terça-feira, junho 05, 2018

O Dia C: Hoje me assumo Capitalista!

Realmente, durante minha já larga trajetória no jornalismo crítico me dei ao luxo de escrever artigos infindos a cada semana sem ganhar um peso. Palestrei para muitos sem receber um vintém. Repercuti, fui reproduzido e copiado por vários sem jamais protestar ou processar ninguém. Sempre acreditei que a mensagem, o argumento defendido, as ideias fossem o cerne primordial do ato jornalistico. Este blog mesmo é comprovante e arquivo pessoal de tudo que já produzi desde 2007 quando me atrevi a ingressar nesta rota de colisão, a carreira jornalística.

Se um se der ao trabalho de analisar a periodicidade de publicações minha aqui neste veículo, notará que brochei e minha volúpia se esvaio com o passar do tempo, quanto ao jornalismo.

Domingo via uma mulher no programa do tio Sílvio a discursar que ela sempre daria prioridade a fazer o que ela gosta e tal, entretanto ao ser inquirida se na profissão de seus sonhos lhe oferecessem R$ 1.000,00 mensais e se para ser recepcionista lhe oferecessem R$ 5.000,00, qual seria sua escolha... A idealista não titubeou e disse: "Partiu pra recepção!". Esta por alguns segundos foi como eu fora por anos.

Em algum momento do passado eu abandonei uma montagem de teatro infantil da qual faria um vilão em um musical, aonde fui selecionado, para seguir focado em uma montagem própria que nunca conseguiu público relevante em Florianópolis e após o feito o outro ator abandonou a montagem e minha companhia teatral pouco depois. O espetáculo teve uma experiência dois anos após em São Paulo com outro ator e um certo público, mas ainda assim o lucro líquido não atingira a um mísero salário mínimo.

Até então poucas vezes trabalhei vinculado a empresas, mas quando o fiz tive largo período com os mesmos. A coerência sempre foi o bastião deste profissional da comunicação que aqui vos fala. nunca pensei que este seria o meu algoz. 

Por nunca ter sido raso, ou mesmo superficial, jamais fui convocado para grandes veículos. No submundo dos meios de comunicação tentei sobreviver, mas quando sequer os pouquíssimos que reconhecem algo de apreciável em meus artigos e em tudo que eu produzira fui sublevado a uma reflexão. Seguir pobre, sincero e sem fama não paga os boletos, não gera renda, nem tampouco me permitem comprar o mínimo que a crise e a carestia me fazem ter plena certeza de que jamais possuirei.

Resultado de imaxes para nando schweitzerÉ lindo ter a consciência tranquila ao recostar-se no travesseiro? É!!! Obviamente, isto não gera o menor exitamento. Doravante, tampouco me permitem ter um carro zero e preferencialmente elétrico para não depender de combustíveis fósseis, e não ser refém de paralisações de caminhoneiros...

Quando dou aulas particulares sequer posso pedir aos alunos que me depositem o valor em conta, pois pagar tantos e quantos mangos de taxa de manutenção está inexoravelmente fora de prisma. Sempre alguém profere cousas como: "Porque não faz no cartão?". Momentos em que minha outra profissão, a de comediante se vê ameaçada por algum ser sem registro profissional de ator como eu.

Divertido também é uma empreiteira que tem me ligado constantemente a 3 meses para me vender um apartamento ao lado de um mega empreendimento empresarial de luxo. No mundo platônico seria lindo ter um apartamento magnífico e ir trabalhar no esplendoroso complexo empresarial que até hoje só vi por propaganda na tevê, a mesma da qual fiz o teste para ganhar um cachê abaixo da tabela do sindicato e não fui aprovado por estar acima do peso devido a falta de academia por estar sem dinheiro. Falta que também me impede de fazer uma cirurgia estética. Tive de recusar a proposta, e o insistente consultor ao que me pergunta por três vezes qual a razão, lhe contestei: "Não tenho dinheiro nem para uma passagem de ônibus, quem dirá para comprar um imóvel!" e o tal ainda me pergunta se não teria alguém para indicar, então lhe disse que "meus conhecidos ou são mentirosos ou são mais pobres que eu, pois vivem a me pedir dinheiro mesmo sabendo que estou nesta vida mijado por cães!".

Certo dia gravei um vídeo "inocente" para o quadro da Rede Globo, "O Brasil que eu quero", e ainda não o vi vinculado nem rede estadual, nem local, muito menos em cadeia nacional. Isto que a postagem do mesmo no Facebook possua mais de 11 mil visualizações. Ainda que tendo seguido todos os requisitos solicitados na página do projeto da emissora carioca a mensagem desde jornalista não coube, ou não passou pelo filtro de meus colegas de profissão que se encontram do ouutro lado desta trama de relações de poder da mídia brasileira. Será pelo conteúdo?


Mas jamais desistamos, não é este o lema nacional, mesmo passando fome e sem nenhuma perspectiva de futuro siga. Já me disseram que o ideal seria se tornar algo digamos "mais como todo mundo" para assim poder infiltrar-se no meio. Eis que aí surge um grande dilema. Por um lado te pedem um diferencial para que sejas valorizado, de outro afirmam que se faz necessário se tornar apaticamente mais um na multidão para assim não causar rejeição.

Isto me calha similar ao candidato presidencial que hoje faz um discurso um tanto mais ameno e complacente para não gerar rechaço. Alias, palavra esta que quando usei anos atrás fui repelido e apontado como inventivo e de não respeitar a língua mátria esta que pouquíssimos nos meios utilizam com coesão e hoje virou modinha na discursividade e linguagem jornalística.

Tudo me gera curiosidade. Incluso a área do jornalismo e das Relações Públicas, a Assessoria de Imprensa e Comunicação. Tanto que fiz um teste empírico. Criei uma Fã Page para um jornalista do G1 similar a minha e... Esta em um mês atingiu 6 vezes o número de fãs da minha, incluso o próprio homenageado curtiu a página. O que prova então que sim sei fazer assessoria de comunicação, a questão é para quem e com que status perante a plebe.

Fato também inusitado é, pensar que uma receita de como fazer ovo cozido seja uma das mais visitadas da história deste blog. Não quero copiar a teoria da relatividade, mas posso afirmar que tudo na vida é relativisável. Não estou mais desejoso de uma fama infindável, de um reconhecimento academicista, muito menos de um relevante posto no país do carnaval, do turismo sexual e da cerveja. Longe de mim ter essa ternurosa esperança, não sou mais tão crédulo. No momento apenas sou desejoso de uma fonte de recursos que me retire dos porões desta pirâmide social capitalista e neoliberal. Sequer precisa ser em quaisquer uma das minhas três áreas de formação ou afins. Hoje é o meu dia C; Hoje me assumo Capitalista!

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