Acredito que os ditos socialistas e tão pouco os liberais não iriam gostar muito do conceito proposto em relação a eles, como direita-esquerdista, ou como esquerda direitista. Não defendem a liberdade individual e, consequentemente, pautas como a liberação do uso das drogas, do casamento e da adoção por homossexuais, etc.?
Mas, senhores, os que madrugam no ler, convêm madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. Entre a esquerda e a direita estende-se toda uma zona indecisa de mesclagens e transigências, que podem assumir a forma de partidos menores independentes ou consolidar-se como política permanente de concessões mútuas entre as duas facções maiores. É o “centro”, que se define precisamente por não ser nada além da própria forma geral do sistema indevidamente transmutada às vezes em arremedo de facção política, como se numa partida de futebol o manual de instruções pretendesse ser um terceiro time em campo.
Para pesquisadores, estes concluíram que, frente às situações novas que requerem modificação dos comportamentos habituais, os liberais têm mais sensibilidade neurocognitiva que os conservadores. Também deduziram que a menor sensibilidade neurocognitiva dos conservadores em tais situações poderia explicar seu comportamento mais sistemático e persistente. A avaliação neurofisiológica desse estudo foi tão consistente que serviu para prever com bastante exatidão se os participantes tinham votado em John Kerry ou George Bush na eleição de 2004 nos Estados Unidos.
Nas beiradas do quadro legítimo, florescendo em zonas fronteiriças entre a política e o crime, há os “extremismos” de parte a parte: a extrema esquerda prega a submissão integral da sociedade a uma ideologia revolucionária personificada num Partido-Estado, a extinção completa dos valores morais e religiosos tradicionais, o igualitarismo forçado por meio da intervenção fiscal, judiciária e policial. A extrema direita propõe a criminalização de toda a esquerda, a imposição da uniformidade moral e religiosa sob a bandeira de valores tradicionais, a transmutação de toda a sociedade numa militância patriótica obediente e disciplinada.
Quando estás em um cruzamento e dobras a esquerda, isto é um ato de esquerda, e quando dobras a direita isto é um ato de direita. De fato, é extremamente raso e banalizante reduzir o debate à maior ou menor atuação estatal. O ideário de Estado mínimo apregoado por liberais consiste uma grande falácia. Exemplo disso são as medidas estatais de governos direitistas em épocas de crise econômica, medidas que suplantam direitos sociais visando repassar para toda a sociedade o prejuízo da classe dominante.
Há também uma observação curiosa que indica que as pessoas com altos níveis de cortisol (o hormônio do estresse) tendem menos a ir votar do que as que têm níveis mais baixos desse hormônio no sangue. Segundo esses dados, o estresse poderia ser um fator que diminui a participação dos cidadãos nas eleições. Nem é preciso dizer que determinados acontecimentos sociais, especialmente os traumáticos, podem produzir mobilizações importantes, ainda que nem sempre permanentes, na orientação ideológica das pessoas.
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