Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
O mundo civilizado-moderno, ou que assim se crê, é baseado em rupturas, divisões e obviamente em preconceito. Mas correto seria dizer Xenofobismos.
"Xenofobia(do grego ξένος, translit. xénos: "estrangeiro"; e φόβος, translit. phóbos: "medo." Ou seja, é o medo irracional, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que veem de fora do seu país."
Hoje podemos associar mais claramente a xenofobia em relação a pessoas ou grupos etnicos diferentes, com os quais o indivíduo que a apresenta habitualmente não entra em contato ou evita fazê-lo. Desde a colonização militarista que sofreram os ditos "novos continentes", nomenclatura dada pelos europeus conquistadores destes, se construiu um discurso etnocêntrico e de superioridade de europeus e da "raça ariana".
O filósofo inglês, Herbert Spencer, criou no século XIV a idéia da "seleção do mais capaz" aos indivíduos e sociedades humanas. Ao contrário do que o senso-comum diz, foi Spencer e não Darwin o criador da expressão "lei do mais forte". Dentre os seguidores destas idéias está Ernst Haeckel, fundador da "Deutsche Monistbund" (Liga Monista Alemã - cujas idéias serviram de base para a doutrina biológico-política do nazismo), e ainda Arthur de Gobineau.
Gobineau faz também uma análise retrospectiva e pessimista, apontando que o declínio da "raça superior" se devia ao contexto democrático que evoluía. Idéias que cativaram as mais altas hierarquias européias, sem que ninguém a contestasse. Naquela época, era comum dizer que a desigualdade dos povos humanos saltava aos olhos. Assim tornando também natural uma visão de colonialista, tornando natural a idéia de controlar o mundo "não-civilizado". Usando desses argumentos para justificar a dominação a que submetiam outros povos.
Filhos do Pai
O Xenofobismo hoje é uma grave agressão ao direito de ir e vir dos cidadãos como seres humanos de livre arbítrio e em tese de livre trânsito pelo mundo. Eu não sou cristão, mas como não vivemos em um país, muito menos em um mundo Laico acredito ser esse um dado não relevante, embora importante para o momento. Embora se o fosse deveria crer que Deus colocou a raça humana neste planeta, regalando a ele dentre outras coisas o direito igualitário das maravilhas deste, que fora feito para todos os filhos de Adão e Eva.
Os Alemães hoje ainda são no imaginário popular e estimulado pelo cinema americano um estereótipo de racistas. Mas desde a era romana até o entre guerras após a Primeira Guerra Mundial, muitos foram os fatores que fizeram o povo alemão ser seguidamente humilhado. Segundo o escritor judeu M. W. Fodor, em "The Nation" (1936) "Nenhuma raça sofreu mais com complexo de inferioridade que o alemão. O nacional socialismo (partido de tendências nazistas de Hitler) utilizou um "método de Coué" para converter este complexo de inferioridade em um senso de superioridade." em prol da filosofia nazista que conquistou muitos adeptos à época.
A noção de superioridade italiana e desdém aos alemães como inferiores (que perdura até hoje) é resquício direto da mesma visão que tinham os romanos e gregos, que acreditavam que povos muito claros ou muito escuros eram racialmente inferiores e fracos. Com base nos ideários de épocas remotas, como da Antiguidade Clássica ou da Idade Média, a idéia de superioridade racial estava, na verdade, atrelada à superioridade militar e econômica de povos mais favorecidos, como os egípcios, romanos e gregos, que se consideravam superiores aos demais, principalmente em relação aos conquistados.
Neo-Fascismo
Pois bem! Muitos pensam que os xenófobos da atualidade são apenas os norte-americanos e europeus, enganam-se. No nosso continente já tão espezinhado, também existem neo-fascistas. Talvez o discurso brasileiro de que aqui não existe racismo, possa ter me enganado por um tempo. E como se diz: "O problema está sempre na casa do vizinho!", fui eu levado por muito tempo por essa corrente.
Vivi recentemente por quase 2 anos em Buenos Aires, fato que causou ódio, repulsa e indignação de muitos "compatriotas" brasileiros. Ao noticiar que rumaria ao sul, em busca de ser menos odiado por ser consciente e decente, fui severamente criticado por pessoas que nunca saíram de seus estados, outros que sequer conhecem mais de três cidades do Brasil, quem dirá países vizinhos. O Xenofobismo irracional construído pela mídia futebolística para com los hermanos argentinos é assustador. Brasileiro padrão e "patriota" quando viaja ao exterior é para os Estados Unidos e os um pouco mais intelectualizados para a Europa. Imagine eu dizendo que ia estudar em Buenos Aires o que não escutei?
Versión en castellano del artículo
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Em terras portenhas pude descobrir a América, não a de Colombo nem de Américo Vespúcio, mas a real. Um continente dividido não só por idiomas, mas por preconceitos e ignorância. Graças ao grande número de imigrantes na capital argentina e muito preconceito existe hoje um "Quarto Reich Latino". Principalmente há uma grande preconceito com os descendentes dos chamados povos originários, lá vulgarmente chamados de negros e por semelhante origem étnica com paraguayos, bolivianos e peruanos, nesta ordem os maiores imigrantes hoje no país. Embora segundo o último senso feito no país existam cerca 4,3% de afro-descendentes, o conceito de negros é utilizado para índios e pobres.
O Xenofobismo e a história
O fato de na Argentina "não existirem negros" é histórico, segundo Álvaro de Souza Gomes Neto, especialista em escravidão. Num censo de 1778, a população negra chegava a 54% em algumas regiões argentinas. Em 1887, caiu para 1,8%. "A dizimação está ligada às guerras dos espanhóis contra ingleses, no fim do século 18. Nelas, morreram uma boa parte dos negros, engajados como soldados", afirma o historiador.
Mais tarde, no processo de independência (que aconteceu em 1816), foram formadas companhias apenas de negros, os "batalhões de libertos". Com a promessa de liberdade, eles ocuparam as posições mais perigosas. "Morreram quase todos." Por aqui tivemos a exclusão dos negros, que libertos foram desterrados e sem trabalho jogados ao léu, ademais dos negros que foram para a guerra e não foram libertados até a assinatura da lei áurea.
Mais tarde, no processo de independência (que aconteceu em 1816), foram formadas companhias apenas de negros, os "batalhões de libertos". Com a promessa de liberdade, eles ocuparam as posições mais perigosas. "Morreram quase todos." Por aqui tivemos a exclusão dos negros, que libertos foram desterrados e sem trabalho jogados ao léu, ademais dos negros que foram para a guerra e não foram libertados até a assinatura da lei áurea.
Os habitantes originais do continente americano eram descendentes de povos asiáticos que atravessaram o Estreito de Bering até a América do Norte e, então, em milhares de anos, atingiram o sul da América do Sul. Bem como a população negra, eles foram estimulados a irem para para guerras. Para o historiador argentino Alberto Rodolfo Lettieri, seu país teve as maiores perdas destas populações na Guerra do Paraguay e na Conquista do Deserto.
Estes dados não justificam, mas explicam o porque de eu sofrer preconceito ainda maior do que ao dizer-me brasileiro, em momentos em que resolvi assumir minha dupla nacionalidade paraguaya. Pessoas deixavam de me paquerar na balada, me excluíam do MSN, etc... Obviamente portenhos(argentinos da capital). Lá soube de pérolas xenófobas também do jornalismo, como a do clássico ocorrido e postulado no Youtube, onde um determinado canal veiculou a seguinte legenda em uma reportagem: "Muertas dos personas y un boliviano".
Embora seja sabido que antes da Guerra do Paraguay, o país que é o único oficialmente bilingüe do continente e mantendo o idioma de seu ex-colonizador(Espanhol) e de seus habitantes originais(Guaraní), fora uma grande potência. Ambos idiomas são matérias obrigatórias no país que em 1840 não possuía mais nenhum analfabeto em seu território. Esse foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Ela foi travada entre o Paraguai e aTríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança (Guerra de la Triple Alianza), na Argentina e Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai.
Além da versão mais conhecida, o conflito sul-americano que mudou a história do Paraguay e o colocou sob o controle político brasileiro por cerca de 10 anos, tem uma outra versão. A de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava a qualquer custo impedir a ascensão de uma nação latino-americana poderosa militar e economicamente.
A partir dos anos 1980, novos estudos propuseram razões diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos. O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes citam que 90% da população paraguaia teria perecido ao final da Guerra. Estimativas contemporâneas, contudo, fixam o percentual de perdas de vidas entre 15% e 20% da população.
A partir dos anos 1980, novos estudos propuseram razões diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos. O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes citam que 90% da população paraguaia teria perecido ao final da Guerra. Estimativas contemporâneas, contudo, fixam o percentual de perdas de vidas entre 15% e 20% da população.
Integração dos povos?
Vivemos hoje um momento em que os países da Europa com sua União Européia buscam juntos combater e fugir da crise. Enquanto por aqui o Mercosul é apenas um acordo comercial que não beneficia nada mais que uma minoria de empresários. A integração dos povos seja legalmente ou culturalmente esta longe de acontecer.
Agora estou no Brasil e pela primeira vez não sei por que razão somente hoje proferi em público que além de brasileiro, sou paraguayo e ouvi de pessoas ditas cultas: "Você é o que? Paraguay é um país?", entre outros tipos de chacota. Alguns dentre estes mesmos estavam minutos antes conversando em Inglês para se engrandecerem perante seus "amigos", que não falam inglês. Deveria tê-lo feita a muito, assim teria conhecido a verdadeira face da nação irmã brasileira. Ou ao menos, de parte de seus habitantes que desrespeitam alguns artigos da constituição, que cito:
Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4.º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
III - autodeterminação dos povos;
III - autodeterminação dos povos;
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Depois de ser acossado por um compatriota que afirmou que falo um português não coloquial e incompreensível, por não falar um português vulgar. Passo pela experiência de um ato xenófobo dirigido a mim por pessoas americanizadas, ao dizer-lhes que tenho ascendência paraguaya. Se eu conseguir a tripla nacionalidade, agregando a argentina serei assassinado.
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