"Adoro as publicações no LinkedIn dos meios de comunicação brasileiros, que, se não tens QI, jamais serás chamado sequer para a entrevista por vídeo-chamada." A frase, carregada de ironia e frustração, resume o sentimento de milhares de brasileiros que denunciam a falta de meritocracia e a prevalência de práticas duvidosas no mercado de trabalho, especialmente no setor midiático.
Os relatos, que circulam nas redes sociais e fóruns especializados, levantam suspeitas sobre um sistema de contratações que estaria mais pautado em relações pessoais e troca de favores do que em competências e habilidades. A sigla "QI", popularmente usada para se referir a "Quem Indica", simboliza a essência dessas práticas e uma constante jaz da comunicação no Brasil: indicações internas, nepotismo e conchavos políticos estariam se sobrepondo a critérios técnicos e avaliações justas. Mas até que ponto essa percepção é realidade?
Já consegui trabalhar em uma rádio fora do país, mas em quase uma década após me formar em comunicação social no Brasil, jamais ultrapassei a linha da entrevista laboral. Algo em meus vários artigos publicados e palestras(incluso na pós graduação da ECA-USP) devem estar completamente equivocados e descartadamente fora do nível da grande mídia abaixo a linha do Ecuador. Ao menos deste lado da fronteira, no mercado luso-brasileiro. Ou seria apenas falta de sorte?
O Mercado Impenetrável dos Meios de Comunicação
Mais fechado que orifício de heterossexual bolsonarista o setor de comunicação, pela sua natureza, sempre foi considerado um ambiente de alta competitividade e de difícil acesso. No entanto, denúncias sugerem que a competição muitas vezes é ilusória. "Você pode ter um portfólio impecável e diplomas das melhores universidades, mas sem o contato certo, não passa da primeira triagem", desabafa um profissional que preferiu manter o anonimato. Ele, como muitos outros, acusa grandes redes e agências de comunicação de priorizarem candidatos indicados por figuras influentes ou por familiares dentro da própria empresa.
A situação não é exclusiva de pequenos veículos ou mercados regionais. As acusações de práticas de favoritismo também recaem sobre gigantes da comunicação, incluindo redes de televisão, portais de notícias e agências publicitárias de renome. Para muitos, a "entrevista por vídeo-chamada" – que simbolizaria uma avaliação inicial justa e meritocrática – é algo que só acontece após a aprovação tácita de uma indicação interna.
Nepotismo e Corrupção: Um Problema Sistêmico
Especialistas apontam que o problema não se limita à comunicação. O nepotismo e as trocas de favores são historicamente enraizados em diversas indústrias brasileiras. Porém, a relevância social e o papel crítico da mídia tornam essas práticas ainda mais preocupantes no setor. "A mídia tem o papel de fiscalizar o poder e denunciar irregularidades, mas como esperar que isso aconteça se seus próprios processos internos não são transparentes?", questiona a socióloga Lígia Santos.
Além disso, muitos profissionais relatam a existência de "máfias internas" em que grupos de funcionários – geralmente em posições estratégicas – controlam quem entra e quem avança nas hierarquias. "É um ciclo vicioso. Só entra quem é da panelinha, e isso perpetua a exclusão de talentos que poderiam trazer diversidade e inovação para o setor", diz um jornalista veterano.
A Luta por Transparência Existe?
Embora os desafios sejam grandes, há iniciativas buscando maior transparência nos processos seletivos. Algumas empresas começaram a implementar políticas de recrutamento anônimas, nas quais os currículos são avaliados sem informações pessoais. Porém, o alcance dessas práticas ainda é limitado.
Plataformas como o LinkedIn também vêm desempenhando um papel importante ao dar voz aos candidatos. Postagens como a citada no início deste artigo frequentemente viralizam, gerando debates acalorados sobre a ética no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, organizações como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e sindicatos têm recebido denúncias, pressionando por mudanças estruturais.
O Que Estaria em Jogo?
A manutenção manutenção do status-quo e de um sistema baseado em indicações e conchavos afeta não apenas os profissionais diretamente prejudicados, mas também a sociedade como um todo. Ao privar o setor de comunicação de talentos qualificados, a qualidade do jornalismo e do conteúdo produzido vem sendo comprometida a muito tempo. Isso é especialmente crítico em tempos de desinformação e fake news, quando o país mais precisa de uma imprensa forte, ética e diversa.
A frase inicial deste artigo, mesmo sendo uma crítica ácida, carrega uma verdade que muitos já experimentaram na pele e outros por desejarem adentrar a corrutela cultivada por uma caterva midiática lutam por omitir. O desafio é transformar essa indignação coletiva em ações concretas para promover um mercado de trabalho mais justo, transparente e acessível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário