segunda-feira, fevereiro 24, 2025

A Grama do Vizinho Continua Mais Verde?

Fernando Schweitzer, Florianópolis-SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista


"A liberdade da mídia não se mede pelo que se pode dizer, mas pelo que se ousa mudar." Muito se falou e muito mais se falará sobre política, mídia e futebol. Três pilares da discussão social que, em tempos de polarização extrema, assumem contornos ainda mais radicais. O mundo de 2025 se vê novamente imerso no retorno da ultradireita, reconfigurando narrativas e redefinindo as prioridades do entretenimento e da informação.

A TV, como reflexo da sociedade, espelha essas mudanças e, em alguns casos, reforça suas estruturas. No Brasil, onde a tradicional dominação das grandes emissoras sempre ditou o consumo midiático, a rigidez dos formatos e a busca incessante por status continuam sendo elementos centrais na cultura televisiva. Mas até que ponto esse modelo ainda se sustenta?

O Paradigma da TV Aberta: Brasil x Argentina

Ao visitar Buenos Aires, é impossível não notar um ecossistema televisivo distinto do brasileiro. A líder argentina, Telefe, embora ocupando um papel dominante, apresenta uma dinâmica diferente: a busca pelo conteúdo acima do status. Um exemplo clássico é o programa CQC, originado na produtora independente Cuatro Cabezas e transmitido por diferentes canais no mundo ao longo dos anos e em seu país nativo mudou de emissora algumas vezes.

No Brasil, essa mobilidade televisiva é rara. Programas como "Ídolos" apenas migraram de emissora devido a questões contratuais internacionais. Fora isso, formatos se mantêm estagnados e, mesmo quando perdem seu elenco principal, persistem como marcas imutáveis. Isso cria uma estrutura de dependência de grandes redes, fazendo com que a qualidade seja frequentemente subordinada à reputação de seus astros e não ao potencial criativo.

A Nova Ordem Midiática e o Avanço da Ultradireita

Com o renascimento da ultradireita ao redor do mundo, incluindo o Brasil, a comunicação passa a ser instrumentalizada de forma ainda mais incisiva. O discurso de que apenas "uma verdade oficial" deve prevalecer cresce, minando espaços de experimentação cultural e consolidando um oligopólio ideológico na mídia.

A Argentina, apesar de também enfrentar ondas conservadoras, mantém sua tradição de valorização do conteúdo acima da estrela. Um exemplo emblemático foi a trajetória de Cris Morena, criadora de êxitos como Chiquititas e Floricienta, que não hesitou em levar suas produções de um canal a outro, sem perder relevância. Enquanto isso, no Brasil, um programa como Casseta & Planeta jamais conseguiría existir fora do guarda-chuva de uma gigante como a Globo.

A Massificação e o Engessamento Criativo

A TV brasileira, ancorada na segurança de sua bolha tradicional, perpetua um discurso homogêneo e robotizado. Os formatos são reciclados, os talentos são os mesmos e as apostas continuam seguras. Em um mundo onde a mídia digital pulverizou o monopólio da audiência, insistir em um modelo fechado parece, no mínimo, anacrônico.

Se Garrincha, por fugir do padrão comportamental da sociedade conservadora, nunca foi considerado o verdadeiro rei do futebol, podemos dizer que a suposta qualidade da TV brasileira é uma ilustração perfeita de como a massificação impõe limites criativos.

A verdade é que a TV argentina prova que o conteúdo sobrevive sem um rótulo fixo. E se no Brasil a insistência na imutabilidade de formatos perdurânticos, talvez seja a hora de nos perguntarmos: a grama do vizinho continua mais verde? Ou apenas nos recusamos a olhar para o próprio quintal?

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Que esquerda é essa companheiro molusco?


 Hoje nosso artigo vai por um novo caminho. Resolvi listar algumas das razões e/ou justificativas para afirmar que o lulopetismo não é de esquerda, eis:

  1. O pragmatismo do "toma lá, dá cá" – Um esquerdista de verdade enfrenta o sistema, não se alia a ele.
  2. A aliança com banqueiros – Os donos do dinheiro nunca tiveram tanto lucro como nos governos petistas.
  3. O “nunca antes na história deste país” – Frase repetida como um mantra, mas sem revolução.
  4. O mensalão e o petrolão – A corrupção institucionalizada como método de governabilidade.
  5. O discurso populista – Mistura de Getúlio com sindicalismo velho, mas sem mudança estrutural.
  6. Os jantares com a Faria Lima – Uma esquerda que confraterniza com o capital financeiro?
  7. O abraço em Maluf – Se até o Maluf cabe na “esquerda” do Lula, então o conceito perdeu o sentido.
  8. A falta de projeto socialista – Governou mais próximo da social-democracia europeia do que de qualquer esquerda radical.
  9. O apoio às empreiteiras – O BNDES financiou grandes empresários enquanto o povo continuava no aperto.
  10. A institucionalização da miséria – Programas sociais sem porta de saída são paliativos, não transformação.
  1. O look operário virou terno Armani – Trocar o macacão pelo paletó não é coisa de revolucionário.
  2. O “sapo barbudo” virou amigo do Rei – De sindicalista rebelde a compadre da elite.
  3. O conservadorismo nos costumes – O PT nunca teve coragem de bancar pautas progressistas de verdade.
  4. A bajulação de ditadores – Esquerda de verdade defende liberdade, não afaga tiranos.
  5. O bordão “nunca soube de nada” – O Che Guevara deve revirar no túmulo cada vez que Lula diz isso.
  6. O amor pelo capitalismo de Estado – Um governo que enriqueceu empresários amigos não é socialista.
  7. O jeitinho brasileiro virou método de governo – A esquerda que prega ética não pode viver de conchavo.
  8. O discurso reciclado – Fala de mudanças radicais, mas governa no “mais do mesmo”.
  9. O país do futebol, cerveja e Bolsa Família – Enquanto isso, educação e cultura seguem no banco de reservas.

A ironia final seria que, no fundo, Lula não é de esquerda nem de direita—é apenas um sobrevivente da política brasileira, moldado pelo jogo de poder.

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

6x1 ou 5x2: Qual o Melhor Sistema de Trabalho para o Brasil?

O Brasil, país das contradições e das assimetrias, se vê diante de mais um dilema estrutural: qual o modelo de trabalho mais eficiente? O regime 6x1, no qual se trabalha seis dias e se descansa apenas um, ou o tradicional 5x2, com a pausa do fim de semana? A escolha transcende números e planilhas. Ela reflete o espírito de um país que oscila entre a precarização do trabalho e a busca por qualidade de vida.

A economia como régua e compasso

No cenário corporativo, a busca por produtividade muitas vezes atropela direitos e desgasta a força de trabalho. Dados recentes mostram que redes de restaurantes, como o Outback, alcançam faturamentos bilionários explorando um modelo de operação contínua e intensiva. Apenas no Brasil, o lucro internacional da empresa responde por 87% dos US$ 84 milhões faturados pela matriz, segundo relatórios financeiros. Mas a que custo?

Nos bastidores do crescimento econômico, o trabalhador se vê submetido a extensas jornadas e, muitas vezes, à exaustão. O modelo 6x1, predominante no setor de serviços, parece alimentar um ciclo de produção incessante, sem oferecer contrapartidas reais em termos de bem-estar.

A lógica do crime e a (des)ilusão do mercado

Se no setor formal o esforço contínuo gera lucro para poucos e cansaço para muitos, no submundo do crime a estrutura não difere tanto. O tráfico de drogas, que movimenta entre R$ 20 bilhões e R$ 100 bilhões por ano no Brasil, segundo estudos de segurança pública, opera com uma eficiência empresarial invejável. Facções como o PCC e o Comando Vermelho adotam sistemas rigorosos de trabalho, logística avançada e diversificação de mercados, garantindo um faturamento que ultrapassa R$ 400 milhões anuais apenas para uma das organizações. Aqui, não há folgas nem convenções coletivas.

A lógica implacável do mercado, seja ele lícito ou ilícito, parece sugerir que o modelo 6x1, ao exigir disponibilidade contínua, favorece o crescimento de grandes impérios, mas impõe um custo social elevado.

Saúde mental e produtividade: o dilema da modernidade

Estudos demonstram que longas jornadas de trabalho reduzem a produtividade ao invés de aumentá-la. Países europeus vêm adotando semanas mais curtas, como o 4x3, com resultados positivos em engajamento e eficiência. No Brasil, onde o burnout se torna uma epidemia silenciosa, a defesa do 5x2 ganha força como um modelo mais equilibrado.

Afinal, qual a alternativa mais adequada? A resposta não pode ser puramente econômica. O país precisa decidir se quer um trabalhador exaurido, sustentando a engrenagem do capital e do crime, ou uma sociedade que valorize tanto o esforço quanto o descanso. A escolha entre 6x1 e 5x2, portanto, não é meramente matemática. É política, social e, acima de tudo, humana.

O brasileiro sempre trabalhou muito. Foi assim que o país cresceu, foi assim que geramos riquezas e construímos nossas metrópoles. Quem quer descanso que fique na Escandinávia! Aqui, o sol nasce para os esforçados. Esse papo de 5x2 só alimenta a preguiça institucionalizada que já corrói nossa produtividade tão morosa e moribunda.

Empresas multinacionais, que operam em regime de excelência, geram empregos, criam oportunidades e movimentam a economia. Querem o quê estes bravateiros inconsequentes? Que fechem as portas porque o garçom está cansado? Querem que o empresário pague mais para que o trabalhador saia mais cedo e vá tomar uma cervejinha no bar da esquina?

E essa comparação infeliz com o tráfico de drogas! Ora, meu amigo, quem opta pelo crime já fez sua escolha, não tem nada a ver com sistema de trabalho. O trabalhador honesto está no chão de fábrica, no restaurante, na loja, na rua, pisoteado pelo burguês capitalista, mas generoso, que lhe dá de comer – não no morro trocando tiro com a polícia.

O Brasil não precisa de mais descanso, precisa de mais trabalho. É o suor, a repetição, a disciplina que formam nações. E o que estamos criando? Uma geração que quer semana de quatro dias e salário de cinco dígitos. Queremos um país rico? Pois bem, vamos trabalhar para isso. Seis dias por semana, sete se necessário. O descanso é para os fracos; o crescimento é para os fortes.

E assim seguimos, entre os que fazem e os que sonham. Entre os que produzem e os que lamentam. O Brasil precisa decidir de que lado quer estar. Mas você também!!!


segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Trágico: O Repartidor

O jovem – chamemo-lo de Mário, pois todo desgraçado merece ao menos um nome – acordou antes do sol. E antes do sol acordaram suas olheiras, já íntimas do travesseiro barato, compradas em dez vezes sem juros. O despertador, este carrasco eletrônico, guinchou impiedosamente. Mário tateou o escuro do quarto minúsculo, cujo aluguel sugava metade de seu salário, e levantou-se sem heroísmo algum.

Vestiu-se com a dignidade de quem não pode se dar ao luxo de desleixos. O uniforme de repartidor, já meio encardido, apertava-lhe a alma. No espelho trincado, viu-se jovem e cansado. Fez as contas mentalmente: o salário bruto era uma piada de mau gosto; o líquido, um crime. Cada garfada no refeitório era um assalto autorizado pela contabilidade, e o vale-transporte era um bilhete de ida para a resignação.

No ônibus lotado, embalado pelo sacolejo, Mário refletia. Em cada rosto suado, via a mesma expressão: um misto de revolta e aceitação. Sentiu um calor de fornalha, um abafamento de câmara de gás tropical. No rádio do cobrador, um político falava em crescimento econômico. Mário sorriu – um sorriso amargo, digno de um palhaço falido e desfaleceu-se.

Chegar-se-ia ao supermercado, a primeira ordem do dia: "Rápido, rapaz, os clientes não podem esperar!" Ah, os clientes... Criaturas sagradas do capitalismo, superiores até aos reis de outrora. Mário, o repartidor, servia-lhes como um camareiro servia Luís XIV – mas sem perucas ou pompas, apenas com uma sacola de compras e um olhar resignado.

Ao final do expediente, suado e quebrado como um brinquedo velho, Mário pegou novamente o ônibus. O país pegava fogo, mas no fundo tudo estava em perfeita ordem. Sonhou, por um instante, com um mundo justo. Mas o sacolejo do coletivo o fez esmorecer.

Desmaiou, de cansado. Acordará muito depois de sua parada. Ligou ao seu chefe, avisou: Me atrasarei. O quanto? Impossível prever...

Sim. Nosso herói perdeu a batalha. Com mais de hora de atraso chegou e foi demitido por "justa causa".

Não por sois mais, ou menos, apenas por pensar que isso ou aquilo... O seu bando ideologico aqui pouco importa. Se você não teve empatia por Mário, realmente, nada mais que um dia eu venha a dizer importa 

sábado, fevereiro 01, 2025

"Pior tá que tá fica": Tiririca perde mandato e a direita continua fingindo que não há corrupção

E não é que o "melhor do que tá, não fica" virou profecia autorrealizável? Tiririca caiu do trapézio eleitoral e, no meio da confusão, levou junto parte da trupe do PL. O circo perdeu um palhaço, mas a plateia segue cheia de otários que ainda insistem que "só a esquerda é corrupta".


 Olho o Circo Pegando Fogo

Enquanto Carla Zambelli tentava fazer cosplay de Jason Bourne armada num shopping, a ala mais fervorosa da direita continuava batendo no peito para dizer que corrupção no PL "não existe". Sim, amigos, a turma que acreditava piamente que as rachadinhas eram fake news, os imóveis pagos em dinheiro vivo eram apenas coincidência e que os cheques na conta da ex-primeira-dama eram empréstimos entre amigos, agora vê seus representantes caindo um a um — mas, claro, tudo é culpa do STF, da ONU, do 5G e, se duvidar, até do Papa Francisco.

 A Direita Brasileira e o Manual do Autoengano

Deixando claro que CONSIDERO OS GOVERNOS PETISTAS DE DIREITA, NEOLIBERAIS E DE CUNHO STALINISTA, desejo por pimento no orifício alheio. O roteiro é sempre o mesmo: Deputado de direita é cassado. Os apoiadores fingem que não viram e mudam de assunto. Se insistirem no assunto, jogam a culpa no comunismo, na mídia ou em conspirações internacionais. Se nada disso colar, dizem que “não era de direita de verdade”.

Agora, com Tiririca fora do Congresso, a pergunta que não quer calar: será que o ex-humorista também será acusado de ser um agente infiltrado da esquerda globalista? Porque, convenhamos, o critério para definir quem é "de direita de verdade" no Brasil muda conforme a conveniência. Rachadinhas? Perdão divino. Caixa 2? Esquecimento seletivo. Cassação? Justiça sendo injusta.

 Rindo de Nervoso

No fim das contas, a direita brasileira parece um cachorro tentando correr atrás do próprio rabo, sempre em busca de uma explicação mirabolante para o óbvio: corrupção na política não tem ideologia, tem oportunistas. Mas, claro, para os fanáticos, se um político de direita rouba, é tudo armação; se for de esquerda, é o fim da civilização ocidental.

Se fosse possível resumir esse momento da política brasileira em um espetáculo circense, Tiririca teria saído do Congresso, mas o show de autoengano da direita continuaria em cartaz, com lotação esgotada e sessão extra.

No Brasil, o problema nunca foi corrupção, mas sim quem está cometendo ela. E, no meio dessa palhaçada toda, quem ainda acredita que a "direita é pura" continua fazendo o papel de bobo da corte.

Se fosse pra definir a política brasileira numa frase, seria algo entre um bordão do Tiririca e um provérbio de boteco: “Pior que tá, não fica”... mas fica sim, e sempre dá pra piorar.”

Nosso protagonista desta tragicomédia nacional entrou na política como um palhaço e saiu como um profeta — mesmo sem perceber. Ele chegou ao Congresso montado no voto de protesto, aquele velho truque do eleitor que acha que não pode mudar nada e, pra provar isso, decide piorar tudo. A lógica? "Se é pra me ferrar, pelo menos eu dou risada." E deu. Só que agora o riso virou careta e o protesto saiu pela culatra.

Tiririca dizia que a política era coisa séria, mas o Brasil é um país onde quanto mais sério o problema, mais cômica é a solução. Enquanto isso, do lado de fora do picadeiro, os eleitores seguem trocando seus votos por bordões vazios, acreditando que um microfone e uma peruca colorida resolvem um país com PIB em queda e democracia em risco.

Agora que o espetáculo chegou ao fim, a pergunta que fica é: o público aprendeu alguma coisa ou já tá na fila do ingresso pro próximo palhaço?