No Brasil contemporâneo, a polarização entre petistas e bolsonaristas exemplifica um dos períodos mais intensos de divisão política e social do país. Este fenômeno transcende o mero embate ideológico entre esquerda e direita, assumindo contornos emocionais, culturais e até religiosos, com implicações profundas na convivência social e na democracia.
Petistas, geralmente associados à esquerda, defendem pautas como a intervenção estatal para a redução das desigualdades sociais, direitos trabalhistas fortalecidos, políticas públicas inclusivas e a ampliação de direitos civis. Já os bolsonaristas, representantes da direita conservadora, pregam valores como a defesa da família tradicional, a redução do papel do Estado na economia, o armamento civil e a manutenção de uma moralidade baseada em princípios religiosos.
No entanto, há algo peculiar na polarização brasileira: ambos os lados, em momentos de crise, recorreram a práticas que contrariam seus discursos teóricos. Governos de esquerda adotaram políticas de austeridade econômica e estabeleceram alianças com setores tradicionais do poder político, enquanto governos de direita ampliaram gastos públicos e criaram programas sociais para atender a demandas emergenciais, como na pandemia de COVID-19. Esse hibridismo não raro confunde as definições tradicionais de esquerda e direita.
O “CENTRO” E SUA FRAGILIDADE
Entre os polos, o espaço para um “centro” político no Brasil tem se mostrado frágil e fragmentado. Embora existam partidos e lideranças que busquem se posicionar como moderados, muitas vezes acabam absorvidos pela lógica binária da polarização. Isso ocorre, em parte, porque o centro no Brasil é frequentemente visto como pragmático demais, carente de ideologia, ou simplesmente oportunista, servindo mais como negociador de poder do que como alternativa viável para o eleitorado.
EXTREMISMOS E INTOLERÂNCIA
Nas margens da polarização, prosperam os extremos. Na extrema esquerda, o discurso revolucionário defende a nacionalização de setores estratégicos, uma redistribuição forçada de renda e o enfraquecimento de instituições tradicionais. Na extrema direita, a pauta inclui a criminalização de movimentos sociais, o culto à ordem e autoridade, e a exclusão de ditas minorias ideológicas sob o pretexto de preservar valores nacionais. Ambos os extremos compartilham características como a aversão ao diálogo e o uso de narrativas conspiratórias.
A polarização brasileira não é apenas racional, mas também profundamente emocional. Escândalos de corrupção, como os revelados pela Lava Jato, e crises econômicas agravaram o sentimento de desilusão com as instituições, contribuindo para a ascensão de lideranças populistas que exploram medos e aspirações da população. Eventos traumáticos, como a pandemia de COVID-19, também moldaram percepções ideológicas, acentuando a desconfiança em relação a adversários políticos e aumentando a adesão a narrativas radicais.
O ELEITORADO E O ESTRESSE POLÍTICO
Estudos sugerem que o estresse social e político pode impactar a participação eleitoral no Brasil. O ambiente polarizado, somado à constante exposição a crises e conflitos, gera apatia em parte do eleitorado. Isso ajuda a explicar abstenções crescentes em eleições recentes, bem como a preferência por lideranças que prometem soluções rápidas e simplistas para problemas complexos.
Reduzir o debate político brasileiro a rótulos simplistas como “esquerda” e “direita” empobrece a compreensão das dinâmicas sociais e políticas em curso. O Brasil atual exige análises mais profundas, que reconheçam a complexidade das escolhas eleitorais, a multiplicidade de interesses em jogo e a necessidade urgente de promover o diálogo e a cooperação entre diferentes segmentos da sociedade. Afinal, a política não se limita a dobrar à esquerda ou à direita, mas a encontrar um caminho que sirva ao bem comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário