terça-feira, dezembro 31, 2024

Promessas de um Novo Ano

 "Reflexões Críticas sobre a Virada do Ano e as Contradições do Progresso"

A angústia é uma constante se não sois um abastado do neoliberalismo, ou um simples acéfalo. À medida que o relógio marca a transição para 2025, é comum que a humanidade experimente uma mistura de alívio, expectativa e nostalgia. Mas, como nos lembra a frase inicial, nem todos os anos deixam saudades, especialmente quando refletem crises e contradições sistêmicas que permeiam nossa existência. Inspirando-se na retórica marxista, este artigo examina o simbolismo da virada de ano e como ela expressa as esperanças coletivas e as limitações estruturais que moldam nossa realidade.

O Calendário como Produto da Dialética

O calendário, muito mais do que uma organização cronológica, é uma construção social que reflete a dinâmica histórica da humanidade. Em um sistema capitalista, o ano-novo carrega em si o peso de ser o "recomeço" prometido, um intervalo simbólico que nos convida a acreditar que mudanças substanciais são possíveis no curto prazo. Essa esperança não é ingênua, mas responde à alienação do trabalho, ao cansaço social e à busca incessante por um sentido em meio às contradições do sistema.

Se 2024 deixa "zero saudades", é porque muitos enfrentaram as consequências das crises econômica, climática e social que o modo de produção dominante intensificou. Ainda assim, a promessa de 2025 reflete um otimismo necessário, mesmo que ilusório, para sustentar a subjetividade humana. Como disse um profeta popular: Pior do que está, não pode ficar!

A Promessa de Progresso: Ideologia ou Realidade?

Sob uma análise marxista, podemos questionar: o que exatamente 2025 promete? Para quem será melhor? A lógica de mercado continuará a determinar os parâmetros do "melhor"? A história ensina que o progresso tecnológico e econômico não necessariamente resulta em avanços sociais equitativos. A luta de classes permanece o motor da história, e qualquer promessa de transformação real exige o confronto direto com as contradições inerentes ao sistema.

2024 testemunhou eventos que aprofundaram desigualdades e tensões globais, mas também provocaram resistência e organização popular. No entanto, sem um movimento coletivo que articule essas lutas em um projeto de emancipação, o "novo ano" pode simplesmente ser mais uma iteração das injustiças estruturais.

Esperança como Ferramenta Revolucionária

Apesar das limitações sistêmicas, a esperança não deve ser descartada. Em uma perspectiva ecumênica e marxista, a esperança é um ato revolucionário. Ela transcende a simples conformidade com o status quo, abrindo espaço para o pensamento crítico e a ação coletiva. Como Paulo Freire pontuava, "esperançar" não é passividade, mas um verbo de ação que impulsiona a transformação.

Se 2025 promete ser melhor, essa promessa deve ser vista como um chamado à prática política, à construção de alternativas concretas e ao fortalecimento das lutas por justiça social, econômica e ambiental.

O Futuro Como Campo de Batalha

Em última análise, o novo ano é uma arena onde as forças de manutenção e transformação se enfrentam. O simbolismo da virada pode ser apropriado não apenas para desejos individuais, mas para a construção de um horizonte coletivo de emancipação. Como disse Marx: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; o ponto, porém, é transformá-lo."

Portanto, enquanto muitos desejam uma virada pessoal em 2025, que esta também seja a virada de uma sociedade mais justa e humana. Que a promessa de ser melhor não seja apenas uma metáfora individualista, mas o princípio de uma nova era de solidariedade e progresso real.

segunda-feira, dezembro 30, 2024

ESQUERDA X DIREITA, ainda é um debate para a ceia de fim de ano?

No Brasil contemporâneo, a polarização entre petistas e bolsonaristas exemplifica um dos períodos mais intensos de divisão política e social do país. Este fenômeno transcende o mero embate ideológico entre esquerda e direita, assumindo contornos emocionais, culturais e até religiosos, com implicações profundas na convivência social e na democracia.


Petistas, geralmente associados à esquerda, defendem pautas como a intervenção estatal para a redução das desigualdades sociais, direitos trabalhistas fortalecidos, políticas públicas inclusivas e a ampliação de direitos civis. Já os bolsonaristas, representantes da direita conservadora, pregam valores como a defesa da família tradicional, a redução do papel do Estado na economia, o armamento civil e a manutenção de uma moralidade baseada em princípios religiosos.

No entanto, há algo peculiar na polarização brasileira: ambos os lados, em momentos de crise, recorreram a práticas que contrariam seus discursos teóricos. Governos de esquerda adotaram políticas de austeridade econômica e estabeleceram alianças com setores tradicionais do poder político, enquanto governos de direita ampliaram gastos públicos e criaram programas sociais para atender a demandas emergenciais, como na pandemia de COVID-19. Esse hibridismo não raro confunde as definições tradicionais de esquerda e direita.

O “CENTRO” E SUA FRAGILIDADE

Entre os polos, o espaço para um “centro” político no Brasil tem se mostrado frágil e fragmentado. Embora existam partidos e lideranças que busquem se posicionar como moderados, muitas vezes acabam absorvidos pela lógica binária da polarização. Isso ocorre, em parte, porque o centro no Brasil é frequentemente visto como pragmático demais, carente de ideologia, ou simplesmente oportunista, servindo mais como negociador de poder do que como alternativa viável para o eleitorado.

EXTREMISMOS E INTOLERÂNCIA

Nas margens da polarização, prosperam os extremos. Na extrema esquerda, o discurso revolucionário defende a nacionalização de setores estratégicos, uma redistribuição forçada de renda e o enfraquecimento de instituições tradicionais. Na extrema direita, a pauta inclui a criminalização de movimentos sociais, o culto à ordem e autoridade, e a exclusão de ditas minorias ideológicas sob o pretexto de preservar valores nacionais. Ambos os extremos compartilham características como a aversão ao diálogo e o uso de narrativas conspiratórias.

A polarização brasileira não é apenas racional, mas também profundamente emocional. Escândalos de corrupção, como os revelados pela Lava Jato, e crises econômicas agravaram o sentimento de desilusão com as instituições, contribuindo para a ascensão de lideranças populistas que exploram medos e aspirações da população. Eventos traumáticos, como a pandemia de COVID-19, também moldaram percepções ideológicas, acentuando a desconfiança em relação a adversários políticos e aumentando a adesão a narrativas radicais.

O ELEITORADO E O ESTRESSE POLÍTICO

Estudos sugerem que o estresse social e político pode impactar a participação eleitoral no Brasil. O ambiente polarizado, somado à constante exposição a crises e conflitos, gera apatia em parte do eleitorado. Isso ajuda a explicar abstenções crescentes em eleições recentes, bem como a preferência por lideranças que prometem soluções rápidas e simplistas para problemas complexos.

Reduzir o debate político brasileiro a rótulos simplistas como “esquerda” e “direita” empobrece a compreensão das dinâmicas sociais e políticas em curso. O Brasil atual exige análises mais profundas, que reconheçam a complexidade das escolhas eleitorais, a multiplicidade de interesses em jogo e a necessidade urgente de promover o diálogo e a cooperação entre diferentes segmentos da sociedade. Afinal, a política não se limita a dobrar à esquerda ou à direita, mas a encontrar um caminho que sirva ao bem comum.

terça-feira, dezembro 24, 2024

O peso argentino e a relação íntima com o dólar: Algo sobre o governo desastroso de Javier Milei


Desde que Javier Milei assumiu a presidência da Argentina em dezembro de 2023, a relação dos argentinos com o dólar – sempre marcada por um misto de desconfiança na moeda nacional e fascinação pela norte-americana – tornou-se ainda mais intensa. Milei, com sua agenda de dolarização como proposta central de campanha, prometeu resolver a instabilidade cambial crônica e a inflação exorbitante que afligem o país há décadas. No entanto, o impacto dessas medidas segue dividindo opiniões e gerando reflexos visíveis no cotidiano argentino.

Dolarização: Um remédio amargo?

O governo Milei implementou, logo nos primeiros meses, um plano ambicioso para dolarizar a economia, extinguindo o peso argentino como moeda nacional. Essa transição, apresentada como a solução para a hiperinflação (que ultrapassava 140% ao final do governo anterior), tem causado uma volatilidade acentuada e gerado incertezas, especialmente para as camadas mais pobres da população.

Embora a adoção do dólar tenha eliminado o uso do peso no comércio formal e reduzido drasticamente a inflação, muitos economistas alertam para o custo social dessa política. A perda de instrumentos de política monetária fez o país depender ainda mais de fluxos de dólares provenientes de exportações e investimentos externos. Além disso, a dolarização não trouxe uma resposta imediata à dívida pública crescente nem à crise fiscal, forçando o governo a cortes profundos em gastos públicos, incluindo saúde e educação, o que gerou protestos em várias partes do país.

Casa de câmbio: Um fenômeno em transformação

Se em anos anteriores as filas nas casas de câmbio eram indicativo de crises cambiais, hoje o cenário é diferente. Com o dólar sendo utilizado como moeda oficial, a função das casas de câmbio transformou-se. Essas operações agora concentram-se em remessas de dinheiro, turismo e câmbio de moedas regionais como o real e o peso chileno.

No entanto, a dolarização não eliminou a informalidade. Um mercado paralelo ainda persiste, sobretudo nas províncias mais afastadas, onde a falta de infraestrutura e o alto custo de vida em dólares agravam as desigualdades regionais. Além disso, a relação dos argentinos com o dólar continua marcada por desconfiança, especialmente após rumores de escassez de reservas nos bancos centrais para sustentar a política econômica de Milei.

Investidores e a polarização política

No âmbito internacional, o governo Milei inicialmente atraiu atenção positiva por seu perfil liberal e pró-mercado. No entanto, o entusiasmo diminuiu à medida que o presidente enfrentava dificuldades para implementar reformas estruturais e alcançar consenso em um cenário político altamente polarizado. O Congresso, onde Milei não possui maioria, tornou-se palco de embates acirrados, travando projetos-chave como a privatização de empresas estatais.

O perfil excêntrico do presidente, conhecido por sua retórica agressiva e aversão a "castas políticas", alimentou tanto apoios fervorosos quanto uma oposição implacável. A população argentina, marcada por um histórico de profundas divisões ideológicas, vê no governo Milei tanto a chance de romper com velhas práticas quanto o risco de aprofundar crises sociais.

Reflexos sociais e culturais

Em dezembro de 2024, a sociedade argentina encontra-se dividida entre os que veem na dolarização uma chance de estabilidade e os que criticam a perda de soberania econômica. Nas redes sociais, memes e páginas continuam satirizando a política nacional, mas o tom mudou: Javier Milei, apelidado de "El León" por seus apoiadores, tornou-se o novo alvo de chacotas e críticas em páginas como Que Nos Saquen al León.

Ao mesmo tempo, cresce o saudosismo de alguns setores em relação a políticas redistributivas dos governos peronistas, mesmo com seus problemas de corrupção e ineficiência. Essa nostalgia é especialmente evidente nas províncias mais pobres, onde a transição para o dólar agravou o custo de vida e limitou o acesso a bens básicos.

Conclusão: Um país em transição permanente

A Argentina de dezembro de 2024 permanece em um estado de transição. Sob o governo Milei, o país tenta reescrever sua história econômica ao abandonar o peso e adotar o dólar, mas os custos sociais e as incertezas políticas mantêm o futuro em aberto. Para muitos argentinos, a promessa de estabilidade ainda parece distante, e o dilema entre progresso e desigualdade segue sendo uma marca do país.

sexta-feira, dezembro 13, 2024

Como dizer-lhes?


 Parecera-vos, talvez, que nenhum esforço emana de minha alma fatigada em busca de labor digno, um labor que não me atire aos desonrosos soldos de miséria que se me impõem! Jornadas insanas, de seis por um, que dobram o corpo e esmagam o espírito — e mesmo nelas, por males de saúde ou exaustão extrema, fui forçado a apartar-me ou, vilmente, escorraçado fui.

Porém, neste escrito não hei de desfiar, como um novelo cansado, minhas capacitações, artes e saberes, que já me sufocam pela repetição incessante. Ai de mim! Que me adianta falar-vos de meus feitos por terras distantes e minha mestria em ofícios tantos? Até a própria razão me pesa ao relembrá-los, e ao fazê-lo, como eco inútil, sou levado a perguntar:

De que me servem? De que me vale tanta erudição e esforço se o mundo escarra sobre eles com desprezo e zombaria? De que adianta uma bagagem carregada de vida, se a vida em si me a nega?!

"Quando digo que desde 31 de Dezembro de 2021, quando regressei a Florianópolis, já fiz o envio de cerca de 42.398 currículos há muitos que colocam em dúvida." Qual seria a média diaria de envios de currículos até o dia de hoje?

Desde 31 de dezembro de 2021 até hoje, passaram-se 1.078 dias. A média diária de envios de currículos é de aproximadamente 39,33 currículos por dia.

😊 ​​

E se desde então obtive apenas 6 empregos, qual foi a média currículo por emprego?

Se desde 31 de dezembro de 2021 você obteve apenas 6 empregos, a média é de aproximadamente 7.066 currículos enviados por cada emprego obtido.

terça-feira, dezembro 03, 2024

O Silêncio nos Bastidores: Denúncias de Nepotismo e Corrupção nos Processos Seletivos de Meios de Comunicação no Brasil - Por Nando Schweitzer


 "Adoro as publicações no LinkedIn dos meios de comunicação brasileiros, que, se não tens QI, jamais serás chamado sequer para a entrevista por vídeo-chamada." A frase, carregada de ironia e frustração, resume o sentimento de milhares de brasileiros que denunciam a falta de meritocracia e a prevalência de práticas duvidosas no mercado de trabalho, especialmente no setor midiático.

Os relatos, que circulam nas redes sociais e fóruns especializados, levantam suspeitas sobre um sistema de contratações que estaria mais pautado em relações pessoais e troca de favores do que em competências e habilidades. A sigla "QI", popularmente usada para se referir a "Quem Indica", simboliza a essência dessas práticas e uma constante jaz da comunicação no Brasil: indicações internas, nepotismo e conchavos políticos estariam se sobrepondo a critérios técnicos e avaliações justas. Mas até que ponto essa percepção é realidade?

Já consegui trabalhar em uma rádio fora do país, mas em quase uma década após me formar em comunicação social no Brasil, jamais ultrapassei a linha da entrevista laboral. Algo em meus vários artigos publicados e palestras(incluso na pós graduação da ECA-USP) devem estar completamente equivocados e descartadamente fora do nível da grande mídia abaixo a linha do Ecuador. Ao menos deste lado da fronteira, no mercado luso-brasileiro. Ou seria apenas falta de sorte?

O Mercado Impenetrável dos Meios de Comunicação

Mais fechado que orifício de heterossexual bolsonarista o setor de comunicação, pela sua natureza, sempre foi considerado um ambiente de alta competitividade e de difícil acesso. No entanto, denúncias sugerem que a competição muitas vezes é ilusória. "Você pode ter um portfólio impecável e diplomas das melhores universidades, mas sem o contato certo, não passa da primeira triagem", desabafa um profissional que preferiu manter o anonimato. Ele, como muitos outros, acusa grandes redes e agências de comunicação de priorizarem candidatos indicados por figuras influentes ou por familiares dentro da própria empresa.

A situação não é exclusiva de pequenos veículos ou mercados regionais. As acusações de práticas de favoritismo também recaem sobre gigantes da comunicação, incluindo redes de televisão, portais de notícias e agências publicitárias de renome. Para muitos, a "entrevista por vídeo-chamada" – que simbolizaria uma avaliação inicial justa e meritocrática – é algo que só acontece após a aprovação tácita de uma indicação interna.

Nepotismo e Corrupção: Um Problema Sistêmico

Especialistas apontam que o problema não se limita à comunicação. O nepotismo e as trocas de favores são historicamente enraizados em diversas indústrias brasileiras. Porém, a relevância social e o papel crítico da mídia tornam essas práticas ainda mais preocupantes no setor. "A mídia tem o papel de fiscalizar o poder e denunciar irregularidades, mas como esperar que isso aconteça se seus próprios processos internos não são transparentes?", questiona a socióloga Lígia Santos.

Além disso, muitos profissionais relatam a existência de "máfias internas" em que grupos de funcionários – geralmente em posições estratégicas – controlam quem entra e quem avança nas hierarquias. "É um ciclo vicioso. Só entra quem é da panelinha, e isso perpetua a exclusão de talentos que poderiam trazer diversidade e inovação para o setor", diz um jornalista veterano.

A Luta por Transparência Existe?

Embora os desafios sejam grandes, há iniciativas buscando maior transparência nos processos seletivos. Algumas empresas começaram a implementar políticas de recrutamento anônimas, nas quais os currículos são avaliados sem informações pessoais. Porém, o alcance dessas práticas ainda é limitado.

Plataformas como o LinkedIn também vêm desempenhando um papel importante ao dar voz aos candidatos. Postagens como a citada no início deste artigo frequentemente viralizam, gerando debates acalorados sobre a ética no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, organizações como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e sindicatos têm recebido denúncias, pressionando por mudanças estruturais.

O Que Estaria em Jogo?

A manutenção manutenção do status-quo e de um sistema baseado em indicações e conchavos afeta não apenas os profissionais diretamente prejudicados, mas também a sociedade como um todo. Ao privar o setor de comunicação de talentos qualificados, a qualidade do jornalismo e do conteúdo produzido vem sendo comprometida a muito tempo. Isso é especialmente crítico em tempos de desinformação e fake news, quando o país mais precisa de uma imprensa forte, ética e diversa.

A frase inicial deste artigo, mesmo sendo uma crítica ácida, carrega uma verdade que muitos já experimentaram na pele e outros por desejarem adentrar a corrutela cultivada por uma caterva midiática lutam por omitir. O desafio é transformar essa indignação coletiva em ações concretas para promover um mercado de trabalho mais justo, transparente e acessível.