Se nos remetemos ao getulhismo dos anos 30 no Brasil, ou ao peronismo que apesar de um perfil uns 30º a direita bebeu da mesma fonte de personificação e identidade popular única capaz de instaurar e estabelecer-se como o salvador do povo, nos vemos em uma retórica coronelista. Não existe nenhuma grande guinada modificadora estrutural em nenhum país sul-americano que não tenha ocorrido de cima para baixo, e pior que não ocorre em torno de uma figura a qual um partido se reúna em seu entorno e jamais o contrário. Cada qual a seu tempo e jogando com as pedras particulares de seu entorno foram representantes de uma dinastia que no caso do peronismo até hoje sobrevive.
Se a 63ª economia mundial com dois produtos de exportação pôde melhorar muitos índices de desenvolvimento de sua população, porque a 9ª economia mundial não logra o mesmo para mudar o modelo produtivo? Correa reinstituiu o Estado sobre as suas capacidades reguladoras baseadas na cidadania; graças à Constituição de 2008 se afirmaram direitos mais amplos. Assim são garantidas prioridade às condições de vida à população sobrepostas aos interesses do capital estrangeiro.
A prominencia de um discurso em torno de uma ideia que só pode ser assimilada por um contingente de apoio e disto por sequência tornar-se uma potência política é uma grande armadilha, pois. E seja para bem ou para mal. Ao colocarmos lado a lado os logros e desacertos de processos na América do Sul podemos claramente ver que enquanto uns se mantiveram fiéis ao seu propósito inicial outros se deturparam muitos vezes até antes de chegar ao poder. Facilitemos ao leitor esta episteme dialética com exemplos antagónicos. Analisando os processos brasileiros e equatorianos podemos ver a discrepancia entre discursos que em seu bastião eram semelhantes, mas que em seu cumprimento tomaram rotas completamente díspares.
"Que a sociedade esteja acima do mercado...", assim falou o ex-presidente Correia ao expressar qual é o seu maior objetivo como presidente de uma nação que saiu de índices de alarmante pobreza e dependencia, e só o fez com uma auditória da dívida que o lulo-petismo se recusou a fazer. Não no processo, mas se recusara já antes de ascender ao poder em sua famigerada Carta de Compromisso aos Brasileiros em 2002, firmada e proclamada na cidade de Recife.
Rafael conseguiu modernizar o discurso socialista, o que muitos podem aferir a uma verdadeira política de centro aonde aporta que existe uma diferença entere "uma sociedade de mercado" e uma sociedade com mercado". Este sendo seu discurso em que aponta o erro do socialismo clássico, equívoca ao qual ele nunca cometeu. Em uma política difusa, mas contundente aonde o mercado nunca deixou de existir, mas teve de conviver com um estado forte e que sempre buscou equilibrar e redistribuir as riquezas do país andino.
Jamais colocaria a máxima de que a conspiração é o mote que guia a história, mas nunca existe história aonde não há conspiração. Obviamente que no Brasil os que conspiram sabem o pôr que de fazê-lo. O grande problema atual é que os mesmos que se serviram do banquete do crescimento econômico da era pseudo-esquerdista, a classe-média e média-alta, por falta de alfabetização política e caráter ao primeiro declínio de sua meteórica ascensão tenha se voltado ferozmente a quem lhe colocara como novo protagonista da história.
Facilmente podemos enxergar que nas últimas décadas a classe mediana do país passou a ter um enorme poder financeiro, claro que dentro desta margem de por mais que se creia rica é apenas classe -média em um ambiente de não-crise. Mas para tal se beneficiou do novo poder de compra artificial basado na bolha de crédito dada a casta baixa. Ou seja, a casta baixa subiu milímetros calculados pelos mandantes da pseudo-esquerda inclusiva e assim geraram um consumo que beneficiou diretamente as elites e respingou nesta burguesia hipócrita que atualmente protesta contra a corrupção com camisetas da CBF. A considerar que a classe-média brasileira sempre votou em corruptos e como seguiu preocupada com comer e não cair no fosso jamais protestou contra a corrupção endêmica no Brasil.
Após Lenín Moreno, do partido do governo, Movimento Alianza País, haver sido confirmado como vencedor do segundo turno realizado no Equador em 2 de abril e após o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral(CNE) dos resultados oficiais da eleição houveram levantes da oposição acusando de fraudado o resultado. Algo semelhante ao ocorrido no Brasil após a releição da candidata neoliberal do Partido dos Trabalhadores.
Um imenso problema das democracias modernas e seus aparelhos apoiantes, pero no mucho, a imprensa incorre no ato de sempre levantar suspeitas aos processos eleitorais quando estes não dão como resultado a vitória dos conservadores apoiados pelos oligopólios midiáticos. No Brasil o chamado PIG, Partido da Imprensa Golpista, usou de mesma retórica ao ponto objetivo de desgastar a continuidade do projeto petista. Embora suas práticas façam uma miscelânea entre políticas progressistas e neoliberais, parecem ser atualmente insuficientes para agradar a elite que se aproveitou do desgaste temporal de 4 mandatos petistas para criarem um ambiente de intercalação de forças políticas no poder.
Estruturalmente e sem partidarismos, ou numa visão do exterior sobres as políticas desenroladas pelo lulo-petismo, não existem sombras ou dúvidas em três pontos: a pobreza média no Brasil diminuiu, políticas liberais foram seguidas como modelo econômico continuísta aos governos do PSDB e pouco se evoluiu no paradigma de amplitude na escala do abismo social entre os mais ricos e os mais pobres.
O grande aspecto que diferenciou Correa de Lula em sua jornada foi que enquanto um se amasiou com as elites, outro as combateu. Os negócios de um país com apenas 2 produtos de exportação como o Equador, com tantos países, e com uma forte presença chinesa, embora sequer moeda própria existe no país andino é uma clara mostra de que quando se há vontade política uma nação pode se desenvolver fora do guarna-chuva do neoliberalismo.
A grande crítica feita desde a esquerda europeia feita ao continente americano é a grande inveja do velho continente. É que Rafael Correia usou sim um protecionismo e atos personalistas, embora sua forma de agir tenha resultado em um protagonismo do povo es este se há dado pelo processo claro de transição das matrizes produtivas de matérias primas e recursos naturais como o imposto compulsório de 1% do petróleo a áreas como a distribuição da riqueza e investimentos em educação.
Se a 63ª economia mundial com dois produtos de exportação pôde melhorar muitos índices de desenvolvimento de sua população, porque a 9ª economia mundial não logra o mesmo para mudar o modelo produtivo?
Podemos ainda nos alongar sobre a direitização da população, ou povo, como preferem alguns populistas em discursos inflamados. Mas o pendulo popular é cíclico. As elites empobrecem a classe média através de governos de direita, e a clase média recua ao centro pois está doutrinada a temer a esquerda real. Demagogos de centro-direita como Lula se aproveitam de tal momento social e chegam ao poder. Se auto-proclamam esquerdistas, ao mesmo tanto que seguem políticas neo-capitalistas para retribuir o apoio dado a eles por elites hipócritas, mas logo ao que esgotam-se no poder o perdem para setores direitistas, estes apoiados por uma empoderada e ambiciosa classe média tosca e carente de princípios morais históricamente.
Por concluir. Não existe população esquerdista na América do Sul. Existem setores conservadores que hora se utilizam de políticas de centro para melhorar seu nível de vida em um plano imediatista e que por falta de visão e ambição voltam a direita tentando dar o pulo do gato. Mas por serem miopes caem no salto no abismo mediocre da baixa-classe média. E voltam a beliscar de discursos um pouco mais ao centro, como o intuito de voltarem a ser "ricos" como acreditavam ser a pouco no processo anterior desta roda que beneficia sempre a casta alta.
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