Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
A coerência é a magnitude do sábio, e como sei o que sou e o que posso sigo incorruptível, incorrigível e impreterivelmente coerente. Não corrompendo este discernimento ético e óbvio vejo que só há dois caminhos: esperar a morte chegar ou tomar coragem para o suicídio. Se soar estranho, podem avisar, saberei que sois mais um dos sócio-normativos de prontidão. Antes de pedirem que mude minhas convicções e valores mudem a realidade.
"Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego. Sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês..." Assim disse Raulzito em sua mestra canção Ouro de Tolo, que não sei porque está a flutuar em meus pensamentos pós o primeiro turno eleitoral deste ano. Por mais que eu particularmente não consegui contato com o ouro, somente com os tolos, que afirmam ter-lo encontrado. Mas dirá o sábio ermitão, cidadão padrão-brasileiro, patriota e otimista sem razão do fundo de um abrigo de papelão debaixo do viaduto do chá, sem uma migalha de pão no estômago: "Sou feliz, porque eu sou brasileiro!". Ao passo que a passos largos acima por sobre ele pisarão firme outros concidadãos, este pisados a anos pelos chefes e seus amigos, patrocinadores e donos da nação.
Dizem que o país está melhor, e que "Eu devia agradecer ao Senhor por ter tido sucesso na vida como artista. Eu devia estar feliz porque consegui comprar um Corcel 73...", digo meu Uno 96. E parece-me que conformismo é sócio-cultura histórica, ainda mais afirmo: "Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema depois de ter passado fome por dois anos aqui na Cidade Maravilhosa...". Ato falho, vivo em Florianópolis, mas acontece que a história é tão parecida. Ainda dizem que esta hoje é a cidade com a melhor qualidade de vida do país. Não quero visitar as outras!
Realmente eu sou um ingrato, dizem. "Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa...". Pois além de não ter nada, e socialmente ser considerado um nada, ainda podem roubar o pouco que tenho. Após chegar em casa ter sido roubado por falta de ônibus no tal terminal de integração, que não integra ninguém, "eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis..." sendo que esse tudo que me dão não tem nada a ver com meus anseios. "Mas confesso abestalhado, que eu estou decepcionado...", porque esse cavalo que me foi dado, do qual não devo olhar os dentes. E para que dentes? Se tudo atualmente vem mastigado, formatado, quase que como uma TV na taba de um índio, que não é o da Costa, mas também programada pra só dizer sim!
Não irei mais reclamar. Calma! Não tenho do que! Tudo está perfeitamente em ordem. Estou prestes a conseguir um trabalho, travestido de estágio, por 6 horas dia que me pagará R$400,00. Diria um sócio-padrão-brasileiro-feliz: "Que beleza! E inda é na minha área". Como se fosse conseguir um emprego em área distinta, se nem o diploma mais vale nada. "Porque foi tão fácil conseguir... E agora eu me pergunto "e daí?". Eu tenho uma porção de coisas grandes prá conquistar e eu não posso ficar aí parado...". Como sou errado, paraaaaaaaaaaaaaa! Se conforme, seja nacionalista. Sem motivos para sê-lo, mas o seja.
"Eu devia estar feliz pelo Senhor, ter me concedido o domingo prá ir com a família no Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos...". Mas sou um pouco ecologista, e tão pouco existem Zoológicos na cidade, nem outras atrações por menos de R$ 20,00 por cabeça. Então lembro da minha vida de gado, mesmo que eu tente ser um refugiado, deste povo marcado, deste povo feliz. "Ah! Mas que sujeito chato sou eu, que não acha nada engraçado. Macaco, praia, carro, Jornal, tobogã. Eu acho tudo isso um saco...".
Meus amigos então me trazem a "realidade" e me dizem: "É você olhar no espelho." e pronto. E perguntarei se este quando o faz neste mundo acrítico em que vivemos não passa a "Se sentir um grandessíssimo idiota.
Saber que é humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal...". As pessoas vivem de status, talvez eu em busca dele. 'E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial, que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social...".
Ainda não faço, mas deveria passar a fazê-lo para sentir-me mais incluído e respeitado socialmente. "Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...". Não tenho sequer o meu apartamento para isso. Ainda não consegui passar o cerco social do abismo irracional das castas Sul-americanas. Cercas estas que não compreendi ainda, tão pouco os seus pôrques. Também me perguntarão por quê citar um nobre poeta, lhes direi. Hoje não importa a informação, não importa o que se fala, o importante é quem fala. Não estamos na era de Aquarius, sim estamos na era do status.
Irracional! Escuto este grito que não sei se veio de mim ou de ti. Independentemente disto é o "grito da razão", visto que racionais são os outros, os que não questionam. Busco a saída, se é que conseguirei incluir-me em algo para deste sair. "Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador...". A coerência é a magnitude do sábio, e como sei o que sou e o que posso sigo incorruptível, incorrigível e impreterivelmente coerente. Não corrompendo este discernimento ético e óbvio vejo que só há dois caminhos: esperar a morte chegar ou tomar coragem para o suicídio.
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