segunda-feira, abril 14, 2014

Somente Tu e Eu: Autocrítica é algo possível?

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Gentes... depois de muito lutar, por data, teatro, divulgação... E bater na porta de redações e jornais, rádios e TV, estreei meu novo espetáculo. Agradeço muito a presença do público em geral, mais de veras a de amigos que lá estiveram e estes são os que tornam o viver nesta desumana, inóspita e bairrista cidade possível e mais aprazível.

Aos que não foram.. Bem, espero que estejam bem. Inclusive financeiramente, para que possam acompanhar nossa estréia nacional em Porto Alegre, nos dias 26 e 27/04 no Teatro Nilton Filho.

Não posso fazer uma crítica sobre o que vi sobre o espetáculo Somente Tu e Eu. Mesmo porque não o vi. Não de fora. Estava no palco. Mas da visão privilegiada do palco, mesmo com tudo o que tens de elementos: luz, musica, conta-cenas, texto intenções, equívocos, nervosismo... Sobram segundos valiosos e apreciação e admiração para com o público.

As expressões transeuntes do público, que mesmo "imóvel" pareceu-me inquieto. No mar com gélido e esquálido status de imobilidade temporal, ou corporal, ele se debatia internamente. Uns, um tanto mais modernos a rir de cada cutucada ateia da personagem que me tocou interpretar, Xabier, a seu par cênico Román, interpretado por Guilherme Lohn. Já outros um tanto mais conservadores, se asfixiavam, e tinham nos mandamentos bíblicos proferidos pelo puritano seminarista baiano Román, um elixir, ou quase que uma bombinha contra asma.

Muitos creem que só a comédia rasgada, rasa, fútil, modista, psico-física e vulgar leva ao riso. Pobres iludidos Stanislavskianos!

Todos, público e produção, sem relevar sentiam que as interpretações ainda não estão orgânicas. O texto trás pesados diálogos que pelo discurso político separatista de Xabier, como pelo excesso de puritanismo das pregações de Román as vezes destoam do padrão corriqueiro ao que se está praticando atualmente no teatro e mais ainda no cinema. Por isto, e também pela falta de maturação a montagem, o peso dos diálogos em diversos momentos se faz sentir na platéia.

Embora tenha duração acima de 90 minutos, o público segue ativo, exceto no momento em que numa dubiedade entre flash back, ou repetição do texto. Este estratagema cartesiano, ou recuso discursivo retórico necessita para ter êxito atualmente de muito ensaio e jogo cênico, pois a audiência está cativada e acostumada, a textos e cenas curtas. Por exemplo quando se vê cenas de Roque Santeiro ou Água Viva, novelas da década de 80, imediatamente se questiona se hoje uma cena tão grande sem cortes poeria ser escrita, rodada e veiculada na TV.

Mesmo com falhas proritariamente relevantes em se tratando de uma estreia, Somente Tu e Eu, digamos que sobreviveu ao público que por diversas vezes riu alto, se condensou ao universo criado do trem rumo ao Caminho de Santiago e Compostela. Este que questionou-se ao final da emblemática cena em que ambos personagens entonam com voz embargada o título a peça, bem como após o seu término se as protagonista se beijaram realmente ou não.

A desconstrução psico-temporal feita pela direção através a iluminação trouxe vários dilemas que constavam na dramaturgia do espetáculo. Não todos resolvidos. Mas o suficiente para deixar o público com a sensação de um espetáculo com um final em aberto, criando a possibilidade ao espectador de criar em sua mente o seu próprio desfecho da peça. Como toda oba universal, não se pode querer domar ou castrar o público, nunca subestimar é o lema.

Nenhum comentário: