domingo, julho 26, 2015

Zorra: Programa por primeira vez faz humor inteligente



É a notório que o mundo televisivo tem mudado a passos largos nos últimos 10 anos. Mas que avanços tecnológicos, temos evoluções sociais. É um grande contra-censo. Ao mesmo que a população se encaretou nos últimos tempos, a TV tenta esforçadamente conter sua queda de audiência e a fuga de público para outros meios de comunicação.

Quando em 1997 escrevi um espetáculo teatral e minha ex-diretora o achou impróprio para ser montado, e eu reclinei-me introspectivamente e o guardei a gaveta, não tinha noção de seu futuro, tão pouco o do país. Já em 2004 ao estruturar minha própria companhia pude montar o mesmo, e ter a mesma diretora à estreia. Eis que fui perguntado se teria modificado o texto. A resposta fora um retundo não.

Esta parábola lhes conta para contextualizar que, as pessoas mudam, seu entorno muda. Hoje vejo pessoas de um perfil libertário não enxergando a libertação de retrógrados conservadores. Hoje o humor de contestação e de cunho quase de vanguarda começa a querer despontar na líder de audiência, a Rede Globo. 

A linha editorial da emissora foi forçada a mudar para sobreviver como grupo de mídia. O próprio Jornal O Globo já havia reconhecido o equivoco de terem apoiado o governo militar, e este ano a emissora de TV do grupo também o fez através de editorial do Jornal Nacional. E no entretenimento se mostrou esta nova faceta no novo Vídeo Show e no programa Tá no Ar... E agora o Zorra bebeu do formato do Tá no Ar, e resgatando algumas posturas do antigo TV Pirata. 

Obviamente não creio que a emissora carioca tenha se tornado menos conservadora. Mas sim que o Brasil se tornou tão conservador que a Globo hoje pareça ser vanguardista quando ao ver seu horário nobre afundar o reformulou. Este acidente de percurso criou o Novo Zorra. 

Claramente o novo humorístico traz uma tentativa de inovação e é muito superior a colcha de retalhos e cacoetes de péssimo gosto que era seu antecessor o Zorra Total. Vejo como uma evolução... Ainda a quem do que gostaria. Mas pontualmente o vídeo postado nas redes intitulado "Festival Musical do Coxinha" é muito, mas muito avançado para os dias retrógrados de hoje. Seja no teatro, TV ou música hoje o país é muito mais careta que a 2 décadas atrás.

"Um festival de musica para aqueles que não ficam se a democracia ficar" é uma frase emblemática e muito ácida que abre o esquete, e seria impensada como presente em um programa da Rede Globo. Sejam nos históricos Os Trabalhões, ou mesmo nos metidos a politizados Casseta & Planeta ou TV Pirata, nunca na história deste país e desta emissora algo deste ímpeto foi recitado.



O vídeo no Facebook já ultrapassa as 850 mil visualizações neste link - https://www.facebook.com/sensacionalista/videos/965801686796032/, e tem causado discussões vazias e acaloradas. Mas o que surpreende são comentários que dizem que o vídeo tem como objetivo degradar a boa música brasileira.

Atento ao conteúdo das faixas a plateia se vê um real cuidado para com o esquete. Frases como: "Volta General"; "O povo não tem cura, volta à ditadura." Recheiam e completa este inusitado e cru vídeo que sim consegue ser critico e bem humorado.

Penso que toda e qualquer paródia por si só são uma forma de se enaltecer o valor de uma canção. E pela primeira vez vi uma paródia desconstruir um discurso histórico, o dos festivais da canção dos anos 60 e 70, e assomar-se de uma discursividade ímpar aonde critica o pensamento reacionário através de uma burlesca e divertida alusão ao momento atual da política brasileira. Esta que vê-se aos berros e nos jornais de hoje, o de pedidos inflamados de regresso ao regime de exceção, a ditadura.

Destaque para o tema Disparate, versão de Disparada. Ao que o grandioso Paulo Silvino canta "... já falei com o coronel para o Congresso fechar!". Ou a magnifica A Banda Naval, e o trecho que diz: "dá choque neste coxinha, que adora torturador."

Aviltantemente o programa ao que realiza algo inédito, ser engraçado, não é compreendido. O Brasil é um carrossel travestido de montanha-russa. E nós? Ainda somos os mesmos, mas não vivemos como nossos país. Estamos pior: acéfalos, inquietas e coxinhisticamente reacionários.

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