Nem Fado, nem Futebol. O Salvador da vez é outro miúdo

Algo similar por terras da América do Sul só se vira nos fabulosos festivais da canção nos áureos anos 60 e 70 no Brasil, ou no México pós a era de ouro do cinema azteca em grandes concursos da canção. Algo entre Roberto Carlos e João Gilberto, na voz. Tintas de Antonio Azambuja no arranjo. Métrica de Jorge Benjor. Viço de Elis Regina. Alma ludicamente amaliana, mas nada fadista. Eis que ressurge depois da fuga o luso mais falado do momento no mundo. Não, não é CR7. Nada contra ao medeirense sem roupas, e nem com uniformes. Mas o frisson da hora, ao menos até o próximo sábado é o desprolixo Salvador Sobral.

O novo continente, ou novo mundo, como se prefira rotular deveria possuir um concurso similar ao Eurovisão. Imagine uma competição intercontinental da canção das Américas? Seria um grande acontecimento. Mas por hora só resta invejar os Europeus ou rezar para norte-americanos convidarem os sudacas para o GRAMY Latino.

Singular. Essa é a melhor definição. Usando de poucos semitons, algo não muito comum aos interpretes portugueses, o jovem lisboeta de 27 anos está a causar furor e discussões variadas nas redes sociais pela Europa. Pois pois... Graças a ele e a composição de sua irmã mais velha(Luísa Sobral) Portugal está na final do Festival Eurovisão da canção. A final decorre no próximo sábado em Kiev, na Ucrânia. Portugal passa à final com mais nove países na noite aonde atuaram representantes de 18 países. Salvador Sobral interpretou o tema Amar pelos Dois perante uma sala em silêncio.

De silêncios se faz também esta canção. De sutileza ímpar e por mim raramente escutada nos últimos 20 anos, com um tema que me remete muito ao início da carreira de Mercedes Sosa, quando esta usava de muito cuidado e virtuosismo na execução sensível de seus recitais e repertório. Sua performance no festival se assemelha a sublime exibição da diva argentina na TV Suíça em 1980, essa postura de transportar o espectador a emoção da história cantado sem furuletes e excessos.

Apesar do discurso em voga da influência imperialista na sua musicalidade, que não percebo nele graças ao que se possa vislumbrar de mais sagrado, o vejo como a anti-imperilização da música e do Eurovisão. É um dos poucos da edição a não cantar em inglês e que não levará a Kiev um pop chechelento com ranços de boyband dos anos 90.

Conhecido na cena tuga, em 2009 voltou a participar num concurso televisivo, ao concorrer na terceira edição de Ídolos, da mesma estação, onde foi finalista. Estudante de psicologia, viajou para Maiorca, ao abrigo do Programa Erasmus, onde acabou por tocar em bares. De novo em Lisboa, decidiu abandonar os estudos de psicologia e inscrever-se na prestigiada escola Taller de Músicas, em Barcelona.

Ainda em Barcelona, no início de 2014, colaborou com a banda de pop-indie Noko Woi. Em 2015 integrou a programação do Vodafone Mexefest e participou também no EDP Cool Jazz. Em março de 2016 foi editado o seu disco de estreia, Excuse Me, com coprodução musical do pianista Júlio Resende, do venezuelano Leonardo Aldrey e do próprio.

Tantas influencias não me parecem ter influenciado na autenticidade do miúdo, mas talvez lhe deram um rumo a não seguir e consolidaram sua personalidade. Claro que outra marca suas são as roupas de feitio e gosto duvidoso cosidas pela própria mãe do artista e que também geram muitas controvérsias entre fãs e destratores. 

A final é disputada no sábado por representantes de 26 territórios: os 20 qualificados nas semifinais, os denominados 'Cinco Grandes' (França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido) e o país anfitrião (Ucrânia). Lá novamente executará o tema Amar pelos Dois, composto por Luísa Sobral, que venceu a 06 de março a final do Festival da Canção transmitido pela emissora lusitana RTP, que decorreu no Coliseu dos Recreios em Lisboa e foi disputada por oito canções.

Oque é o Eurovisão?

Baseado no festival de música de São Remo, o primeiro festival eurovisivo saiu da mente da EBU. O nome do concurso deriva da palavra Eurovision que é a primeira palavra da cadeia de televisões europeia: a European Broadcasting Union (EBU) (União Europeia de Radiodifusão em português). Embora raramente se vejam canções como a de Salvador ou a ganhadora do último Festival de San Remo de Stadio, um rock sentimental a sabor antigo dos anos 80 ni Italia, Un giorno mi dirai. 

A ocorrer desde 1956, o Festival Eurovisão da Canção (em inglês: Eurovision Song Contest, também utilizado no Brasil, e em francês: Concours Eurovision de la Chanson) é um concurso anual de canções transmitido pela televisão com participantes de diversos países cuja televisão nacional transmissora é membro do European Broadcasting Union. O concurso é transmitido na televisão e também na rádio por toda a Europa. Recentemente, a transmissão do mesmo foi também alargada a outros países não europeus por meio dos canais internacionais dos seus membros e também pode ser acompanhada na Internet.

A quem queira fazer suas apostas, essa é a lista dos concorrentes

Sistema de Votação do Festival Eurovisão da Canção

• O sistema de votação no evento é dividido entre o público e o júri. Qualquer que seja o espetáculo (semi ou final), o espectador vota através de telemóvel ou SMS, sendo permitidos no máximo 20 votos para cada número telefónico, sendo que é impossível votar no seu próprio país. A ordem das apresentações é definida pela produção dos concertos, representa a música com um determinado número; sendo que a votação só ocorre depois da última apresentação.
• A contagem dos votos nas semifinais permanece em segredo até que se conheça o vencedor do festival. Isso ocorre para manter a expetativa dos participantes e do público, bem como para não influenciar as decisões na final. A divulgação dos países finalistas nas semifinais é aleatória não correspondendo a nenhum ranking de pontuação.
• Os pontos são distribuídos em dois combos de: 1 a 7, 8, 10 e 12 pontos, numa combinação do televoto + votação do júri. Na final a votação é idêntica às semifinais só que é feita em aberto e apresentada ao público em tempo real pelo porta-voz de cada país.