terça-feira, agosto 31, 2010

Um é pouco, dois é bom... Três?

Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

Colaboração dos jornalistas Fabiano Peres e Murilo Formigoni Pereira


Um exemplo disso são os R$ 820 milhões vindos do Fundo Nacional de Cultura, destinados a criação do Fundo Setorial de Música, segundo o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, em dezembro do ano passado, durante a Feira Musica Brasil, em Recife. Isso prova que verba existe e o problema é a forma de distribuição destes grandes valores.


Atualmente, a Federação Catarinense de Teatro, entidade criada em 1978 para incentivar a atividade de grupos teatrais, possui mais de 100 grupos atuando no interior do Estado e 19 em Florianópolis. Mesmo assim, a escassez de atrações culturais no estado é fato. Santa Catarina é o 3º destino turístico do país, mas está longe de entrar no roteiro mundial de turismo, quem dirá no nacional.

Um dos principais problemas da cultura no Estado é a falta de espaços e, também, a socialização. Hoje, em Santa Catarina, há 19 casas de espetáculos no interior, com destaque para o Teatro Carlos Gomes, em Blumenau e o Teatro Adolpho Mello, em São José, que se encontra em manutenção. Florianópolis, a capital do estado possui 5 teatros: o Ademir Rosa, no CIC, a Igrejinha da UFSC, Teatro Álvaro de Carvalho, Teatro Pedro Ivo e o Teatro da UBRO.

Existe hoje cultura local?

Outro problema é o cenário musical, que são conhecidos por “grandes eventos nacionais” e que com patrocínio, da ordem dos milhões, catalisam o público. A população catarinense não tem o costume de freqüentar centros culturais. Algo normal nos dias de hoje. E para muitos é preferível ver o novo filme do Stallone e encher as mãos de manteiga de pipoca, que assistir a um espetáculo teatral e ou um café.

Além da falta de espaços, estes que são cartelizados e dirigidos a poucos.

A inexistência de apoio para publicidade para eventos culturais para que esses possam fazer frente a outras formas de entretenimento é uma das razões para que cada vez menos se prestigiem produções catarinenses e locais por todo o país. Nesta realidade atual, não é de se surpreender que as salas de espetáculos estejam vazias. O artista regional torna-se refém de uma dura realidade e um antigo pensamento estandardizado socialmente sempre lhe vai estar na sola do sapato: “Artista no Brasil passa fome”.

As entidades do setor não cumprem seu papel

É ano eleitoral e as ditas entidades culturais não estão na discussão e muito menos nos planos de governos dos nossos candidatos em nenhuma das instancias. E os sindicatos da categoria tão pouco estão fazendo o seu papel, que seria de cobrança sistemática e compromissos de políticas culturais mais inclusivas. Ou será que isso não é de interesse público?
Discutiu-se tanto sobre a “censura” mediante o tal artigo 45. Este inserido na Lei das Eleições (9.504 de 1997) que veda, a partir de 1º de julho de ano eleitoral, "trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação". A Abert pediu e conseguiu que o Supremo declare que essa parte da legislação é inconstitucional.

Três é demais

Em suma, os meios poderosos de mídia não querem perder repercussão com possíveis sátiras as eleições. Mera questão de Ibope e lucro. Disso a mídia fala e falou muito. Mas onde está nos debates televisivos a abordagem sobre temas de cultura? O que ocorre é que a indústria da “cultura de massa”, na verdade um vulgo entretenimento barato, está preocupada apenas em manter tudo como está.

No meio artístico catarinense já corre a boca miúda que a estrela Vera Fischer está por ganhar mais um edital no estado na casa de R$ 500 mil. Quem viver verá! Será a terceira vez que na história deste estado, enquanto a classe artística local míngua, uma superprodução com a mesma figura recebe “apoio” no estado. E artistas locais o que recebem? Sequer datas nos espaços gerenciados pelos meios públicos, salve exceções que têm se repetido nas pautas e datas dos centros culturais e casas da região por anos.
Não plagiando o filme, mas a pergunta vem a mente fácil: “O que é isso companheiro?”. Não sei, mas passo a pensar que... Se disser, me processam, e se mal tenho o que comer... Não terei para o advogado.



Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

Colaboração dos jornalistas Fabiano Peres e Murilo Formigoni Pereira

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