terça-feira, novembro 17, 2015

Marianne ou Mariana? A vulgar discussão do momento!

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista

Desde "Os Miseráveis" de Victor Hugo, à ode da Revolução Francesa, ou as novas repúblicas basadas no direito francês... Aonde nos perdemos. Pois, diz a história que os liceus tanto na terrinha quanto na republiqueta de bananas dava como matéria de língua estrangeira o francês.

Queda da Bastilha
Pensar que a guerra fria e o cinema estadunidense criaram no imaginário coletivo uma surreal crença de que o inglês seria um idioma internacional... Não, não. Falar isto hoje a defensores do neoliberalismo seria assumir um voto ou militância pelo comunista partido hoje no governo. Este mesmo que desde 2002 governo em linhas muito mais liberalistas que qualquer régua de esquerda(seja no plano social, econômico, filosófico, educacional ou ideológico).

Sim, é verdade que em 1890, instituir o francês como idioma obrigatório tinha uma lógica, que hoje não o teria. Se alegava a época que grandes teóricos e pensadores modernos, ícones da arte(belas artes, como se dizia à época), dentre modas e vestes, comportamentos de alta mesa e noblesse, eram as melhores do mundo naquele país. Hoje ser culto não faz sentido e não dá ibope. Atualmente o bom é ser rico e não ser culto. Ser cool, não mais ser cult. Ser cult é uma gíria e/ou hábito que caiu em desuso na última década.

Acadêmica-mente o disparate é maior, termos de fazer resumos em inglês, por mero colonialismo e complexo de inferioridade. Como se norte-americanos fossem ler coisas feitas, teses produzidas no Brasil. Aliás, esquece-se também óh zé povinho que este conceito de separar Brasil de seus pares da América Latina fora uma "invenção francesa", pois estes consideravam o restante dos países do continente uma lacra subalterna aos interesses de Londres e com uma identidade nada particular. 


Doravante, o sistema primordial brasileiro para o ensino aplicava o grego e o latim como línguas primordiais para a socialização e aquisição de gosto pela leitura e arte. No ano de 1837, funda-se o Colégio Pedro II de primeiro nível secundário, sendo referência curricular para outras instituições por quase um século, pois sua grade era inspirada nos moldes franceses, que era a representação do ideal de cultura e civilização na época. No programa, constavam sete anos de francês, cinco de inglês e três de alemão. Esse sistema manteve-se até o ano de 1929; mais tarde, em 1931 o italiano passou a fazer parte do currículo.

O hoje tão falado caso francês, por força de um atentado em Paris no dia 13 de novembro de 2015, seria de veras mais comentado e entendido se o idioma francês, não tivera sido extirpado do currículo escolar brasileiro no ano de 1971, em prol do inglês americano. Pois a ditadura militar financiada pelos EUA, tinha um espelho, um objetivo ideológico... o Império do Norte.

Isso talvez explique porque para os brasileiros o 13/11 importe menos que o 11/09. Nossa mídia é pró-saxônica, é atrelada e serva do imperialismo. Vivemos em um país em que hoje se comemora o Halooween, mas não festeja a Revolução Francesa.

Compreende, ou melhor explico. Como é possível um país tão pobre hoje quanto a França fora no século 16 e 17, estar a manifestar-se na rua pedindo a volta da ditadura... Resultado da aculturação e idiotização causadas pelo cinema norte-americano e por uma sucessão de governos anti-democráticos dentre 1964 até o falso esquerdista que ainda vigora no Brasil.

A sociedade francesa passou por uma transformação épica, quando privilégios feudais, aristocráticos e religiosos evaporaram-se sobre um ataque sustentado de grupos políticos radicais de esquerda, das massas nas ruas e de camponeses na região rural do país. Antigos ideais da tradição e da hierarquia de monarcas, aristocratas e da Igreja Católica foram abruptamente derrubados pelos novos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité (em português: liberdade, igualdade e fraternidade). As casas reais da Europa ficaram aterrorizadas com a revolução e iniciaram um movimento contrário que até 1814 restauraria a antiga monarquia, logo derrubada por Napoleão, este que logo seria derrubado por uma união multi-nacional europeia, mas muitas reformas importantes tornaram-se permanentes.  


Legados como a abolição e substituição da monarquia, aristocracia e da igreja por uma república democrática e uma mudança social radical baseada no nacionalismo, na democracia, em princípios iluministas de cidadania e em direitos inalienáveis; hoje talvez pareçam coisas banais. Duros tempos!

O iluminismo, também conhecido como Século das Luzes foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Abarcou inúmeras tendências e, entre elas, buscava-se um conhecimento apurado da natureza, com o objetivo de torná-la útil ao homem moderno e progressista. Promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância da Igreja e do Estado. 

Foram vários os príncipes reinantes que muitas vezes apoiaram e fomentaram figuras do iluminismo e até mesmo tentaram aplicar as suas ideias ao governo. Originário do período compreendido entre os anos de 1650 e 1700, o iluminismo foi despertado pelos filósofos Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-1704), Pierre Bayle (1647-1706) e pelo matemático Isaac Newton (1643-1727). O iluminismo floresceu até cerca de 1790-1800, após o qual a ênfase na razão deu lugar ao ênfase do romantismo na emoção. Enquanto nos dilaceramos em putrefatas discussões de qual tragédia é a pior, creio que a pior é a derrocada do iluminismo. 

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