terça-feira, maio 27, 2008

Paradas Do Orgulho Gay?

A Ditadura da Diversidade – Antes Cuba do que nós!
Fernando Schweitzer, Florianópolis-SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista


A parada gay de São Paulo que acontece no próximo domingo (25/05), é a maior prova de que preconceito e capitalismo, que sempre foi normatizador e pasteurizador da sociedade, hoje podem ser aliados. Aos alienados de plantão vai o dado, sobre a 1ª "Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas e Travestis", como denominada à época, foi fruto do trabalho dos grupos CORSA, Núcleo de Gays e Lésbicas do PT de São Paulo, Caheusp, Etc. e Tal, APTA (Associação para Prevenção e Tratamento da Aids), AnarcoPunks e Núcleo GLTT do PSTU. Com o mote: Somos muitos, estamos em todas as profissões, reunira 2 mil pessoas.
Me perguntariam muitos reacionários: Que grande coisa importante um bando de pervertidos em passeata pelo centro degrade de São Paulo, não? Talvez, mas não esqueçamos que eram meados de 1997, e estamos em um país que até hoje não respeita a Constituição em suas diretrizes mais básicas, cito para não me alongar:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
Diga-me qual destes 5 itens de 78 do Art. 5° da constituição não são desrespeitados e o quão cada um dos quase 200 milhões de cidadães do país não são contemplados dos benefícios constitucionais de nossa ilustríssima Constituição? Quem dirá os excluídos sociais, os homossexuais que dentre eles já tem vários nichos uns menos e outros mais discriminados: Do Pseudo-Hétero ( que não se assume para si próprio, pelo medo óbvio de viver sua plena sexualidade, pois tem medo de ser posto a esmo como um refugo social ), a Travesti ( que as vezes parece mais mulher do que as de nascença ).
As paradas hoje além de terem apoio político oficial como no edital do MINC ,que trata do apoio as paradas conta com recursos no valor total de R$ 810 mil, dos quais serão repassados às instituições selecionadas até R$ 30 mil por meio de convênio. Serão selecionados até 27 projetos culturais, sendo apenas um projeto por estado e no Distrito Federal.
Elas são uma fonte de renda para empresários capitalistas e preconceituosos, que em nome do lucro abrem um dia ou no caso de paradas maiores como a de São Paulo que na 10ªedição em 17/06/2006, com a presença de 3 milhões de pessoas usou o tema "Homofobia é crime! Diretos sexuais são direitos humanos".
A APOGLBT SP, associação da categoria, se propôs denunciar as violações aos Direitos Humanos, e incentivar uma série de ações pela aprovação de legislação contra a homofobia no cenário nacional, em especial o projeto de lei 5003/2001, de autoria da Deputada Federal Iara Bernardi, e por políticas públicas que visem o controle e a erradicação da homofobia no Brasil. Apesar das dificuldades envolvendo a autorização para realização da Parada, a Av. Paulista, e as restrições impostas por um "Termo de Ajuste de Conduta" que limitava horário, impedia montagem de palco, exigia até que a limpeza das vias públicas fosse feita pela organização e impunha penalidades, tivemos novamente a maior Parada do mundo.
O mercado de publicações específicas crêem que a 11ª Parada de São Paulo vai servir para alavancar a concorrência entre as publicações voltadas ao público Gls. Na próxima semana, chegam as bancas a revista DOM e a Junior. A revista Aimé, mais recente do gênero, já está a venda, embora os leitores precisem gastar sola do sapato para achá-la. Até a conservadora Folha de São Paulo hoje possui um caderno GLS, que nada mais é do que um guia comercial de baladas e com anunciantes de pagina. Ou seja, se a demanda publicitária, o capital que se gera é bem vindo.
Mas a “nova Cuba” teve essa semana no Dia Mundial contra a Homofobia e liderado por Mariela Castro Espín, filha do atual presidente da ilha, Raúl Castro, com bastante improviso sim, mas teve sua 1ª parada no último sábado (17/05), com shows de transformistas e palestras. Seria chocante pensar que em Havana isso poderia ocorrer com autorização oficial e imprensa livre para cobrir o evento. Mariela, 46 anos, é a diretora do Centro Nacional de Educação Sexual (CENESEX), há anos desenvolve na ilha com seu grupo, a questão da diversidade sexual, além de ser ativista ela também é educadora sexual com nove livros publicados.
O slogan "Diversidade é a regra", foi exibido em horário nobre o premiado "O segredo de Brokeback Mountain", além da exibição do filme foi também anunciado um cineclube mensal com produções cuja temática será gay. Sob a regra da diversidade os cubanos tentam esquecer o passado homofóbico com histórias de gays expulsos e torturados.
E as coisas estão mudadas mesmo na ilha. E as vezes creio que Cuba muda mais que o resto do mundo desde “La Revolucíon”, que as demais pátrias. Para se ter uma idéia o presidente do Parlamento, Ricardo Alarcón, de 76 anos, discursou durante o evento de sábado e disse ser necessário erradicar a homofobia, que este é um ato solidário e faz parte do socialismo. Quem diria não?
Para os grupos cubanos que lutam em prol da diversidade sexual a presença de Alarcón é importante, pois um dos projetos que tramita na assembléia, é fazer com que os homossexuais tenham o direito de união civil. Em seu discurso o parlamentar afirmou que eles estudam o projeto.
Muito além do que se imaginariam os maiores críticos do país de Fidel, houve um ato pra lá de revolucionário, onde transformistas encerraram a parada cubana com um show no teatro Astral, espaço histórico da revolução cubana. Atrás delas a bandeira de Cuba fazia o cenário. Será que teremos antes em Cuba o casamentos entre pessoas do mesmo gênero que aqui ou no dito “país da liberdade”?
A questão que implica tanta exposição destes que se fazem ou são feitos parte deste gueto sócio econômico, é benéfica? Se é, deveríamos perguntar para quem. Quem ganha com a maior Parada do Orgulho Gay do Mundo? A rede hoteleira, as mídias jornalísticas com o seu espetáculo da noticioso, que já não tem mais o que falar sobre a pobre menina assassinada? Ou os homossexuais que são possíveis futuras vítimas de crimes por homofobia? Será que não chegou a hora de sermos um pouco menos eu, e sermos um pouco mais nós? Essa ladainha de que todos seremos um dia iguais está tão longe de ser alcançada, quanto um de nós ganhar na loteria. A retórica muda, mas os objetivos são os mesmos. E nós? “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

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