quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O Secredo dos Seus Olhos

 Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista



A história é baseada em novela policial do escritor Eduardo Sacheri. O diretor afirma "O que mais me atraiu no enredo foi que se trata de uma obra de gênero, mas que não tem os condimentos clássicos deste. Os personagens são quotidianos, fáceis de se acreditar". Os resultados foram expressivos. "O Segredo dos Seus Olhos" do cineasta Juan José Campanella levou mais de 2,5 milhões de pessoas aos cinemas na Argentina, tornando-se o segundo filme mais visto ali nos últimos 35 anos. Acaba de ser premiado no Goya espanhol e está entre os indicados ao Oscar de filme estrangeiro.

Pensar um público de 2,5 milhões de espectadores no cinema a um filme não americano/hollywoodiano no Brasil é algo absurdo, pouquíssimos filmes nacionais atingem mais de 1 milhão. Nem o filme sobre a vida do "popular" presidente o fez, mesmo com milhões do dinheiro público investido. Salve películas estreladas por atores globais, as mesmas que são as únicas exibidas na TV, na Sessão Brasil, as madrugadas de segunda na TV Globo. esta sendo a única exibição de filmes nacionais durante a semana "farta" de opções da TV aberta brasileira.

Mas temos de nos aprofundar um pouco na sócio-cultura do país sócio do Mercosul e que compartilha fronteira por dois estados ao sul com o Brasil, além de um pedacinho do Paraná à cidade de Foz do Iguaçú.
Andando de metrô em Buenos Aires o carro chefe dos ambulantes na venda de DVDs é justamente o filme que é entoado, lá, com extrema naturalidade: "El Secreto de Tus Ojos, la película del año. Para ver en tu casa... y otras películas para tu elección".

O filme do argentino Juan José Campanella, já com título em português, "O segredo dos seus olhos" e o peruano "La teta asustada" foram indicados ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro na 82ª edição do prêmio da "Academia de Hollywood". Os filmes latinos são maioria nesta edição na categoria de filme estrangeiro do prêmio. Disputarão a estatueta com as produções latinas "A fita branca", da Alemanha; , e "Ajami", de Israel e também latino "Un Prophète", da França. Sendo assim 3 latinos, um germânico e um israelita.

Sinopse - A Argentina entrava num ciclo de extrema violência política e a investigação colocou em risco sua vida. Ao escavar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe, assim como decisões e equívocos passados. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida. A personagem protagonista após trabalhar a vida toda em um Tribunal Penal, Benjamín Espósito se aposenta. Seu tempo livre o permite realizar um sonho longamente postergado: escrever um romance baseado num acontecimento que vivera anos antes. Em 1974, foi encarregado de investigar um violento assassinato.

Ao contrário do que ocorre no mercado brasileiro, no país portenho existe um retraído nas ultimas décadas, grnde mercado consumidor de cinema nacional. Ao entrevistar no Festival Audiovisual do Mercosul em Florianópolis ao cineasta argentino Hugo Grosso(A Cada Lado), tive a afirmativa indignada do mesmo, ao dizer que apenas 10% em média do público argentino em salas de cinema prestigia o cinema nacional. 


Talvez esse postura aguerrida e "peleadora" dos hermanos faça a diferença em um mercado homogeneizado e pasteurizado como o da Indústria Cultural. Do lado de cá do Rio de La Plata temos uma postura de abnegação e subserviência sócio cultural, que demonstra nossa baixo auto estima talvez herdada dos patrícios lusitanos que até a pouco não faziam parte da União Européia. Que apesar de sua entrada oficial em 1986, em vias de fato tardou, sendo por muito tempo taxada de quintal da Europa pois tinha várias restrições de suas vizinhas e ricas nações nórdicas européias.


O nosso sempre é ruim, o de fora sempre é melhor. Esse é o discurso é o mesmo aqui ou na sede da colônia. O bom é o que vem do dito primeiro mundo. É dizer, nós somos incapazes de produzir filmes de qualidade. Esse mote que vem desenrolando-se através de forte discurso ideológico desde a ditadura e perpetrou ao poucos a extinção dos cinemas de bairro e dos filmes nacionais nas salas de cinema desde a década de 70 e perdurou nas décadas seguintes. O discurso repetido se tornou uma dura realidade para os produtores brasileiros. 

Dentro desta perspectiva cada vez se tornou mais difícil produzir cine-arte no Brasil, o que restou foi o independente, que só passaria a ser assistido por grandes públicos depois de furar a peneira dos festivais de cinema mundial. Grande exemplo é "Pixote" que só fora assistido em larga escala após os prêmios ganhos no exterior:  Globo de Ouro 1982 (EUA) Indicado na categoria de melhor filme estrangeiro; Festival de Locarno 1981 (Suíça), onde o diretor Babenco recebeu o Leopardo de Prata; Festival de San Sebastian 1981 (Espanha) com o Prêmio OCIC e a consagração Prêmio NYFCC 1981 (New York Film Critics Circle Awards, EUA) vencendo na categoria de melhor filme estrangeiro.

Aqui no Brasil a coisa é complicada, já que temos nas locadoras dois tipos de filmes. Todos os americanos, subdivididos em gêneros e ocupando 90% da locadora e "Outras Línguas" que incluem geralmente filmes não americanos rodados em Inglês (como na: Inglaterra, Índia, Israel e Canadá). Dentro desta categoria de filmes as vezes estão os brasileiros, senão em uma prateleira misturada a DVDs de músicas e jogos. Sinceramente não posso crer que os demais países dentre os 203 reconhecidos pelas Nações Unidas não possa preencher mais que uma prateleira de filmes. Apenas os de Bollywooda maior indústria de cinema indiana, em termos de lucros e popularidade a nível nacional e internacional e númericamente a maior produtora de títulos no mundo. O nome Bollywood surgiu da fusão de Bombaim (antigo nome de Mumbai, cidade onde se concentra esta indústria), e de Hollywood (nome dado à indústria cinematográfica americana).

"El Secreto de sus Ojos" vem servir-nos de exemplo de que cinema engajado, de baixo orçamento e de qualidade é possível. Pois mesmo contando com diversos apoios as cifras de produção são menos de 5% de um filme Hollywoodiano. Outra coisa que por aqui não ocorre, apoio a filmes nacionais, como regra e não como excepção. O segredo de seus olhos contou com apoios múltiplos além do investimento dos próprios produtores, formando uma grande parceria entre:Haddock Films, Tornasol Films, 100 Bares, Telefe. Ainda com apoio do: ICAA, INCAA, Cine Argentino, Ministerio de Cultura de España.

 O filme argentino pode ganhar o Oscar, mas seria somente uma subida de status internacional e aumento de salkas de cinema que aceitem sua exibição. Todavia prêmios não lhe faltam. O filme estreou em seu país nativo em 13 de agosto de 2009.E além de sucesso de público, de cheio atingiu a critica internacional. Foram ganhas 5 categorias no Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana (Dirtetor, Melhor Ator, Melhor Música Original, Prêmio especial do Juri e Prêmio do Público), e 2 categorias do Prêmio Goya, na Espanha(Atriz Revelação e Melhor filme de Língua Espanhola). E aguardando o veredicto da Academia de Hollywood. Espero que finalmente um bom filme receba um prêmio da mesma, que tem tal qual os que amam o genêro Bluck Buster um gosto muito duvidoso.


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

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