quarta-feira, outubro 07, 2009

SINCERANDO Falando sobre...

Clássicos Pós-Modernos

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista



O que define um clássico? No futebol seria como aquele jogo que até os não aficionados do futebol se interessam ou comentam. No teatro as obras que, mesmo que não sejam interessantes, de alguma forma criaram uma nova onda, linguagem ou parâmetro diferencial dentro da história do teatro ou da sociedade.

A Televisão é um invento relativamente novo, mesmo tomando elementos narrativos audiovisuais do cinema e do rádio, a mescla como que veio com o tempo a condensar-se e criar um bicho muito particular. A linguagem televisiva foi se consolidando a um ponto na história mundial de forma impressionante. Grande exemplo são os produtos televisivos que vão para o cinema e muitos cineastas mais ortodoxos e críticos de cinema afirmam ser uma invasão, senão apenas uma exibição de um produto televisivo em tela grande. No Brasil o fenômeno "O auto da compadecida" de Ariano Suassuna, foi ponto de controversia no meio audiovisual. Pois que, a peca teatral adaptada e exibida em formato de micro-serie pela Rede Globo, sofrendo apenas alguns cortes de edição foi lançado no circuito nacional de cinema e obteve milhões de espectadores.

Quais as "causas, motivos, razões e circunstâncias"?

Indubitavelmente um dos maiores clássicos da televisão mundial é "El Chavo del 8", conhecido no Brasil como apenas "Chaves". Hoje a série também tem sua versão desenho animado também. Chaves, já foi exibido em mais de 90 países, onde conseguiu os primeiros lugares de audiência, inclusive no Brasil onde apesar das reprises do seriado, sempre foi um ponto forte do SBT por conseguir alavancar a audiência de algum horário. Em alguns momentos, voltou a superar o também clássico Pica-Pau.

A meta-linguagem sócio cultural que é usada por Bolaños em Chaves é sutil, digamos politicamente correta para a época e talvez ainda para hoje. Chaves é o retrato da América Latina e quiças do mundo. Ao retratar um órfão, aborda indiretamente a condição de extrema pobreza, e isso em 1971, em que vivemos. As personagens todas não eram arquétipos, mas densamente bem caracterizados. Realmente verossímeis. Seja em sua construção pelos intérpretes como pelo conceito embutido em suas sinopses.

Quico e dona Florinda são o retrado da nossa classe média falida que como sardinha e arrota caviar. Seu Madruga, esse é o melhor, mostra como se pode viver sem trabalhar, ou que não se pode trabalhar para viver. É uma metáfora irônica as condições de trabalho a que o imperialismo nos coloca, aonde se trabalha não para viver, apenas sobreviver. Professor Girafales poe em uma única frase o que é ser professor em nosso território: "Eu tenho esperança no futuro, e essas crianças são o futuro...". Dona Clotilde, a bruxa, que é julgada apenas pela aparência, pode-se considerar uma crítica a ditadura descartável da beleza. Mesmo porque Angelines Fernández Abad, era considerada até a década de 60 uma das mulheres mais lindas do México, a atriz espanhola recebera também muitos prêmios como atriz dramática. Chiquinha tinha um que de menino moleque e também de pós modernidade, já uma tendência hoje de androgenia social cada vez mais comum, seguindo a linha feminista com Dona Neves, brilhante interpretações de María Anthonieta de las Nieves.

Os capítulos "perdidos"

A série exibida pelo SBT, vêm sendo reprisado até que episódios novos apareceram em 1988. Em 1990 e 1992, os últimos lotes de episódios foram comprados pelo SBT, no entanto, somente episódios até a fase entre 1979 e 1980 foram exibidos. Alguns foram exibidos apenas uma vez e/ou deixaram de ser exibidos e são chamados de episódios perdidos. O canal de Silvio Santos alega que uma enchente ocorrida em 1992 destruiu boa parte dos episódios, mas os fãs dizem que não é bem assim, já que no ano 2000 o SBT chegou a exibir alguns capítulos "perdidos". O movimento que tem um site, onde conta com um abaixo-assinado virtual para quem quiser participar desta tentativa junto ao SBT, para que episódios da série mundialmente exitosa de Roberto Bolaños. Existe hoje um abaixo assinado que já chega próximamente a 2000 assinaturas virtuais. Repercutiu em alguns sítios web, e já é comentado nos corredores do SBT. Quem ainda não conhece o movimento "Chavista", ou ainda não participa pode acessar e aderir através do sítio http://www.grandesclassicos.net/movimento/index.html.

Foi sem querer querendo

Chaves chegou ao Brasil juntamente ao nascimento da TVS, que depois viria a se chamar Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), a emissora de Sílvio Santos. Em meio a falta de recursos na época para preencher a grade de horários, Sílvio optou pela parceria com a televisão mexicana. Importar atrações como telenovelas, séries e filmes do México era barato e trazia bons resultados. Eis que chegava um lote de novelas da Televisa que foram dubladas pela Maga, em parceria com o SBT.

O lote dublado, a então desconhecida serie teve aproximadamente oitenta episódios comprados, que foram dublados e apresentados ao dono do SBT. A atração tinha reprovação dos homens de confiança de Sílvio. Contudo, ele contrariou sua equipe e exibiu o seriado como teste no programa do palhaço Bozo, em 1984, alternando com o seriado Chapolin Colorado. A série se tornou um sucesso, tendo por vezes a maior audiência do SBT segundo o IBOPE, conseguindo vencer por várias vezes a Rede Globo. A partir de 1988 começou a ser exibido em horário nobre. Seu maior pico de audiência foi de 36 pontos, em 1990. Desde o fim de fevereiro deste ano, um grupo de fãs dos seriados Chaves e Chapolin, exibidos pelo SBT, batalham com um movimento chamado "Volta Perdidos CH & CH", onde pedem à emissora a exibição de episódios que não vão ao ar há muito tempo, alguns há mais de 15 anos.

A série somente uma única vez saíra do ar

A anos atrás a ameaça de não ter mais o seriado em teve aberta causou protestos no site do SBT, Orkut e até um piquete frente a emissora do patrão. Medida que acabou por não ocorrer e fez com que se criasse um novo horário de exibição as 5:30h.

Hoje existe uma outra mobilização na rede. existe um sítio que cadastra todas as repercussões do movimento e também um abaixo assinado evocado pelo seguinte texto explicativo:

AOS AMIGOS CHMANIACOS,

este abaixo-assinado visa trazer de volta inúmeros episódios das séries "Chaves" e "Chapolin" que, há anos sumiram do mapa. São os que figuram no famosíssimo guia de episódios perdidos. Incrivelmente, também há episódios inéditos que estão há mais de 20 anos dublados. Se você é realmente fã das séries, nos ajude a fazer com que o SBT acabe com a "piadinha". Se você pertence à Imprensa, ajude-nos também. Para maiores informações sobre os "episódios perdidos", acesse nosso site: www.voltaperdidosch.com

Gratos!

O pequeno e seus grandes feitos

Bolaños têm muitíssimas personagens em sua gama mais destacada, como o próprio Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin, Chaveco, Pancada Bonaparte, Dom Caveira. Hoje atua ainda em teatro e a pouco fez uma turnê pela américa latina. Em seus programas mais conhecidos no mundo três já foram exibidos no país El Chavo del Ocho (Chaves) - Chespirito - El Chapulín Colorado (Chapolim).

Até mesmo em Os Simpsos, Bolaños fora citado, através da personagem Chapolim. O criador da série americana já declarou-se por diversas vezes um admirador do autor mexicano. Além de enaltecer os próverbios Chispirianos, por que Bolaños é conhecido como o Sheakspear mexicano e dado o apelido Chispirito, entoados pela personagem Don Ramón (Seu Madruga): Algumas frases de Seu Madruga ficaram bastante conhecidas, como: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena" e "As pessoas boas devem amar seus inimigos".

Hoje a gigante Televisa ainda exibe as 18h a maioria dos episódios. À época, 1971, quando fora exibido o primeiro episódio pela rede; as BGMs (músicas de fundo que tocavam durante o programa) originais do seriado eram composições famosas de instrumentistas norte-americanos como Pete Winslow, Tony Hymas e John Charles Fiddy. Como a produção da Televisa não possuía verba de sobra para compor músicas próprias, foram utilizadas músicas da década de 30 compostas por tais artistas. Além disso, um dos temas de abertura da série foi The Elephants Never Forget, de autoria do compositor francês Jean Jacques Perrey - os direitos autorais na época eram mais baratos.

O movimento chamado "Volta Perdidos CH & CH", onde pedem à emissora a exibição de episódios que não vão ao ar há muito tempo, alguns há mais de 15 anos, fora destacado no Portal Natelinha, em matéria de 05 /10/09. Entre outros sítios do setor também começam a eclodir notas sobre o movimento. Clássicos a parte, este tem uma legião de seguidores, continua líder do Ibope ao seu horário de meio-dia e ainda consegue divertir nesta TV atual. Isso sem apelação!


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

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