quinta-feira, março 15, 2018

Mariellemos, a cada dia mais e mais!

Ontem 9 tiros restiraram da vida e de um país tão necessitado de pessoas, de seres humanos, uma bela criatura. Eu que estudei jornalismo na Estácio, não posso deixar de pensar minuto a minuto do crime no Estácio(bairro carioca). Além de todas as motivações que me comovem nesta catástrofe midiática, nesta possível execução de uma linha de pensamento por assim dizer que é das mais alarmantes desfeitas deste país tão desfeito.

Direitos humanos só podem fazer sentido quando vivemos num mundo com sentido. "Quantos mais precisam morrer para que essa guerra acabe?", referindo-se ao caso do jovem também assassinado na mesma cidade ao sair de uma igreja. Esta foi uma de suas últimas postagens da militante e vereadora Marielle Franco. Negra, nascida e criada na Maré favela que já fora invadida e intervinda algumas vezes, mãe aos 19 anos, foi uma candidata de forte apelo sociocultural em sua primeira campanha, ao levantar as bandeiras do feminismo e da defesa da população das favelas pelo esquerdista, PSOL. Foi a 5ª mais votada pelos cariocas.

Como nada é tão ruim que não possa piorar, ainda mais em se tratando de Brasil aonde o autoritarismo e o fascismo cresce a passos largos e em alta velocidade, já se pode ver nos comentários de postagens nos grandes diários pessoas pouco humanas a comemorar o trágico ocorrido. Existe no país tropical uma máxima que é a do pobre capitalista, "de bem", pró-capitalismo mesmo sem ter capital. Este genótipo pósmodernolíquido brasuka é assustadoramente insensível ao outro. Incapaz de ter embatia com os de sua própria classe. A empatia somente existe dos de baixo para com os de cima da cadeia alimentar, a inversa inexiste.

Para quem por não aceitar comentários discriminativos e por tentar não seguir uma conversa com o agressor em uma danceteria, logo após sofreu um ataque a frente da mesma que se não chegou ao óbito foi por sorte, um caso assim só pode fazer-se pensar que o Brasil é um país que não tolera o diferente. No casa de Marielle que além de ser diferente, fazia a diferença ao fazer diferente... Realmente neste país em que vivemos ela era uma afronta. 

Estamos hoje no Rio de Janeiro em estado de exceção. Intervenção militar hoje, intervenção miliciana a tanto tempo, intervenção social a muito. As expressões do carioca como você ser do asfalto ou da favela, são históricas. O que surpreende é que com toda essa bagagem de incluso já ter sido outrora a capital de um império luso que capitaneava países em outros continentes hoje se encontre em pleno caos.

Comportamentos casuais e aleatórios também são governados e estas podem predizer dois resultados para uma acontecimento?

A Anistia Internacional se pronunciou, em nota, afirmando que as autoridades "através dos diversos órgãos competentes, deve garantir uma investigação imediata e rigorosa do assassinato" de Marielle, e que "não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria" do crime. Sem ter uma grande estrutura financeira sua candidatura virou um tsunami, pois atraiu mais 46 mil eleitores no pleito.

Eleita em 2016, esta mulher, negra, moradora de favela, ativista dos Direitos Humanos, LGBT, orgulho de seus pares do PSOL precocemente é usurpada do convívio e da luta em um país aviltadamente desigual. A lamentar também a morte de Anderson Pedro Gomes, servidor da Câmara que estava dirigindo o carro alvejado por tiros que tinham um destino óbvio e certeiro, a democracia.

Momentos antes de morrer, Marielle fez uma transmissão ao vivo em seu Facebook, durante uma roda de conversa do evento "Mulheres Negras Movendo Estruturas", realizado na rua dos Inválidos, na Lapa. Parece até roteiro de Fellini, mas essa é uma tragédia do Brasil real. Mariellemos, a cada dia mais e mais, ou sucumbiremos neste país medíocre, conservador, preconceituoso e covarde.

O PSOL, partido da vereadora ainda faz um chamado para um ato em homenagem e protesto em Florianópolis, marcado para as 17h desta quinta-feira, com concentração no Largo da Alfândega, no local conhecido como Esquina Feminista. “Transformaremos o luto em luta. Exigiremos justiça”, finaliza. a nota oficial do PSOL Florianópolis. 

Do Outro Lado do Rio

Agora temos uns piazinhos metidos a políticos e formadores de opinião que lançam postagens deste nível. Acompanham a atrocidade da imagem este texto esdrúxulo: "Sim, todos os homicídios no Brasil são políticos. Todos os mais de 60 mil." E a este coro de mongoloides unem-se fãs de Bolsonaro a comemorar um assassinato. 

Foto de MBL - Movimento Brasil Livre.

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