eu mudo, carnificado em minha angústia e pena.

Ao chegar e após um trânsito infame de pessoas felizes, ou descobriria eu mais tarde, pessoas que fingem melhor que eu os seus temores e dores.

Estava tão fora de mim. Ou melhor, tão entro de mim, que não havia fora. Hoje sei que em uma noite assim a fila é enorme. Neste dia, não! Naquele instante não.

Paguei R$ 20,00, a moeda era mais valorizada em 2003. Hoje um ingresso antecipado é o dobro. Entrei. Uma onda de pessoas me carregava de lá pra cá, daqui pra lá. Pessoas que jamais pensei estarem ali, ali estavam. Estás e desconhecidos me cumprimentavam, desejando feliz ano novo...

Tinha uma raiva imensa e mim e do mundo. Demorei cerca e 2 horas intermináveis para assentar minha alma. Então fui iluminado pela racionalidade. Pensei: Gastei R$ 20,00 e todos a minha volta parecem felizes e eu? Gastei o mesmo e não estou... Já sei! Sou ator, posso fingir estar feliz, quem sabe assim recupere o valor do ingresso. Me fingindo feliz, as pessoas em volta me veriam feliz, e quem sabe assim alguém me olharia por fim.

Deu certo. Três. Três rapazes lindos beijei esta noite.

Hoje eu não sou mais inocente, jamais voltei a beijar três pessoas na mesma festa. É mais fácil passar três festas sem ninguém beijar-me. Mas o alento que possuo é que ao menos hoje aprendi. Aprendi a fingir coisas para a sociedade e atuar fora dos palcos e cenários.

O pão nosso de cada dia!

Fernando Schweitzer, Florianópolis - Actor, Director Teatral, Cantante, Escritor e Jornalista

O pão nosso de cada dia nos cotai em dólar, santificado seja o nosso câmbio, bendita sois vos oh nossa safra... Lá, lá, lá... Blá, blá... O bom de não termos incorporado a cultura italiana de comer-se com pão a mesa em todas as refeições. O pãozinho de trigo, ou pão francês subiu mais de 4 vezes percentualmente que a inflação do ano.

Mesmo considerando que este ano, a safra brasileira do grão deve chegar a 5,7 milhões de toneladas, contra 4,2 milhões de 2012. Ainda assim, o câmbio deve pressionar os preços, já que o trigo é cotado em dólar, e o Brasil é exportador. Isso acontece porque nem todo o trigo tem qualidade para ser usado na produção de pão. Boa parte é destinada à fabricação de massas e biscoitos e, como não há demanda suficiente parte é direcionada ao mercado externo.

Estou confuso... Humanizaram o super-homem, compramos trigo cotado em dólar e em algumas cidades as passagens baixaram de preço. Mas em Floripa com o  segundo maior custo de vida do país, ainda não se fala e reduções de valores no transporte público.

Esse é o momento de nos perguntarmos: Será que meu cachorro, o quente claro, também vai aumentar? Depende. A resposta é sim se ele for um hot-dog, pois o dólar subiu. Não se ele for um cachorro-frio, pois o gás também subiu, mesmo o Brasil sendo auto suficiente em petróleo. Pra quem não gosta de matemático está ficando complicada a coisa.

A cultura nacional sempre e historicamente desvalorizada receberá em alguns meses uma ajudinha, com o vale-cultura. Que ninguém sabe ao certo como funcionará. Mas cadê o vale-pãozinho? Pois se a política era tradicionalmente pão e circo? Será que só um dos itens nos bastará?

Tudo está muito louco. Se exporta petróleo e se impota gasolina. Se exporta trigo de má qualidade e se importa outro dito melhor, mas cotado em dólar. Se criará um vale para consumir-se cultura de 50 mangos, mas um show hoje mesmo com patrocínio de órgãos públicos ultrapassam esse valor.

Tenho sono, mas tenho TOC e tenho medo de dormir... Confuso! Quero casar, mas casamento está fora de moda e não tenho com quem, ainda caso tivesse teria de fazê-lo em outro país. Confuso! Um não fumante é atingido por um cinzeiro. Confuso! Salário de parlamentares ultrapassam o  valor de países de primeiro mundo. Confuso! Quero um cachorro, mas sou muito irresponsável para cuidar de um...

Esperemos o papa, para ver se ele vai reclamar do preço da Ostia e que na Comissão da Verdade do Congresso tenhamos os agentes e ex-agentes que praticaram torturas durante o estado de exceção criado pelo governo militar. O momento é retrô, nas idéias e nos ícones. E que não nos deixeis ficar sem o pão e livrai-nos do mal, da utilização de aviões da FAB por políticos do mal, amém.

segunda-feira, agosto 10, 2015

Estou a Perceber

(Poema de Nando Schweitzer)
Felicidade o que é?
Feliz quem o é?
Eu, sim, sou eu
A felicidade te tira o sono, te tira a fome
Nunca te sentistes assim?
Eu, sim, eu sou
A exacerbação de endorfinas, serotoninas e dopaminas correm em mim agora
Meu corpo, meu sangue, minhas pupilas, minha alma
Cores, sabores, fulgores, odores...
Traços perfeitos a se disfarçarem de imperfeições
A felicidade é para poucos
A felicidade as vezes ali está e não percebemos
Em tons pasteis é a felicidade, pois não satura
Estou a percebê-la. Percebes?
Estou a desfrutá-la. Percebes?
Estou
Tanto, e muito, que esse muito é meu tanto
Tanto e tanto, muito, sois mais
Nem quero mais, nem quero nada
Nem quero tudo, nem quero estrada
Nem quero ir, nem
Nem quero mais morrer, nem
Nem quero quem, nem o bem, nem
Nem quero nada a mais que dormir
Depois de 42 horas de insonia boa
Daquelas que não dormes porque não podes
Não podes porque não queres
Não queres porque estás a perceber
Percebes?
Feliz, eu?
Peregrino de mim mesmo
Corredor sem janelas
Observador paciente
Paciente sem enfermidade
Curandeiro da alma
Terapeuta do riso
Deixe-me, apenas sem me deixar
Fique-me, apenas
Percebes?
Feliz?
Eu, eu, eu, eu,
Mais, muito, e mais...