quinta-feira, setembro 10, 2009

Invente, tente, assista algo diferente

Invente, tente, assista algo diferente

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista


Me chamou atenção ao ler no jornal extra online a matéria de Leonardo Ferreira -09/09/2009, o como estamos em um país de libertinagens e com zero de liberdade. Alheio eu ao fato tardiamente me embasbaquei ao ler a seguinte nota:

O autor José Louzeiro prepara um livro sobre os bastidores da proibição de sua novela “O marajá”, que seria exibida pela Manchete em 1993. A trama contava com humor a trajetória de Fernando Collor e foi impedida de ir ao ar poucas horas antes da estreia. Mesmo sem ter visto nenhum capítulo do folhetim, o ex-presidente conseguiu impedir na Justiça a exibição, num caso claro de censura prévia. Ele teria se sentido ofendido pelo que nunca viu. Depois disso, as fitas sumiram. “A novela se perdeu em trambiques, com muito dinheiro envolvido. Acho que nunca veremos essa história”, diz Louzeiro.

Um dos detalhes revelados no livro é que o próprio departamento comercial da emissora, segundo Louzeiro, ajudou a boicotar a novela. Sem que os autores nem o diretor da história (Marcos Schetman, que dirige hoje "Caminho das Índias") fossem consultados, foi posta no ar uma chamada de "O marajá" , considerada, mesmo nos dias de hoje, muito forte. Nela, uma enfermeira levava numa bandeja de prata supositórios com cocaína para o ex-presidente. A chamada foi o que alertou Collor, que logo depois entraria com uma ação para impedir a exibição da novela.

Vendo os índices das novelas baixos hoje em dia penso no que pode estar faltando para que as mesmas voltem a patamares estratosféricos de anos atrás. Pois seja por falta de qualidade de atores, muitos meros seres que tiveram momentos intimo com diretores de elenco, produtores e afins. Seja por remakers de histórias batidas e que já tiveram milhões de versões como a Colombiana "Bety, la Feia", que no Brasil fora exibida a anos atrás pela Rede TV!, depois teve "La Fea Mais Bella" exibida pelo SBT em versão dublada, na adaptação feita pela mexicana Televisa que hoje exibe pela tarde a versão original Colombiana. Mas o pior é o que se passa hoje, neste momento temas "Ugly Bety" versão americana realizada pela tradicional ABC, no ar pelo SBT. E ainda uma versão em horário nobre na Rede Record, "Bela, a feia".

Tanto lá como cá

Mas quem pensa que a coisa está assim só no Brasil se engana quadrada-mente. A grande exportadora Televisa hoje tem como opção comprar roteiro de novelas argentinas e colombianas para diversificar os temas de sua novela, coisa que a Globo jamais fará por ego exacerbado. O último caso é a exitosa novela exibida pela rede TELEFE e produzida pela Endemol/Underground em parceria com a emissora. "Los exitosos Pells", que no México se chama "Los Exitosos Pérez" devido ao sobrenome Pells não existir no México. Novela essa que teve segundo apontam alguns sítios portenhos direitos de exibição comprados pelo SBT que exibira a partir de dezembro uma adaptação e tinha em mente para agosto a exibição da versão dublada, mas engavetou a exibição pensando na possibilidade de produzi-la.

A novela que tem 6 premios "Martin Fierro" o principal da Argentina na área artística, englobando TV e teatro em seu rool de premios, quase não iria ao ar, pois era uma produção independente da Endemol Argentina para o mercado latino e não especificamente para Argentina. A substituição Exibida às 22:00, de segunda a quinta-feira como a maioria das novelas no país, teve como protagonistas Carla Peterson a mesma do sucesso "La Lola", também já exibida no Brasil. Ainda em exibição existem versões na Espanha, Chile, Ecuador e México devido a compra depois de assistir o piloto pela TELEFE, mudança de atores que ocasionou uma "porteñización", como trataram os meios do país, da trama e principalmente do sotaque e gírias utilizadas. Ocorre que o sotaque argentino é demasiadamente particular e utiliza até mesmo de tempos verbais distintos da maioria dos país de língua espanhola.

Aqui temos na Rede Globo a antropofagia do horário das 6, como o remake de "Paraíso" e tantas outras, algumas raramente feitas por outras emissoras como "Mulheres de Areia" da TV Excelsior. Temos também lá Walcir Carrasco com a milésima novela que parece copiar o texto e piadas de suas próprias novelas anteriores. Glória Pérez com suas emboladas tramas sem rumo que se guiam mais pelas pesquisas de público da emissora do que pela intuição e suposto talento da autora. Isso vem a constatar uma dura realidade de que o povo consome muitas vezes mesmice com roupa nova. A questão é de quem sabe melhor disfarçar isso.

O SBT tem um redundante fracasso com a adaptação de "Vende-se um véu de Noiva" de Janete Clair, novela escrita inicialmente para o rádio. Talvez aí o grande problema. Não acredito que o canal tenha reambientado dramaturgicamente para a linguagem de TV a obra e sim meramente atualizado poucas coisas da historia e filmado os diálogos.

Ineditismo nao vende

Foi-se o tempo da foice em que o novo era o que mais vendia. Hoje a sociedade está pasteurizada e com lomba de pensar. O que vende hoje é a repetição. Como citação ilustrativa de um sábio que a muito percebeu o quanto o povo se deixa levar irracionalmente pelos meios de massa: "Quer fazer sucesso? É só repetir qualquer coisa no cocuruto do povo..." em a Gota d´água de Chico Buarque. Onde uma personagem aconselha ao sambista Jazão lhe ensinando a fórmula do sucesso.

Poder Paralelo é um retumbante fracasso de Ibope hoje com media de 5 pontos a 7 no máximo. O detalhe é que a produção e trama são impecáveis. Ainda o elenco conta com monstros da interpretação como Beth Coelho e Antonio Abujamrra dentre vários outros. E mesmo assim "Caminho da Índias" com a "atriz profissional", sabe se Deus como se formou, Juliana Paes batendo recordes de audiência.

O Marajá

Acredito piamente que "O marajá" deveria ser refeita, hoje em dia se faz e se refaz tanta porcaria, que seria de muita valia. Ou isso ou fazer uma novela em estilo grande épico como "Cidadão Brasileiro" de Lauro Cézar Muníz, onde as personagens foram retratas pelos mesmos atores dos 20 até a morte, alguns claro. Se não sobre Collor talvez sobre seu antecessor, hoje envolvido em alguns escândalos, nosso querido José Sarney. Creio que vou registrar dois nomes possíveis: 1) Brasileiros e Brasileiras; 2) Planos Cruzados. E no caso Collor: "Impeachment, porque?"; "Caçador de Marajás", "O Confisco", "Cadê minha poupança?"... Mais um que me interessaria muito que fora aprovado por alguma emissora é: "Ressurreição", afinal de contas nosso ex-mal-presidente é senador eleito.

Se alguém me contratar me junto a um par de colaboradores e escrevo uma novela, bons títulos já tenho.

PS.: Peco desculpas aos leitores da coluna pelo atraso da mesma. Tive de mudar as pressas do Hotel Residência em que estou a viver em Buenos Aires, devido a seu fechamento. Me avisaram domingo(6) a noite que fechariam ao dia 15. Ou seja, 9 dias para conseguir um novo lar, sem muito "tu-tu" no bolso foi um tanto "fastidioso". Agora de casa nova podemos voltar a trocar idéia minha gente. Forte abraco e continuem aqui, que prometo falar menos besteiras na próxima coluna semana que vem.


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

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