Pois, longe de mim prejulgar, apenas observo. A questão aqui não é o uso de entorpecentes ou drogas lícitas e ilícitas, este é um fato de cunho particular. Ao que chegamos ou tentamos é, porque não conhecemos tantos usuários de teatro quanto de maconha. Sumamente podemos concluir que a maconha hoje é mais popular que o teatro. Mas porque? Levantemos algumas hipóteses, mas antes coloquemos emparelhados suas similitudes. Ambos, e disse ambos, te fazem viajar. Ambos são discriminados pela sociedade. Ambos não fazem parte da grade curricular das escolas no país. Ambos estão para a juventude dados como algo desconhecido e que só provando se poderá conhecer seus efeitos. Ambos tem rituais de iniciação coletivos.
Você acha que alguém escolhe por quem se apaixona? Descaminhos e percausos durante a vida criam afinidades e adicções. Augusto Boal construiu uma trajetória artístico-educativa de fortalecimento das potencialidades dos sujeitos em seus atos de criação estética, reflexão e conscientização política. Ao compreender o teatro como uma ferramenta capaz de fomentar as transformações sociais e a formação de lideranças em comunidades diversas e como ferramenta de transformação social, Boal difundiu seu método de teatro, baseado em jogos de percepção, expressão e criação, em diversos países, batizando-o como Teatro do Oprimido, em homenagem à obra de Paulo Freire. Seria Boal um adicto ao teatro? Temos que avançar aos poucos no Brasil. Legalizar o uso do teatro e da maconha e ver como isso funciona na vida real. E em seguida, se der certo, fazer o mesmo teste com outras drogas.
Os primeiros registros históricos do uso da Cannabis sativa para fabricação de papel, datam de 8000 anos a.C, na China. Depois os chineses descobriram e desenvolveram outras formas de uso da planta, principalmente para produção de artigos têxteis e medicina. Mais tarde, outras sociedades, como os gregos, romanos, africanos, indianos e árabes também aproveitaram as qualidades da planta, fosse ela consumida como alimento, medicina, combustível, fibras ou fumo. Entre os anos de 1000 a.C. até meados do século XIX, a maconha e o cânhamo produziam a maior parte dos papéis, combustíveis, artigos têxteis e sendo, dependendo da cultura que a utilizava, a primeira, segunda ou terceira medicina mais usada. Sua grande importância histórica se deve ao fato da maconha ter a fibra natural mais resistente e forte do que todas as outras, podendo ser cultivada em praticamente qualquer tipo de solo.
Aristóteles, ao final de sua Poética, escrita entre 335 e 323 AC, aponta que a tragédia pode ser lida, e, mesmo assim, sem ter o movimento da cena (gestos, etc), sem ser apresentada ao vivo, terá seu efeito sobre o leitor, igualando-se assim a Epopeia na forma lida. Entretanto, por possuir componentes extras, a música e o espetáculo, a Tragédia, segundo Aristóteles, torna-se superior a Epopeia, pois contém “todos os elementos da epopeia” e, além disso, contém o que não é pouco, a melopeia (música) e o espetáculo cênico. Ambos acrescem a intensidade dos prazeres e são próprios da tragédia. (trad. Eudoro de Souza, Os Pensadores, 1462a,p. 268.). O teatro também, ainda segundo Aristóteles, além da vantagem de “ter evidência representativa quer na leitura, quer na cena”, possui poder de síntese, pois nele “resulta mais grato o condensado que o difuso por largo tempo”.
Uma reflexão que pode nos dar esse convexo pós-modernista é que ambos, tanto o teatro como a canábis têm efeitos recreativos, libertadores de travas cognitivas e bloqueios psicosomáticos de condutas aprendidas socialmente. Mas no caso do teatro existem mais preconceitos a seus usuários na atualidade. Pois ao que você comente a algum seja le próximo ou não que fora ao teatro causará mais reações e surpresa que ao dizer que fumastes um baseado.
Na sociedade atual temos mais defensores da descriminalização da maconha, inclusive por pessoas de rasgo conservador que defensores da arte ou do teatro. É muito mais comum alguém te convidar para fumar um que lhe convidar para ir ao teatro. Você com certeza conhece mais maconheiros que atores. Você com certeza já fumou mais vezes um fininho que a quantidade de vezes que foi ao teatro.
Portanto, muito mais que defender o uso indiscriminado do teatro como droga recreativa, desejo levantar a questão de porque o teatro nos dias em que vivemos é tão perseguido, censurado e boicotado? Resposta: Porque ele provoca, ele abre mentes, ele relaxa e ainda por cima libera enzimas no cérebro que ajudam a desmistificar barreiras sociológicas e interpessoais.
Existem estudos em várias partes do mundo que concluíram tanto que o uso de marihuana quanto do teatro fazem com que as pessoas sobre os feitos destes entorpecentes se permitam mais a experiências de cunho homossexual.
Uma postagem feita na rede social Reddit, no início do mês passado, deu origem a um novo termo que, depois dos g0ys, vem gerando polêmica na internet: o "highsexual", um heterossexual que passaria a se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo após o consumo de drogas. Tudo começou quando o usuário throwaway15935745625, que se diz hétero e usuário frequente de maconha, fez uma postagem no site relacionando o consumo da droga com a sua sexualidade. "Eu sou um super usuário de maconha... Só me sinto atraído por garotas e não ligo para homens quando estou sóbrio. Mas quando estou chapado, desejo homens que transem comigo com vontade. Alguém mais tem esse desejo? Mais alguém se sente assim depois de fumar maconha?", perguntou ele na rede social.
Seré então possível que se estimularmos ao público a um uso compulsivo do teatro possamos criar os "highteatrais"? E se os highteatrais terminariam gerando os "hightsexoteatrais"? E ao fim descobrimos porque hoje em dia usar maconha é algo que causa menos repulsa e repressão social que ser usuário de teatro.
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