Entrevista Exclusiva: Entre a Rosa Vermelha e a Moeda Verde
Ângela Albino fala de comunismo e sociedade
Ângela Albino, 38 anos. Foi à única vereadora mulher eleita em 2004, na ultima legislatura em Florianópolis, pelo PCdoB, Partido Comunista do Brasil. Apontada em pesquisas prévias como possível candidata de uma articulação de esquerda ela me concedeu em seu gabinete entrevista onde abordamos vários temas. Da moeda verde a bandeira vermelha. Relatora do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Vereadores de Florianópolis. Onde Marcílio Ávila, vereador licenciado e ex-presidente da Santa Catarina Turismo (Santur), é um dos indiciados na Operação Moeda Verde. Como seu próprio blog afirma, estar de portas abertas, assim fui recebido. Após cordialidades e cumprimentos sentamos e de início disparei a primeira pergunta.
Fernando Schweitzer - Como você prefere ser chamada: Vereadora, Ângela ou Prefeita?
Ângela Albino - ( Risos ) Ângela eu vou ser sempre... Vereadora acaba em 2009. E prefeita tem-se uma construção a fazer. A pior parte é quando me chamam de senhora... Por que de um dia pra outro virei senhora. Espero que seja só uma convenção. ( Mais risos )
Fernando Schweitzer – Quanto as afirmações do vereador Marcílio Ávila em alguns jornais sobre um possível caixa dois em sua campanha a deputada na ultima eleição. O que você pode declarar?
Ângela Albino – Nós sempre tivemos uma relação muito produtiva na câmara. Acredito que devido e também ao fato de eu ter sido designada relatora do processo de cassação dele, que poderia haver uma facilitação da minha parte. Ele ficou indignado. E então apareceram essas denúncias da parte dele, somente depois que eu fiz o parecer que culminou na cassação dele. Esse processo foi o próprio juíz quem fez a abertura, encaminhando os elementos para que fossem tomadas medidas administrativas.
Fernando Schweitzer – E como surgiu o processo para a cassação que ocorreu?
Ângela Albino – Foi levado a comissão de ética. O presidente da comissão me designou relatora, e foi aprovado por unanimidade no Conselho de Ética.
Fernando Schweitzer – E quanto ao caixa dois na ultima eleição?
Ângela Albino – Até hoje estamos atolados... - O que ressalta com um gesto. - E essa denúncia não ocorreu na justiça eleitoral. A notícia que nós temos é que foi feito uma folha. E é isso... Uma interessante discussão a se fazer, para a mídia é também o fato de ele hoje estar sendo investigado pela Polícia Federal por formação de quadrilha. Chama uma coletiva, diz que eu sou azul e fica o dito pelo não dito.
Fernando Schweitzer – E como fica a retratação?
Ângela Albino – Nós já entramos com um processo pedindo a retratação pública quanto a isso.
Fernando Schweitzer – Entramos nesta polêmica, e não fugindo dela, mas ampliando a perspectiva pois queremos descobrir mais você e não somente suas ações. Como é ser e estar em um partido comunista hoje, em um momento onde sociólogos e grandes semanários trazem matérias e estudiosos dizem que o Socialismo acabou, e que é algo segundo esses artigos que não deu certo?
Ângela Albino – Eu não estaria em outro partido. Algumas pessoas diziam durante a campanha a deputada que eu era maior que o partido e tal. Mas eu só estou na política por causa do partido. Eu não tenho uma aspiração pessoa de ter um mandato, pra mim é uma tarefa. E ser comunista pra mim é o único sentido de estar aqui. E quanto a essa questão de o socialismo ser página virada e não deu certo, o capitalismo não deu certo. Nós criamos com o capitalismo uma multidão de marginais, nós destruímos o meio ambiente, nós matamos as pessoas pelo fator de desigualdade social, então o capitalismo não deu certo. O socialismo a gente não viveu ainda.
Fernando Schweitzer – E em alguma parte do mundo ele já realmente foi aplicado?
Ângela Albino – Nós temos experiências de socialismo real. Na União Soviética, em Cuba, na China onde se está em um processo e discussão. O que reafirma que se trilha um caminho. É algo que tirou milhões da miséria. A China deu uma das maiores contribuições no mundo de retirada de pessoas do patamar de abaixo da linha da miséria. O que mostra que o socialismo pode dar certo.
Fernando Schweitzer - E o que deu errado?
Ângela Albino – O que eu acho que deu errado é pensar que um explorar o outro, pode dar certo em algum lugar. E a tendência do capitalismo é a concentração. E se já há poucos recursos pra todo mundo e você ainda concentrar.
Fernando Schweitzer – E o exemplo de Cuba como você vê?
Ângela Albino – Cuba é um país 98% da população é alfabetizada e tem-se acesso a saúde. Eu acho isso mais saudável que outras diferentes experiências. Principalmente se a gente pega a situação em que Cuba estava antes, o que muita gente esquece.
Fernando Schweitzer - E o capitalismo não tem bons exemplos também?
Ângela Albino – O capitalismo tem 400 anos. Nós temos 70 de socialismo como experiência. Ainda considerando que Cuba vive um arrocho econômico que a maioria dos países não suportaria. Pela mais pura crença no socialismo. Por saber que antes da revolução, havia a riquesa de uns poucos e a plena pobreza de muitos. E interessante pensar que a geração de 15, 20 anos não viveu o antes será que irão entender o quão importante foi a revolução?
Fernando Schweitzer – É como quando os mais velhos dizem: Você fala isso por que você não viveu?
Ângela Albino – Hoje por exemplo quando alguém diz: Tem que fechar o Congresso Nacional! Quem fala isso não viveu um período na história de cerceamento de liberdade. Que tem que arrumar, tem que arrumar...
Fernando Schweitzer – E após a primeira eleição em 1989 desta fase no Brasil, após a antecessora em 1961, você pensa como o nosso processo eleitoral?
Ângela Albino – Muito deficitário, primeiro porque é uma democracia representativa. Vai lá de dois em dois anos, vota num sujeito, nunca mais se quer saber o que foi feito. Quais foram seus projetos. O que ele defende. De que lado ele esta. E não se busca uma democracia participativa onde nós cidadão busquemos saber o que esta acontecendo.
Fernando Schweitzer – Você trás no seu material de gabinete uma coluna chamada é lei. Eu quero destacar alei aprovando o Parque da Luz como área de preservação. Por que e como foi esse processo de aprovação e tramitação desta lei?
Ângela Albino – Aquele é um espaço público, que já foi o 1° cemitério da cidade, onde no séc XVII, os “bons homens” da cidade eram enterrados. E anterior a isso o costume era se emparedá-los nas igrejas, e quando surge uma lei proibindo devido a surtos de doença, surge o cemitério neste local. A anos atrás ali se tornou uma áreas de depósitos da Secretaria de Obras. E ao mesmo tempo com a Avenida Beiramar, a área foi se tornando mais valorizada já temos a construção de 3 prédios nesta área.
Fernando Schweitzer – E qual a alteração que se propõe?
Ângela Albino – Antes se tinha naquela área o zoneamento de 2 ruas dentro daquele terreno, e uma área de convívio ou institucional. Onde a prefeitura no dia 5 de junho, Dia Mundial dom Meio Ambiente, teve uma idéia genial no meio de um evento no Parque da Luz. Construir uma nova sede da Prefeitura ou na cabeceira da ponte ou no outro extremo do parque. Com a idéia de que se iria construir só em uma parte e o resto preservar. Quando na verdade iria tudo se tornar um “grande” estacionamento. - O termo fora mais forte, mas a pedido da entrevistada está amenizado.
Ângela cita Veríssimo e um conto que fala que certos momentos só podem ser retratados com certas palavras, para que não se perca o sentido semântico das colocação feitas. Ainda se retratando.
Fernando Schweitzer – E com a aprovação desta lei como você se sentiu?
Ângela Albino – Eu até comentei com um amigo. Que se o mandato acabasse naquele dia, eu estaria realizada. Pois agora definitivamente não se pode construir nada na área que ainda restou. E está para sempre garantida a ultima área verde de convivência urbana na capital.
Fernando Schweitzer – E agora como um parque aprovado em lei, o que na prática muda?
Ângela Albino – O primeiro passo foi dado transformando em área verde definitivamente. O que agora deverá ser feito é a inclusão de trilhas, iluminação, brinquedos para as crianças, manutenção dos jardins.
Fernando Schweitzer – Você tem alguns outros projetos importantes aprovados na casa. E também interagido muito com as frentes parlamentares. Isso tem facilitado os projetos de cunho social como a Semana Municipal da Cultura Negra?
Ângela Albino – Nós ainda temos um nó, que é a participação popular muito acanhada. Tem-se um movimento social por um lado bem desenvolvido. E por outro uma imensa maioria que não participa da vida política da cidade. Outro dia estava num bairro de classe média alta, e as pessoas não sabiam sobre os acontecimentos da CPI da Moeda Verde. As pessoas diziam: Ah é!? Mas casaram? É mesmo uma contradição.
Fernando Schweitzer – Agora você falando de sociedade, me veio uma pergunta um pouco fora do contexto. Você acha que as conversas de bares hoje são menos politizadas do que eram a 20 anos atrás?
Ângela Albino – Com certeza. ( Sorri ) Essa semana em especial não por que tá todo mundo falando da Moeda Verde, com o fato novo da cassação... Mas no geral a gente passa por um período que é reflexo de uma construção. Nós vivemos 20 anos de Regime Militar. E nossos pais se formaram enquanto pessoas nesse período. Eles aprenderam a calar sobre política e a gente aprendeu a naturalizar o calar sobre. E aí muitos de nós não compreende o processo político. Se eu to bem o resto que se... E assim vai se construindo uma apatia.
Fernando Schweitzer – E quanto a polêmica em torno do projeto, cujo a câmara aprovou em segunda votação na segunda-feira (8/10) o PL 12.305/2007, que institui a data 17 de maio, como dia contra homofobia? Como a câmara reagiu, se reagiu ao projeto no inicio?
Ângela Albino – Foi feito o projeto com a maior correção semântica. Dia de Combate a Homofobia, lesbofobia e transfobia. Foi tão engraçado, pois tinha um vereador que não tinha a menor idéia do que era transfobia. Lesbofobia ainda tinha uma vaga idéia. A gente tomou ainda um cuidado de não se segmentar a discussão, pois é uma luta em comum, de vivência plena ao direito da vida. Eu entrei nessa discussão via movimento de mulheres. Por que existem várias exclusões: Das mulheres na sociedade em geral, das mulheres negras q são mais excluídas, por serem estas 2 coisas. As heterossexuais em relação as lésbicas tem posições sociais diferenciadas. E nós precisamos saber fazer esses recortes. E também não pensar que mulher é só aquela que passeia na Beira Mar. E esquecer a menina com 4 filhos na favela. São construções políticas diferentes que se deve fazer.
Fernando Schweitzer – E o projeto já está em vigor?
Ângela Albino – Não. Esse projeto de lei que regulamente o que ocorre exatamente nos casos crime, está em tramitação com uma imensa dificuldade.
Fernando Schweitzer – E isso devido ao que exatamente?
Ângela Albino – Nós temos um padrão do poder no país que é o homem, branco, heterossexual, com dinheiro e com 40 anos. Tudo que sair desse padrão, ou seja 98%, não está representado. Então há uma dificuldade de compreensão sobre esses temas. Me tomando por exemplo, sou a 7ª mulher vereadora eleita em Florianópolis. Nós nunca tivemos alguém do movimento GLBT aqui dentro.
Fernando Schweitzer – Tratamos de nichos a pouco. Como é pra você além de mulher, a única, ser comunista, e ter tantos projetos num cunho mais social? Como você é vista?
Ângela Albino – Eu acho Fernando que entra na dificuldade geral das mulheres. E agrega o do Comunista. Um poeta da década de 20, dizia que um comunista tem de ser melhor que os outras para adquirir um emprego. E nós mulheres vivemos um pouco isso.
Fernando Schweitzer – Pra tentarmos finalizar. O que você perguntaria para você mesma?
Após abrir um sorriso, baixar a cabeça e por a mão a testa responde.
Ângela Albino – Quando você vai tirar férias? ( Risos ) O que mais me espanta é conciliar tudo isso com ser mãe. Trabalhar 18 horas por dia e ter que chegar zerada, ver como o filho da na escola, escutar sobre as brigas com a namorada. Dar a maior atenção do mundo depois de passar o dia falando das quadrilhas, e o projeto de lei que não aprovou... É a parte mais difícil de um lado e a que mais me deixa viva.
Fernando Schweitzer – Reformulando. Qual a pergunta que você queria que te fizessem?
Ângela Albino – Depois do divisor de águas para cidade que á a Moeda Verde, a pergunta que fica é: Qual será a cidade após a Moeda Verde? É a pergunta mais importante pra se fazer agora.
Fernando Schweitzer – Aproveitando sua pergunta. Qual será a cidade que virá após a Moeda Verde?
Ângela Albino – Espero que seja uma cidade com mais participação popular. Em que o empreendedor sério entre pela porta da frente da Prefeitura e pela legalidade. E que a gente se dê conta de vez que na cidade vai ter de ter espaço para todo mundo, para rico, para pobre, para negro, para branco, para homens, para mulheres, para héteros, não héteros... Que a gente tem que aprender a construir uma cidade mais moderna.
Por Fernando Schweitzer
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Unhas pintadas é coisa só de mulher, não é mesmo? Se você que disse sim prepare-se para ver que isto é puro preconceito e conservadorismo....
3 comentários:
CAÇASSÃO foi muito pra cabeça...
Grato anônimo pelo aviso de ambigüidade fonética em nosso portal. Estará corrigido em menos de 27 segundos.
Agradecemos por usar nosso novo sistema de correção ortográfica on-line. Isto ajuda a nossos leitores que além de compreender o conteúdo sabem usar esta ferramenta!
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