sexta-feira, fevereiro 26, 2010

"Canção contra as Não-Canções"

 Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista


O conceito "música de protesto" saiu de moda? Digna afirmacao de Raimundo Fagner. Está no Caderno Ilustrada da Folha de Sao Paulo de 26 de Fevereiro de 2010. Ele segue em sua cólera "Esse discurso ficou datado. Poucas vezes eu fui censurado nem por isso sou um alienado. Por formação, uso a arte na forma de música romântica." Esses lampejos de lucidez em princípio me causaram estranheza, agora reflexao, ou apenas angustia.

Não fiquei embasbacado pelas afirmativas em si que são salutares e devem ser repetidas no cucuruto da nação, se é que nação, para ver se o povo neste país acorda. ( Estava falando, ou escrevendo em voz alta )

A matéria discorre por um campo perigoso, não falar bem de um "our concur", algo impossível ou de não bom tom. Ainda bem que as frases e colocações não são minhas e sim do nosso mártir cearense. "Caetano está fazendo um show experimental, do disco novo. Fazer show experimental usando lei é uma mamata. Mas esse pessoal aí só vive de lei. Desde que botaram o ministro lá, usam lei adoidado. É o que eu chamo de "uma mão suja a outra"."

O desmazelo da arte, ou produção artística, é algo que vem se acentuando no Brasil. Em capitais não centrais e cidades de interior as máfias culturais são um verdadeiro monopólio artístico com verbas públicas. Além de concentrarem as autorizações e aval das instituições responsáveis em dar os tais selos de aprovação ao ditos projectos culturais. Estes são os únicos a usufruírem das leis Roaunet e de incentivo a cultura.

Que esteja transparente e não apenas claro que ninguém quer que se diminuam as verbas para a arte. Só conclama-se publicamente que quem defina e manuseie esta bufunfa pública sejam pessoas, que realmente produzam arte além do mais e necessitem de patrocínio. É escandaloso que grupos de cargos políticos estejam além de comandando as instituições sejam Secretarias, e ou, Fundações Culturais sendo os beneficiados das políticas das mesmas.

Na entrevista via telefone o rapaz do famoso "Mucuripe" defende que artistas consagrados como ele não deveriam usar esse tipo de recurso, pois estariam tirando o benefício dos novatos, que poderiam precisar mais. Pena que poucos dos grandes pensem assim. Me fazendo lembrar do "paitrocínio" de 500mil reais pelo governo de Santa Catarina a um espetáculo de Vera Fischer, do qual a filha do governador do estado estava no elenco.  Tal qual qualquer espetáculo com ícones globais que sempre recebem patrocínio bilhardários de ordem pública e privada.

O "cantautor" resolve revelar, perdoem-me o infame trocadilho, seu momento de revelação ou seria iluminação? Quanto ao como agradar o público, e que pode revelar um algo mais. Como o público pensa ou assimila a cultura de massa. Fagner conta que, na virada para os anos 80, encontrou-se com Roberto Carlos em Miami e foi puxado para um canto, e o "rei" lhe indagou: "Bicho, suas músicas são boas, mas quando é que você vai cantar para o povão?".

Segundo a matéria "a pergunta ecoou em sua cabeça como um sino de igreja. "O que fiz [a partir de então] foi baixar um pouquinho a qualidade. Diminuir um pouquinho a intensidade da inteligência", disse a publicação. "Para o grande público não precisa inteligência demais. E ficar todo o tempo cantando só para público cabeça cansa, cai o cabelo." Ainda agregou "Se você tem capacidade, consegue fazer para os dois [tipos de público]."

Esse calhamaço de informações controversas ao subconsciente coletivo pode causar nos novos artistas uma crise forte de identidade. Pois, quando não se é famoso pensa-se que é devido a não ser um "merecedor, ou não ter ainda qualidade o suficiente para obter reconhecimento de seu hipotético talento. Mas antes disso o senhor Raimundo nos salva do possível censo comum do quanto pior melhor, afirmando que: "Tem artista famoso que se sustenta há anos na parada de sucesso por causa de produção, tecnologia, modernidade, uma série de outras coisas. Mas voz que é bom você não identifica."

O mesmo senhor que disse tudo isso é o que delata que "o conceito "música de protesto" saiu de moda". Talvez ele não tenha pensado em transformar todas essas suas afirmações em canção. Teríamos então um novo estilo de canção, o protesto as "não-canções", através claro de uma canção de protesto. Assim nasceria um novo estilo musical: "Canção contra as Não-Canções" ou CCNC para os mais íntimos, claro!


 Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista 

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