domingo, outubro 11, 2009

É um barato o Cassino do Chacrinha!

Artigo conjunto por:
Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
Ramón Dutra, Florianópolis/BRA - Jornalista, Blogger, Crítico de Cinema e Mídia


José Abelardo Barbosa de Medeiros (Surubim, 30 de setembro de 1917 — Rio de Janeiro, 30 de junho de 1988), o Chacrinha. O que foi ou é este senhor para a história da TV Brasileira é impossível nominar, dizer ou explanar. Um dos poucos ícones do entretenimento que transitou dignamente por várias emissoras de TV.

Seu cunho popular nunca fora negado nem por ele. Com frases cabalísticas como: "Na TV nada se cria, tudo se copia!", ele mais que Nostradamus profetizou o que hoje vivemos no meu cultural e de entretenimento no país, no mundo.

Do Surubim para o mundo

Recém lançado em festivais um documentário sobre um rapaz nordestino que contagiou de alegria o país têm causado burburinho e controvérsia no meu pseudo-cult-alto-intelectualizado dos festivais audiovisuais.

Os ingredientes mais que conhecidos fazem da película um particular: chacretes e calouros de um dos programas de maior sucesso da TV brasileira (exército de anônimos que a indústria do entretenimento cria para, em seguida, descartar), entre depoimentos pra lá de polêmicos recheiam a obra. Cita em entrevista a Folha de S. Paulo: "Fiquei esquecido, mas tenho alma de artista", crê Manuel de Jesus, buzinado dezenas de vezes. No filme, ele entoa "Quando o inverno chegar..." e, à chegada da nota mais aguda, buzina para si: "Fon-fon".

Quem quer abacaxi?

Além das roupas engraçadas e espalhafatosas, foi um escalde de criatividade. Entre várias frases que se enraizaram na cultura popular da época e permeiam muito até hoje como: "Na televisão nada se cria, tudo se copia", "Teresinha!", "Vocês querem bacalhau?" , "Eu vim para confundir, não para explicar!" e "Quem não se comunica, se trumbica!" e "Quem quer abacaxi!". Mistura explosiva dados por bordões, chavões populares, calouros e jurados. Estes que o ajudavam a criar o clima de farsa, quase uma literatura de cordel via TV, no qual se destacaram Carlos Imperial, Aracy de Almeida,Rogéria, Elke Maravilha e Pedro de Lara, dentre muitos outros. Também nunca, jamais se pode deixar de mencionar os mais que criativos nomes de suas dancarinas como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Fernanda Terremoto.

Alô Alô Terezinha, documentário dirigido por Nelson Hoineff, esmiuça para o público quem foi Abelardo Barbosa, o irreverente Chacrinha. Com um detalhado trabalho de pesquisa e imagens recuperadas, Hoineff conta a trajetória do apresentador como se fosse um programa de televisão. Essa meta-linguagem inter-textual por si só já é merecedora de aplausos, mas a "crítica especializada em cinema" como sempre é capaz de azedar o bolo do bom e aplaudir os similares em concepção ao molesto, insosso e desprovido de sentido "Cinema Novo", ao qual o público sempre saiu das salas de cinema igual a quando entrou, pensando que cinema é algo inatingível a não ser para seres super privilegiados como os tais críticos especializados.

Um veículo ou formato audiovisual que toma de outro elementos tanto para sua linguagem e/ou discurso, muitas vezes se torna uma pavada. Neste caso o documental creio ser perfeito pois, busca mais que falar sobre uma pessoa, fala sobre um programa de televisão. Para isso mitificar o criador Abelardo Barbosa faria desmerecer o documental.

Ainda o criticam, mas ele entendia o povo

A figura polêmica do tema se estende para a receptividade de crítica e público ao trabalho. Exibido em dois festivais de cinema, Rio de Janeiro e Recife, o documentário dividiu opiniões. Muitos se divertiram e voltaram no tempo ao ver o espírito do “Cassino do Chacrinha” recriado no longa. Outros se sentiram ofendidos, inclua ai algumas ex-chacretes, com as declarações com conotação sexual da vida nos anos 70 de Chacrinha e seus colegas de trabalho.

Hoineff se defende das críticas ao afirmar que quis fazer um documentário com o mesmo espírito excêntrico de Chacrinha, um tapa no politicamente correto e humor com amarras, vividos hoje. O diretor acredita que "na televisão atual o apresentador não teria espaço por tudo ter ficado burocrático. Coisa que ele, Chacrinha, nunca foi." Friamente pode-se dizer que criticar Hoineff é por tabela retomar a critica ao popular, pois Chacrinha é sinônimo de popular.

O produtor-idealizador do filme ainda provoca os grandes, ou pequenos entendedores do audiovisual do país: "Meu limite foi o limite do Chacrinha. Não ridicularizo ninguém", garante. "Mas tem gente que só acha bons os documentários do Discovery ou aqueles sobre miséria."


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
Ramón Dutra, Florianópolis/BRA - Jornalista, Blogger, Crítico de Cinema e Mídia

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