sexta-feira, outubro 21, 2016

HUMOR GROTESCO: Estreia em Florianópolis comédia uruguaia inédita no Brasil

Elenco d'A Tribo da Arte em cena de O Cortejo
O Cortejo é a adaptação firmada pelo diretor e autor teatral galego, Nando Schweitzer. Usado o texto do uruguaio Jacobo Langsner, mesclado a versão cinematográfica argentina(1985) e ambientada no bairro paulista do Bixiga. Esperando la Carroza(título original) é uma comédia ácida e de matizes muito rebuscados, o termo no castelhano rio-platense significa "cortejo fúnebre" ou velório. A montagem emerge no contexto do atual teatro brasileiro insosso e repetitivo como um ar remoçado em meio a espetáculos inacessível ao grande público que migrou nos últimos anos para o cinema norte-americano ou a comédia de baixo QI ao estilo stand-up comedy.

Com uma proposta cênica ousada, o espetáculo promete a seu público como meta o mínimo de 57 gargalhadas garantidas ou seu ingresso de volta. Claro que se a pessoa tiver um bom nível intelectual ela dobrará a meta. Em uma adaptação interativa e fugaz o eclético elenco composto por atores de 3 nacionalidades(brasileira, galega e chilena) em uma formação completamente distinta buscará abordar através do humor grotesco crioulo contido a base textual da obra do uruguaio Jacobo Langsner delicados temas como diferenças sociais, traição e falsidade, além do descarte de pessoas da terceira idade por familiares.

No Brasil o gênero de humor grotesco é praticamente inexiste. Somado a este fator, o ineditismo do autor Jacobo Langsner foram a grande prerrogativa da decisão da Companhia A Tribo da Arte em traduzir, adaptar e produzir o seu maior sucesso em nível internacional. O romeno, radicado no Uruguai, e ainda vivo recebe de então a promessa dos artistas de honrar sua trajetória de prêmios em ambos lados do Atlântico.

São o tripé da montagem a pesquisa linguística do sotaque típico do bairro do Bixiga, na capital paulista que abriga a maior colônia de italianos e ascendentes do planeta praticando a uniformização da linguagem e sonoridade; a crítica sociocultural abordada no texto quanto ao descarte dos idosos em uma sociedade brasileira que em sua média envelhece a passos largos; e a desconstrução do discurso de que o único teatro possível é o subsidiado, superfaturado e insípido teatro com atores globais e grandes patrocínios como forma de entretenimento e instrumento artístico, ou de reflexão.

O elenco atual conta com artistas residentes em Florianópolis provindos de várias regiões do Brasil, e do exterior(Chile e Galícia). Todas essas experiências se uniram em prol de contar uma história, estudando a cultura e história de um bairro da cidade de São Paulo para vestirem-se corporal, intelectual e emotivamente destas personagens em uma versão única deste grande autor sucesso internacional.

QUANDO? 05(Estreia), 12, 19 e 26 de Novembro/2016
HORÁRIO? 17:00h (Estreia); 19:00h (Temporada)
QUANTO? P$ 15,00 (Quinze pila, colaboração mínima e forçosamente espontânea)
LOCAL? Centro Cultural MATRIKA - Rua: Auroreal, 716 - Campeche (Esquina ao Baia)

Sinopse - A octogenária Mama Cora (Susan Margot), tem quatro filhos: Antonio (Nando Schweitzer), Sérgio (Jackson Bosa), Emilia ( Paz Millan Camila) e Giorgio(Willian Borba). Cora vive com este último, que passa por uma situação econômica angustiante, estresse financeiro e falta de espaço. Conflitos de gerações constantes somados ao péssimo humor de sua nora, Susana(Cami Delbene), disparam a trama de Esperando o Cortejo.
Susana após ter uma maionese transformada acidentalmente em flã vai desesperadamente a casa de seu cuinhado Sergio, implorar para que a idosa vá viver com ele por um tempo. Ela que estava a preparar maionese, e foi ao encontro de sua filha, deixando-a a merce de Mama Cora. Chegando furiosa a casa de Sérgio, que espera a ala rica da família para o almoço de domingo preparado por sua esposa, a Elvira(Thais Martini) e sua filha Matilde(Gabriela Magnani). Em meio a discussão de onde irão descartar a ancião e matriarca chegam os novos-ricos Antonio e Nora(Raisa Carolina), sua esposa, que têm promovido o almoço econômica e socialmente em circunstâncias pouco claras.

O destino de Mama Cora enquanto o almoço não se inicia é desconhecido. Ao passo que ninguém quer assumir a responsabilidade para a idosa, e cada um tentará que impor a sua opinião, a ancião desaparece. Ao buscar sem encontrá-la os filhos fazem uma denúncia do desaparecimento a polícia e logo chega a notícia de que foi encontrado o cadáver desfigurado de uma velha debaixo de um trem. Os filhos fazem o reconhecimento do corpo se inicia o funeral aonde se revelarão muitos fatos obscuros desta peculiar família de ascendentes italiano do Bairro do Bixiga, pois algo há de se fazer enquanto todos estão esperando O Cortejo.

Giorgio – WILLIAN BORBA
Susana - CAMI DELBENE
Mama Cora – SUSAN MARGOT
Sergio – JACKSON BOSA
Elvira – THAIS MARTINI
Matilde - GABRIELA MAGNANI
Nora – RAISA CAROLINA
Antonio – NANDO SCHWEITZER
Emília - PAZ MILLAN

ADAPTADO E DIRIGIDO POR Nando Schweitzer

Spoiler - Mama Cora é uma idosa com cerca de oitenta anos (sua verdadeira idade é desconhecida, incluso por seus filhos), viúva, mãe de quatro filhos: Antonio, Giorgio, Sergio e Emilia. Ela vive no bairro de Bixiga em São Paulo com seu filho Giorgio e sua esposa Susana, a quem provoca vários desconfortos. Percebendo isso, ele decide deixá-los sozinhos por umas horas e desaparece sem avisar a ninguém. Todos seus filhos após reconhecerem um destroçado cadáver acreditam que Mama Cora havia cometido suicídio, atirando-se debaixo de um trem na Lapa. Quando, depois de algumas horas, reaparece em seu próprio velório, muita já se descarrilhou e se desvelou sobre esta instável família.

Giorgio é o filho mais velho de Mama Cora, casado com Susana com quem tem uma filha que vive a chorar pelos nervos da histérica mãe. Toda a família vive com Mama Cora, causando situações nervos e problemas na convivência. Apesar de tudo isso, como Giorgio viveu muitos anos com sua mãe, ele tem um bom relacionamento com ela, e é o filho que realmente se sente um carinho sincero por ela. Após inúmeras substituições na montagem seu intérprete é Nando Schweitzer.

Susana tem vários argumentos com irmãos do marido, do pôr que ela não pode suportar sua mãe e precisa de sua mudança imediata: a falta de recursos, estrutura e a bebê pequena que Mama Cora quase afogou ao tentar banhar. Embora Mama Cora seja uma boa pessoa, os sucessivos acidentes domésticos causados pela doce velhinha tiram Susana de seu quício, transformando a convivência pesada e angustiante. Neste plácido domingo encalorado ela buscara o cunhado Sergio, irmão de seu marido Jorge, que vive com a esposa Elvira a pedir-lhes guarida a Mama Cora ao menos por um tempo e a recusa causa uma enorme discussão entre cunhadas. Em sequência, uma série de problemas surgem porque eles não encontraram Mama Cora e pensam que ela tinha morrido, sem saber que aonde estava. A personagem é vivida na montagem pela atriz chilena, Cami Delbene.

Elvira Romero de Musicardi, esposa de Sergio, filho entre-meio de Mama Cora. Talvez a mais sincera e por isto a mais cruel personagem desta obra teatral, mas também a que mais o público poderá se enxergar. A ela apenas importa complacer aos parentes mais ricos da família, neste caso Antonio e Nora. Tem uma ríspida má vontade para com sua cunhada Susana, obviamente a mais pobre das cunhadas e ignora plenamente a existência de Emilia a mais miserável dentre os quatro filhos de Mama Cora, que vive em uma favela. Elvira prima e aventa voluptuosamente seu pensamento sobre tudo e trás forte crítica social por via de um sarcasmo do autor em deflagrar o quanto todos nós somos abutres e cordeiros ao mesmo tempo.

Sergio Buscaroli de Musiardi, casado com Elvira e possui uma filha, a fogosa Matilde. Ele é preguiçoso, não gosta muito de banho, e prefere deixar todos os assuntos da casa nas mãos de sua esposa. Ele mantém um affair em relação a Nora, a esposa de seu irmão Antonio, que tenta esconder sob tudo, embora às vezes seja muito evidente. Vive muito consciente das aparências, preocupado com o que possam pensar os vizinhos no funeral "em curso" de sua mãe.

Matilde Romero de Muicardi é a filha de um casal que se não é o típico, ao menos há um em cada família. Resulta ser muito protegida pela mãe e ao mesmo controlada parcialmente pelo pai que finge ser enérgico e ao fundo é um banana. A recorrente moça de periferia que vê na tia rica o espelho do sucesso, e em seu tio que a assedia uma possibilidade de receber presentes e agrados que sua família não pode comprar. Com uma personalidade similar em seu matiz escandaloso a mãe, e uma inocência quase que beirando a tolice herdada de seu pai, Matilde põe na berlinda acidentalmente temas que todos já sabem, mas preferem fazer vista grossa. Assídua frequentadora da quadra de samba da Vai-Vai, lá vara madrugadas em busca de se exibir e atrair os com seus dotes físicos e sedução aos bons partidos da região. Contudo é muito sensível e se vê em polvorosa quando recebe a notícia da morte de sua nona e de que ainda mais o velório da mesma será em seu quarto.

Nora de Musicardi é uma típica nova rica. De origem humilde, vê no mafioso Antonio um dos filho de Mama Cora a oportunidade de ascender socialmente. Casados e sem filhos devido a sua suposta esterilidade a personagem é uma mescla entre ostentação e exagero que beira o mal gosto pelo excesso. Apesar de não suportar a família escandalosa e vulgar de seu marido, abre uma pequena exceção para confraternizar aos domingos com o cunhado Sergio, por quem se sente atraída sexualmente e sua esposa histriônica Elvira.

Antonio Buscarolli de Musicardi é um dos quatro filhos de Mama Cora, o mais abastado no aspecto econômico. Casado com Nora, ele trabalha em uma empresa de serviços financeiros. Possui uma certa apreciação para a família, mas não além de suas intenções de compartilhar alguns momentos juntos ocasionalmente aos domingo. Antonio mantém relações com personagens obscuros da força policial, e toda a sua família suspeita que sua fortuna tem fonte em atos ilícitos. Os familiares da ala pobre suspeita que ajuda economicamente seu irmão Sergio e ele por sua vez se coloca disposto a fazer o mesmo com seu irmão Giorgio, de modo a não se sentir tão culpado sobre a falta de atenção que presta sua mãe que reside com o irmão humilde. Tenta ignorar todas as situações que fazem a ele pensar na pobreza ou miséria ao seu redor, principalmente de suas origens.

Emilia Buscarolli de Musicardi é a única mulher dentre os quatro filhos da Mama Cora. Ela ficou viúva e cuida do filho Cacho, sozinha em uma casa muito precária, apoiado pelo trabalho de Emilia como uma lavadeira na mesma favela em que mora. Emilia sente um grande carinho por sua mãe e é, junto com seu irmão Giorgio, um dos personagens mais afetados pela notícia da morte de sua mãe. Emilia é a irmã da família mais sacrificada. Sem um marido e um filho para sustentar, tudo o que ganha no trabalho é para o sustento. Ela representa a extrema pobreza que existe nas grandes cidades e no país. Sem casa e com grande sacrifício sobrevive a uma dura realidade.

Filme baseado na obra original e roteirizado pelo próprio Jacobo Langsner
Esperando la Carroza

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