Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
Um jogador de futebol de fama internacional, porte de modelo, casado, com dois filhos. Um exemplo para a sociedade. Outro, também jogador, só que recém iniciando a carreira. Este, uma promessa para o futuro no mundo futebolístico, mas muito intempestivo e ambicioso.
O que teriam em comum estes dois perfis além de jogarem no mesmo time? Sua sexualidade. Eis então que esta trama secundária em seus princípio começaria a despertar polêmicas. Afinal o futebol é o estandarte da virilidade, masculinidade, etc. Nas escolas, nas vilas, na TV, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê o futebol é sinônimo de heterossexualidade.
A arte imita a vida, ou, a vida imita a arte?
Não podemos dizer que a tele-dramaturgia finja que homossexuais não existem. Apenas destina a eles o "seu devido lugar". Cabeleireiros, estilistas, artistas... Uma mistura de preconceito sexual, com desvalorização profissional. Ingredientes perfeitos para acomodar a massa conservadora que é o público brasileiro. Ou claro, podemos ter um afeminado, que subliminarmente seria o passivo, corrompendo o pseudo hetero que seria o ativo da suposta relação. Esta que obviamente ficará fadada a imaginação dos telespctadores, pois o grande tabú ainda não será quebrado. Ao menos não explicitado perante as "lentes da verdade", como diria o genial Clodovil.
Pensemos, só para não falar do fenômeno, seria um fenômeno que não existissem homossexuais no mundo do esporte. Desrespeitariamos o senso do IBGE, que afirma que 12,8% da população brasileira em 2009 é homossexual. E nisso não consideramos a grande parcela, provavelmente maior que esta, que não admitiria a um censor sua sexualidade.
Regressando a dramaturgia. Na Argentina, a emissora TELEFE exibiu uma cena de beijo gay na novela Botineras. E a repercussão fora tal que a trama dos dois jogadores de futebol que se apaixonaram, e no decorrer da trama chegaram a muito mais que um mero beijo. E estão todas as cenas disponíveis em seqüência no Youtube, buscando por Manuel & Lalo "Botineras" parte 13.
"A trama polêmica"
Com ingredientes de trama policial “Botineras” ( em tradução literal marias-chuteira) exibiu o beijo gay que causou “frisson” entre o público argentinos. E o casal não foi morto em uma explosão de shopping, e tem garantida presença no episódio final da trama veiculado no dia 24 de Agosto de 2010. O núcleo Lalo e Flaco ganha os olhos da mídia e público quando o experiente jogador Manuel “Flaco” Rivero (Cristian Sancho) quis demonstrar que se importa com seu colega de clube (Ezequiel Castaño), pelo quão nos capítulos seguintes notaria estar perdidamente apaixonado.
Castaño e Sancho, atores heteros e famosos, tornaram-se figuras constantes nas capas de revistas e nos programas da tarde na televisão. Desde o início do romance entre os jogadores, a audiência de “Botineras” cresce, conforme medição dada pelo Ibope argentino. O interesse do público com o folhetim, que tem apenas dois capítulos gravados de frente em relação ao que está no ar, fez com que a produção da novela aumentasse o número de cenas de amor entre Lalo e “Flaco”. A primeira cena de sexo homoafetivo do continente na televisão aberta começou com um desnudando o outro e terminou com a câmera captando do alto a imagem deles nus, abraçados na cama, em "conchinha".
Os atores da trama tem feito declarações em que mostram naturalidade com a repercussão e execução do trabalho que desempenham como os jogadores homossexuais. “Parti do princípio de que um gay é um homem. Evitei amaneiramentos. Se caíssemos no clichê, a história de amor não seria vista com respeito”, diz Sancho, que também é modelo de campanhas de roupa íntima. Castaño, rosto conhecido na TV argentina há 15 anos, quando estreou em “Chiquititas”, declarou: “Com Lalo, tenho a oportunidade de mostrar muito do que aprendi como ator ao longo desse tempo.”
Lá e cá
Como de costume no país vizinho a novela é uma co-produção. O que me parece fazer com que as tramas tenham mais liberdade na abordagem de temas polêmicos. Pois aqui temos além do assassinato das lésbicas bem sucedidas de Torre de Babel, o beijo gravado e cortado de América e o caso mais recente na novela poder paralelo. Onde as atrizes Paloma Duarte e Adriana Garambone se preparavam para gravar as cenas do envolvimento entre as suas personagens, Fernanda e Maura, na Record, segundo informou o “Jornal da Tarde” na época.
Paloma chegou a ter sérios atritos com a cúpula da emissora por declarações feitas a mídia. “A gente começou a gravar, mas duvido que tudo vá ao ar”, declarou. Segundo a atriz, a trama de Lauro César Muniz teve vários cortes. “A gente caiu numa censura desmedida. A gente grava, grava e grava e muita coisa não vai para o ar. A equipe não gosta muito de falar desse assunto, mas essa é a realidade”.
Botineras é uma novela produzida em parceria pela Underground Contenidos y Telefe Contenidos, associadas a Endemol Argentina. A trama policial escrita inicialmente por Esther Feldman y Alejandro Maci e idealizada por Sebastián Ortega, que tem no currículo os sucessos La Lola e Los exitosos Pells que foram protagonizados por Carla Peterson.
O Beijo politizado
Em particular chamou minha atenção. Assinada por Dayanne Sousa do portal Terra a matéria: Diretor de beijo gay: "Não quero trabalhar na Globo", que fala sobre a cena de beijo entre dois homens na propaganda eleitoral do PSOL em São Paulo, tem umas pitadas saborosas.
Primeiro dizendo que o diretor de filmes Pedro Ekman se mostra surpreso com o sucesso do vídeo. Ele aproveita para atacar a programação da TV aberta, que chama de "retrógrada". E logo tras a declaração provocadora do mesmo - O que choca é que você não está acostumado a ver isso na TV. Na rua, você até vê mais. O choque é pelo conservadorismo da TV. A sociedade aceita muito mais esse fato do que o que está refletido nos meios de comunicação.
Eeeeeeeepaaaaa!!! Diria Vera Verão se estivesse viva. Ekman não é publicitário, marqueteiro e nem costuma fazer campanha. É formado em arquitetura, mas começou a trabalhar com vídeo. Filiado ao PSOL, ajudou com o filme do candidato ao governo de São Paulo, Paulo Bufalo, "até porque não tem muito dinheiro". - explicou.
Em nota ao jornal Folha de S.Paulo, a Rede Globo respondeu a crítica da imprensa de que o horário político foi mais ousado que as novelas de TV. Afirmou em resposta a poderosa: "Não achamos que nossas novelas da categoria entretenimento são os veículos adequados para tratar de questões sociais." A resposta é engraçada, porque quando convém, ela diz que a novela serve para fazer "merchandising social". Quando não convém, porém, ela fala que não serve para isso. É a velha e boa resposta de conveniência - alfinetou Ekman.
Por hora o tal beijo entre pares do mesmo sexo ficará restrito aos horários políticos e internet. Mas quem sabe o SBT volte a fazer uma co-produção com a TELEFE e nos surpreenda com "Maria Chuteiras". E quem sabe Ronaldinho faz uma ponta, já quem tem relações comerciais com o grupo Sílvio Santos. Pra quem não lembra, Chiquititas de mesma origem e canal foi um sucesso e tem atualmente todos seus atores trabalhando na poderosa. Ou a Band que exibe Quase Anjos(dublada), CQC e A Liga: todas produções argentinas dessa mesma produtora, e exiba em versão dublada a inovadora Botineras. Ou o SBT reprise a série da extinta Manchete, como fez com algumas produções. Mãe de Santo, na emissora carioca é por muitos considera o único beijo gay da TV brasileira.
Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
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