quinta-feira, junho 25, 2009

Pânico na TV

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista



Entretenimento ou cultura? O que é a televisão? Essa discussão é mais antiga que a minha existência nessa encarnação. A cultura não pode ser pensada separadamente da crítica; a esta cabe o papel de revelar a não-verdade da primeira. Assim diria na Teoria Estética (sua última obra), Adorno. Onde apresentaria a estética como "a filosofia em si", e não como um campo dela, ou como a aplicação de teoremas ao universo artístico-cultural.

No Brasil sim existe inflação

Nesse ponto que me coloco como um fã incondicional de programas como o argentino CQC e o brasuca "Pânico na TV". Este último que foi alvo de cortejamento das 3 maiores emissoras do país. nesta dança das cadeiras gerada pela contratação de Augusto Liberato, o Gugu, pela Rede Record e o contra-ataque do SBT muito mais atores deste espetáculo tiveram sua cotação aumentada.

Gugu de singelos 500 mil passa a 3 milhões de reais, Eliana de 100 mil passa a 600 mil. Deixando com ciúmes antigos artistas do complexo Anhangüera que recentemente renovaram contratos com redução salarial como Hebe e Carlos Alberto de Nóbrega. Essa inflação nos valores de contratos proporcionada pela disputa cada vez mais acirrada na TV brasileira tem reflexos nas folhas de pagamento das emissoras. Já a pouco Fausto Silva e Luciano Hulk tiveram renovações contratuais para mais de milionárias por parte da Globo após ameaça de migrarem para Record.

O SBT tentou, mas não conseguiu. O "Pânico na TV" acaba de renovar seu contrato com a RedeTV!, onde permanecerão por pelo menos mais três anos. A emissora enviou um comunicado para a imprensa na tarde desta terça (23). Record que está recém recuperando-se do contra golpe do dono do baú que lhes sacou na mesma Eliana y Roberto Justus, dois grandes pontuadores no Ibope da casa, também tentou preencher seu domingo com o polêmico programa. Até a poderosa tentou colocar os irreverentes humoristas em sua madrugada, devido ao apelo nos públicos juvenil dos humoristas.

Opinião Pública

Nesta semana uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest, encomendada pelo mercado publicitário, diz que o “Pânico”- Rede TV! e o “CQC”- Band, são as atrações humorísticas preferidas pelo público. Desbancando outras muitas dos grandes canais do país. A pesquisa entrevistou 2000 telespectadores. Esta também apontou que 44% dos entrevistados declararam que gostam das atrações que ridicularizam artistas e políticos. Apenas 16% disseram que não aceitam esse tipo de programa.

Do Pânico, o personagem preferido é o Sílvio Santos, interpretado por Wellington Muniz, que alcançou 19% de preferência. Mais atrás aparecem Vesgo (Rodrigo Scarpa) e a ex-BBB Sabrina Sato, ambos com 13%. Entre os quadros, o mais querido pelo público são as reportagens da dupla Sílvio e Vesgo (48%). Bem atrás, aparece o “Meda” com 8%.

Já o “CQC” ao contrário do “Pânico” que foi tachado de escrachado e classificado pelo público com um programa inteligente que cobra as autoridades. O quadro de maior apelo popular é o “Top Five” que foi apontado como o preferido por 26% dos entrevistados. Logo atrás, aparece o “CQC no Congresso”, com 15%. Já entre os participantes, o preferido do público foi Rafinha Bastos, com 18%. O segundo melhor colocado foi o apresentador, Marcelo Tas, lembrado por 14% dos entrevistados.

Pânico ou "Meda"

A turma do “Pânico na TV!” prefiriu não deixar a RedeTV!, os humoristas estariam com medo devido a instabilidade da grade do SBT. Eles temeriam ficar fora do ar especularam algumas colunas como Ooops y Zapping. Acabou que preferiram a independência de conteúdo e continuar sendo a maior audiência da Rede TV!, onde tem médias de 10 pontos no disputadíssimo horários nobre de domingo da TV brasileira. O apresentador Emílio Surita disse à coluna de Daniel Castro da Folha Online que houve, de fato, o acordo. Surita afirmou que o grupo optou por permanecer na RedeTV! porque tem liberdade na emissora e estava inseguro em relação às propostas do SBT.

Os integrantes do "Pânico" também quase foram presos recentemente ao tentar gravar na rampa do Congresso Nacional. Ceará estava caracterizado de Sarney, com peruca e bigode. Carioca apareceu de Lula. Policiais ameaçaram prendê-los, caso o "Pânico" ligasse a câmera. Depois disso, a equipe teve de finalizar a gravação em outro local. O "CQC" também já foi censurado em Brasília.

O início, os fins e o meio

Todavia a influencia do programa que já antes da TV a anos é exibido diariamente na Rádio Jovem PAN no humor brasileiro é inegável. A comédia stand-up no Brasil nunca teve forca ou expressão, salvo ícones como Ary Toledo, que está mais para contador de história, pois não usam de personagens em suas performances. Seja com seus próprios personagens ou imitações, tanto em reportagens ou vídeos cômicos eles têm feito o país rir nos fastidiosos domingos da TV arcaica brasileira. Também usando caricaturas exibidas ao vivo como em comédias standy ou personagens criados o programa tem motivado a concorrência a investir neste tipo de arte na TV.

Em meio ao tiroteio que sei que está por vir perante minhas próximas afirmativas parto do princípio de que arte é toda criação que envolva as pragmáticas artes cênicas, danca, música e dramaturgia. A arte pós moderna de instalações artísticas incompreensíveis para um ser humano normal e aplaudida por pseudo-eruditos ou expertos em arte têm sim seu papel. Agora negar o título de produção artística ao "Pânico" seria um sacrilégio, pois são melhores atores que 90% do elenco da novela das 8 ou de Malhação.

De antemão explico o que em meu conceito é interpretação de uma personagem. Creio piamente que fazer uma personagem seja o ato de construção e execução cênica de um "ser" diferente do ator. Mesmo porque se nem irmãos gêmeos que são os seres mais semelhantes entre si no mundo, são iguais, recitar um texto sendo você mesmo como fazem pseudo atores tanto em teatro e principalmente televisão não é absolutamente se quer cercano a interpretar uma personagem.

Entretenimento ou cultura? O que é a televisão? Espero que possa ser as duas coisas. A televisão é o meio não o fim. E já diria a "incurtura popular": O importante neste caso são os fins e nao o meio!


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

Nenhum comentário: