terça-feira, janeiro 14, 2014

Que tal um "rolezinho" cultural?

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


A conta-cultura hoje qual é? Porque o termo sugere uma duplicidade a qual atualmente nem a população refil e descartantemente descartável alcançaria compreender. 

Campanha da marca Benetton que usou elementos
 considerados da contra-cultura
Vejo que o isolamento mútuo entre os países da América Latina se deva muito mais a americanização do continente, que consome por status qualquer porcaria proveniente das terras do Tio Sam e recusa tudo que
não seja americano. Como se um produto que não venha do Império do Norte não tenha a possibilidade de ser algo bom. 

Essa cultura ignóbil que principalmente teve força nos anos noventa por aqui, quando se ligava em uma rádio e não se escutava nada mais que o inglês. Salve as AMs que tocavam o que na época se rotulava brega e hoje é repertório de DJs em festas cults e trashs. Por nosso continente um adolescente, e não apenas eles, sabem mais do país de Obama, que sobre os países limítrofes. O Brasil é absurdamente ignorante quanto a cultura de seus países vizinhos.

Quem é normal hoje em dia? Ataques públicos de insanidade é o que hoje mais se vê, com pessoas fugindo de pedágio pela contra mão, partidos ditos de esquerda fazendo governos de direita, enfim. Os assuntos das conversas de bar na atualidade giram apenas em torno de quem trepou com quem. Seja na novelinha ou nos reality's.

Passando-se o Oba-Oba do réveillon, das frases puritanas, cristãs e de auto ajuda no facebook, além do desejo surrealista de que a passagem de ano no calendário seria como um mágico arco-íris ao qual passando por baixo se mudaria de sexo ou ao achar o seu início encontrarias um pote de ouro, racionalizemos "Oh, animais racionais do planeta!".

Assistindo uma entrevista de Elis Regina na TV Cultura, e ela com um impensável cigarro em mãos, descalça em uma poltrona faz refletir, além do conteúdo de sua angústia esbravejada em frases contundentes... Pausa. O politicamente correto da atualidade não nos permite. O que? Nada!

O tão revolucionista e intelectual Roda-Viva, também da TV Cultura, hoje faz um jornalismo coxinha. A décadas parecia um pub irlandês separatista envolto num breu ocasionado pelos cigarros e tragos de seus boêmios entrevistadores. Viver hoje está muito comercial de margarina Becel. O Maluco Beleza de hoje seria qualquer um que fale frases inéditas, que não seja um disco riscada da norma e do status quo acefalizante. 

E pensar que o careta de outrora hoje é revolucionário, ou ao menos menos cabaço que os jovens talentos atuais, ou diria separado "ta-lento". RPM hoje não significaria "Revoluções por Minuto", se traduziria "Roupa pra Mauricinho" ou "Rezando pelos Maricas". A segunda seria uma banda psy-rocker-evangélico-batista. A primeira um grupo de Axé-funk propagada pela galera dos "rolezinhos".

Hoje seria possível algum movimento real como o que teve seu auge na década de 1960, quando teve lugar um estilo de mobilização e contestação social e utilizando novos meios de comunicação em massa? Além de pancadarias nos estádios padrão Fifa.

É fato que precisamos mudar. Mas como? Eliminando o ócio intelectual e o marasmos a improdutividade encefálica. Basta proibir futebol e carnaval por uma década.

Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o anti-social aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário... Não marginal, promíscuo e libertinoso, como os que hoje desrespeitam o próximo, ou a cidadania e humanidade.

Resumindo. Algo inédito, ou não, como uma verdadeira nova cultura. Seja nominada, rotulada como underground, cultura alternativa ou cultura marginal, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo.

Ma será que nesta sociedade atual e pasteurizada há espaço para se ser INDIVÍDUO? Será que... A vida é uma loucura travestida de normalidade e hipocrisia.


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