Florianópolis - Diretor Teatral e Jornalista
Comento o texto que por aí nessas redes sem peixe está a girar:
"CALE A BOCA, POVO DO NORDESTE!"
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país? Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
Como está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura… Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia… Ah! Nordestinos… Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros a força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
As suas belezas naturais não são nada, quem iria gostar de conhecer Porto Seguro (BA), Praia do Gunga (AL), Praia do Espelho (BA), Jericoacoara (CE), Canoa Quebrada (CE), Porto de Galinhas (PE), Genipabu (RN), Praia da Pipa (RN), Lençóis Maranhenses (MA), Lajedo de Soledade (RN), Praia Fluvial do Jacaré (PB), o Passeio das Galés em Maragogi (AL), Ilha de Itaparica (BA), etc, etc.
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar. Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca?
Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla!..."
Quando uma certa vez eu nos ônibus da cidade de Florianópolis interpretei um retirante cearense "José Firmino", e logo ao transpassar de 1 semana pasmótico recebi a informação de que haveria uma circular proveniente da empresa de transportes instruindo aos funcionários que proibissem minha entrada no sistema de transporte da capital catarinense.
O que na época inocente pensei, 2004, seria uma mera ação anti-cultural provinciana, hoje percebo que era nordestinofobia.
Algum tempo depois, não sei precisar uma outra atriz na cidade faria inserções nos mesmos ônibus do mesmo sistema de transporte com uma personagem típica da região, uma manézinha da ilha(gentílico apelido dado aos ativos da região noroeste do literal português, dos quais predominantemente são ascendentes os nativos de Florianópolis).
Contudo hoje, lendo os comentários de pessoas instruídas e outras não tanto do sul, muitos daqui da Ilha de Santa Catarina, percebo que sofri nordestinofobia através de minha personagem. Pobre e inocente José Fimino, que: "Nascido e criado no ceará, vindo de lá pra cá de mala e cuia com seus dois filhinhos: Ricardinho e Luisinho, de 6 e 3 anos..." Viu-se obrigado pelas caras pálidas e europeias assustadas dentro dos coletivos a informar: "não estou aqui nem pra matar, nem "estrupar" e nem roubar. Pois tenho cá minhas mãos calejadas da lida do cabo da roça e do gado" e logo mostrava a cerca de 3 centímetros do rosto das pessoas mais próximas suas mãos...
E seguia seu grito, seu pranto: "Vim aqui pra poetizar. Sou poeteiro, repentista. E assim não mais que de repente, de repente, repentinamente lhes imprimo aos ouvidos como a agulha no vinil minhas palavras em seu pensar... Devo ao rio, o coração sem margens... O rio que me arrasta para o dentro de mim, que é a correnteza das margens do rio da alma que jorra de dentro do rio, de dentro de mim... Mas quando penso em você, fecho os olhos de saudade...
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade... Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento, nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento... Pode ser até manhã, cedo claro feito dia. Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria. Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros e esconder minha tristeza. Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza. E deixemos de coisa, cuidemos da vida, pois se não chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço, sem ter visto a vida."
Ao passo que o ônibus para a porte de uma delegacia do bairro Agronômica, aquele bem pertinho da residencia oficia do governador, a surpresa foi o apoio popular... Ao motorista que exigia a minha saída imediata, embora como os demais tenha pago a passagem.
Desde então tenho uma posição firme. Creio ser melhor queimar ônibus que fazer arte dentro deles em Florianópolis e entrar na campanha por um nordeste independente.
Comento o texto que por aí nessas redes sem peixe está a girar:
"CALE A BOCA, POVO DO NORDESTE!"
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país? Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
Como está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura… Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia… Ah! Nordestinos… Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros a força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
As suas belezas naturais não são nada, quem iria gostar de conhecer Porto Seguro (BA), Praia do Gunga (AL), Praia do Espelho (BA), Jericoacoara (CE), Canoa Quebrada (CE), Porto de Galinhas (PE), Genipabu (RN), Praia da Pipa (RN), Lençóis Maranhenses (MA), Lajedo de Soledade (RN), Praia Fluvial do Jacaré (PB), o Passeio das Galés em Maragogi (AL), Ilha de Itaparica (BA), etc, etc.
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar. Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca?
Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla!..."
Quando uma certa vez eu nos ônibus da cidade de Florianópolis interpretei um retirante cearense "José Firmino", e logo ao transpassar de 1 semana pasmótico recebi a informação de que haveria uma circular proveniente da empresa de transportes instruindo aos funcionários que proibissem minha entrada no sistema de transporte da capital catarinense.
O que na época inocente pensei, 2004, seria uma mera ação anti-cultural provinciana, hoje percebo que era nordestinofobia.
Algum tempo depois, não sei precisar uma outra atriz na cidade faria inserções nos mesmos ônibus do mesmo sistema de transporte com uma personagem típica da região, uma manézinha da ilha(gentílico apelido dado aos ativos da região noroeste do literal português, dos quais predominantemente são ascendentes os nativos de Florianópolis).
Contudo hoje, lendo os comentários de pessoas instruídas e outras não tanto do sul, muitos daqui da Ilha de Santa Catarina, percebo que sofri nordestinofobia através de minha personagem. Pobre e inocente José Fimino, que: "Nascido e criado no ceará, vindo de lá pra cá de mala e cuia com seus dois filhinhos: Ricardinho e Luisinho, de 6 e 3 anos..." Viu-se obrigado pelas caras pálidas e europeias assustadas dentro dos coletivos a informar: "não estou aqui nem pra matar, nem "estrupar" e nem roubar. Pois tenho cá minhas mãos calejadas da lida do cabo da roça e do gado" e logo mostrava a cerca de 3 centímetros do rosto das pessoas mais próximas suas mãos...
E seguia seu grito, seu pranto: "Vim aqui pra poetizar. Sou poeteiro, repentista. E assim não mais que de repente, de repente, repentinamente lhes imprimo aos ouvidos como a agulha no vinil minhas palavras em seu pensar... Devo ao rio, o coração sem margens... O rio que me arrasta para o dentro de mim, que é a correnteza das margens do rio da alma que jorra de dentro do rio, de dentro de mim... Mas quando penso em você, fecho os olhos de saudade...
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade... Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento, nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento... Pode ser até manhã, cedo claro feito dia. Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria. Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros e esconder minha tristeza. Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza. E deixemos de coisa, cuidemos da vida, pois se não chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço, sem ter visto a vida."
Ao passo que o ônibus para a porte de uma delegacia do bairro Agronômica, aquele bem pertinho da residencia oficia do governador, a surpresa foi o apoio popular... Ao motorista que exigia a minha saída imediata, embora como os demais tenha pago a passagem.
Desde então tenho uma posição firme. Creio ser melhor queimar ônibus que fazer arte dentro deles em Florianópolis e entrar na campanha por um nordeste independente.