Na falta do que comentar hoje, resolvi recompilar o texto da minha palestra sobre ética na tevê, que realizei na USP em 04 de novembro de 2008. Do debate participaram na platéia . alunos da pós-graduação de Comunicação Social da USP.
"Abordou-se a crescent e briga pe la audiênc ia que implica em escolh as muitas vezes polê micas por parte das emissoras. Mas, o qu e de fato pode ou nã o ser cons iderado ét ico quando se trata de televis ão? Os esp ecialistas Clóvis de Barros Fi lho, Profe ssor Douto r da ECA, ESPM e con ferencista do Espaço Ética, e Fernando S chweitzer, jornalist a e direto r teatral, discutem os limites éticos do s profissi onais da m ídia e out ras questõ es." - informou a TV USP.
Só para comprovar que nada mudou muito nesses 2 anos resolvi falar sobre este acontecimento.
Link do programa exibido pela TV USP que fez parte do Projeto “TV USP 10 anos: Uma parceria entre a sociedade, a Universidade”, vindo à Universidade de São Paulo realizar um debate sobre o tema “Ética na TV” em 05/11/2008 – Redação Fernando Schweitzer ( Palestrante convidado ).
Abordagem da palestra através dos seguintes tópicos:
Boas noites aos presentes! (Apresentação de improviso – 30 segundos)
- A busca pela liderança da audiência abre mão de preceitos éticos?
Tentando tornar palpável a discussão sobre ética na TV, vou me remeter também ao fato mais recente de busca desenfreada e sem escrúpulos por índices dos últimos tempos, até mesmo para que a gente possa interagir melhor no decorrer do debate a seguir. O último caso que me chamou a atenção na mídia e não o único fora sobre o sequestro da menina Eloá em Santo André. Mas precisamos compreender de que maneira se constituíram certas verdades sobre a TV no Brasil. O caso é um bom exemplo de como a ferocidade por audiência, por mais que muitos de antemão pensem que estou falando da Rede Record, mas esse é um fetiche de todos os veículos na história da TV no país.
Uma adenda ilustrativa só pra jogar mais lenha... Você acreditar que programas como o Caldeirão do Hulk e quadros como o novo-velho: Musa do Brasileirão, tem qualidade? É preciso desconstruir certas inverdades que ninguém mesmo cansado de saber que é mentira chega e diz que não são verdades.
Mas vou recapitular. Por que o que ocorreu em um dado momento neste caso foi um ápice de uma corrida onde a Record obteve êxito, mas poderiam ter sido outros os vencedores já que nos bastidores várias mídias corriam no mesmo intuito. E o que busquei comentar no meu micro artigo no Observatório da Imprensa do dia 21/10 – intitulado “Santo Ibope!”, mais do que jogar uma mera pedra na emissora x ou y, é dizer que o noticioso é alimentado pela sociedade do espetáculo em que o Brasil se tornou muito mais do que pelas próprias emissoras. E a Record nesse ponto se beneficiou por atender plenamente a essa demanda do mercado. E talvez por ela estar nessa sangria louca por derrubar a rede dos Marinho que eles tenham se apercebido de que o caminho mais curto é atender a demanda de mercado ao invés de criar uma inexistente, como foi a criação do Padrão Robótico de Qualidade.
- Qual é a influência do IBOPE na escolha e na distribuição da programação nas emissoras de televisão brasileiras?
Uma programação é composta por vários fatores. O primordial é o fator financeiro, pois a TV hoje se tornou cara. Além de salários inflados dos profissionais a frente da câmera, existe o alto custo de produção. Que ocorre por imposições tecnológicas e mudanças de padrões. O que é facilmente perceptível. A TV começou ao vivo, era a câmera, o estúdio, o profissional e no ar. Depois o VT, que revoluciona a TV pois trás o fator edição para a TV, que antes só era usado no cinema através de película e na TV o uso foi abandonado pelo ao vivo que praticamente não tem custos. Cada revolução de formato muda ou ao menos chacoalha o mercado de TV. Começamos no VT ( BETA, VHS ). Agora estamos na fase Mini-DV, DV-PRO. E muitas emissoras já se preparam para o DV-HD. Mas hoje as grandes redes se encontram em pé de igualdade nos quesitos técnicos. Todas tem já tranqüilamente capacidade para a entrar na era digital.
Mas independente disso existe outros fatores que influenciam na composição de uma grade. O maior deles é o público alvo, aí que a porca torce o rabo. Pois as TV's hoje trabalham com pesquisas de comportamento, felizmente não todas. Temos o SBT que é desvairadamente despreocupado com a opinião do público ao montar sua grade. Usam o método empírico da experimentação. Se não der Ibope sai do ar, simples não? Tudo é em função de atender um público, ou de fazê-lo migrar de costumes. Hoje a nossa TV está em um momento um tanto menos apático no sentido de concorrência, pois a Record quis entrar na briga pra se tornar quiças um dia, líder. O SBT se acomodou ao correr dos anos em ser a 2ª emissora do país e perdeu o posto.
Essa briga GloboXRecord dá o maior pano pra manga, aliás acho que dá uma terno completo. Voltando a polêmica de Santo André. Mas nem por nada nesse mundo podemos esquecer a crítica de Datena a Record por ter entrevistado Lindemberg por telefone, e por ter depois entrevistado o pai de Eloá com pendencias na justiça, é também estratégica pois ele concorre com o SP Record que bebe na mesmo fonte do antigo Cidade Alerta do qual o próprio fora apresentador na mesma emissora. E tanto Globo quanto Band tentaram conseguir a entrevista com o pai de Eloá, portanto a crítica é hipócrita se for feita apenas a emissora que teve êxito.
Cito a coluna Zapping de 22/10/2008, do Jornal Agora: “Datena ficou irritado porque a Record entrevistou, ontem, no "SP Record", o pai da adolescente Eloá, acusado de homicídios. "É um jornalismo irresponsável, uma emissora irresponsável, que fala com bandido e acoberta um foragido da Justiça. O Ministério Público deveria ver isso. É imoral, ilegal. Nem na porta desta emissora eu passo mais, afirmou Datena, ao vivo, aos berros. E ainda acusou a Record de atrapalhar a negociação da polícia ao entrevistar também o seqüestrador Lindemberg, na semana passada.”
Se é ético criticar a um apenas? Acredito piamente que não!
No dia seguinte na mesma coluna: 23/10/2008 - Clima é tenso no jornalismo da Globo - Em chamada para o "Jornal Nacional", anteontem, a Globo anunciou, como exclusiva, entrevista com o pai de Eloá, por telefone. Mas o "SP Record", que passa só em São Paulo, já havia conversado com ele, também por telefone. Outro motivo de estresse no jornalismo da Globo é o fato de o "Jornal da Record" ter exibido, também com exclusividade, imagens e declarações de Lindemberg, assim que ele chegou à cadeia. O "Fantástico" estava tentando. Nos últimos dias, toda a vez que a Record entra com plantão sobre o seqüestro, a Globo faz o mesmo, em seguida. Tanto em São Paulo, como no Rio, a cúpula do jornalismo tem feito reuniões para falar do assunto.
Na medida em que alguém diga que a culpa pela queda de qualidade em prol de Ibope é exclusiva da ganancia dos empresários de TV, estaria tirando do público uma enorme parcela de culpa. Enquanto não houver alternativas palpáveis para o público esse tipo de fato trará grandes índices sempre, e quem souber aproveitar essa demanda reprimida de curiosidade e sadismo existente na sócio cultura brasileira será o beneficiário ocasional nos índices de audiência.
Hoje a Globo faz e desfaz dentro da sua grade que fora projetada por Walter Clark na década de 60 e continuada por Boni, o que hoje chama-se “Padrão Globo de Qualidade”. Esse tal padrão nada mais é do que meramente formato, que fora construído unicamente com objetivo de abarganhar audiência. E os resultados da estratagema da emissora é fator irrefutável que devemos considerar para analisarmos a TV brasileira hoje. A criação de grades fixas horizontais para fidelização de público é um artifício estratégico, que pode ser usado em busca de estabilizar público num primeiro momento. Eu questiono mesmo são os passos tomados pela poderosa após a estabilização no mercado. A Record hoje usa essa mesma tática de guerra, as vezes a esquece porque é muito imediatista, mas segue a fórmula de grade da concorrente por objetivar derrubar a hegemonia da líder. O próprio Roberto Marinho teria dito certa vez: "Eu uso o poder, eu sou o poder". Então é meio bocó se dizer como já ouvi de colegas de profissão lá em Florianópolis que: “Hoje as pessoas não são mais tão influenciadas pela Globo!”
O que hoje se chama de Padrão Globo é uma cópia deslavada do que a TV Excelsior construiu desde sua implantação e estréia em 60. Sendo a primeira televisão brasileira a se utilizar tanto da programação horizontal, em que a mesma atração é exibida no mesmo horário todos os dias e a programação vertical, em que a atração que sucede a anterior visa manter o público por afinidade de conteúdo. Assim tornou-se dentro de seis meses de operação a líder de audiência na cidade de São Paulo. Também de criação da Rede Excelsior é o top de cinco segundos para anunciar a próxima atração. A emissora foi a primeira a ter um logotipo: duas crianças chamadas de Ritinha e Paulinho, que protagonizaram diversas vinhetas.
É engraçado o que ocorreu dentro da grade sanduíche do horário nobre Global que criou o costume estratégico de se ter entretenimento, notícia, entretenimento como forma de amenizar ou suavizar a seus cativos os acontecimentos do dia. Para quem já teve a oportunidade de assistir Muito Além do cidadão Kane do Channel Four, onde na quarta parte, mostra-se em tese os envolvimentos ilegais e mecanismos manipulativos utilizados pelas Organizações Globo em suas parcerias para com o poder em Brasília (incluindo fraudes em eleições, assassinatos encomendados por seus maiores figurões).
O cenário era complexo, e é importante frisar que havia competição pesada sim na época. Além da Excelsior, a Globo se impôs sobre uma TV Tupi bastante poderosa, sobre uma Record que durante bom período dominou a lista dos programas mais assistidos, embalada pelos festivais de música. O que ocorria com as emissoras anteriormente era o que eu chamo de sucesso não planejado, apenas por mérito e não por estratégia, exceção da grade Excelsior que em 6 meses após a sua estréia se tornou líder em São Paulo com a 1ª grade fixa e planejada no país.
Houve uma grande estratégia por trás do êxito da Rede Globo, que se baseou primordialmente no estudo de comportamento social. O que até hoje pode ser visto na emissora carioca, nos famigerados grupos de pesquisa. Onde personagens de novela podem ser pulverizados da tela como o casal lésbico de Torre de Babel, que fora explodido no Shopping, como alternativa a rejeição do tema abordado por Sílvio de Abreu de: “Um casal lésbico, bem sucedido e feliz!”.
A questão ética na TV pode ser encarada ao pé da letra, mas também na essência. O surgimento do SBT na década de 80 é um grande exemplo, com seus hoje clássicos programas e que são considerados como cults hoje, mas que a época eram alvo de críticas severas, dado que eram amplamente rotulados por especialistas em TV de popularescas, especialmente os programas de auditório comandados por Gugu Liberato, Raul Gil, Moacyr Franco, J. Silvestre, Flávio Cavalcanti e pelo próprio Sílvio Santos, o SBT caia no gosto do telespectador de renda mais baixa. Na linha infantil, o grande sucesso era o programa do palhaço Bozo, um semi-enlatado, pois era uma versão da personagem americana criada na década de 40.
Os enlatados são também para mim uma forma de apelar, ou de redução de custos, ou as 2 coisas como diria o Chaves. As vezes com êxitos inimagináveis dentro e fora da Globo. Em 1985 a minissérie australiana “Pássaros Feridos”, consegue a liderança de audiência em seu horário, graças à estratégia de certa forma apelativa do SBT de começar a exibição da minissérie quando a novela da Rede Globo Roque Santeiro terminava, o que era ostensivamente anunciado por Sílvio Santos em seu programa, com o slogan: “Depois de Roque Santeiro não perca: Pássaros Feridos”. A minissérie foi reapresentada várias outras vezes, teria se tornado a época um "curinga" de programação na mão de Sílvio Santos, mas sem o sucesso inicial. Um curinga hoje do SBT é “Chaves”, hoje em 3 horários de exibição na grade em muitas cidades, e em algumas com grade regional apenas 2. O que pra mim é uma forma também de apelar, mesmo que seja um conteúdo de qualidade, líder de audiência em mais de 40 países.
Quando usamos um determinado atalho na TV pelo Ibope é uma demonstração clara de que o que vale são os índices e não o conteúdo. E hoje quais seriam os casos onde o atalho foi pego para alavancar uma emissora ou um horário frágil?
- Casos em que a ética foi deixada de lado para que os programas alcançassem um alto índice de IBOPE;
A ética pode ser deixada de lado na TV de várias maneiras. Em um ao vivo estilo Ratinho onde o diretor grita no ponto uma única frase: Continua explorando isso que está subindo o Ibope!”. Em formatos internacionais quando a produção é desleal com participantes de realits show: seja na seleção de participantes, seja manipulando resultados. Mente-se para o público, para os participes deslavadamente. Como no programa Ídolos, onde pensariam os puritanos é um concurso legítimo. Tanto na Record como no SBT a pratica é a mesma o programa mudou de canal e a falta de ética também.
Eu vou fazer uma alto citação, uma matéria que produzi em Maio de 2008 sobre o programa Ídolos. Eu me infiltrei como concorrente pra descobrir tudo sobre os bastidores do programa. É verdade, e a prova é uma foto minha no site oficial do programa. Eu vou ler na íntegra para não fugir nenhum detalhe:
“As comunidades sobre o programa agora na emissora dos bispos fervem de comentários, principalmente pelo desrespeito e falta de critérios para com os candidatos. Muitos reclamam que além de ficarem no frio e na chuva após horas sendo filmados, cantando para câmeras para fazer número no vídeo, ainda se surpreenderam com duas seletivas prévias – uma no segundo dia, nas dependências do Hotel Deville, onde foram realizadas as gravações da primeira eliminatória do programa, e outra no terceiro dia. Existem duas fases anteriores aos jurados, antes dos inscritos cantarem para os jurados da TV exibem-se para produtores anônimos. Apenas os 150 selecionados das duas fases de cada cidade que participarão da fase com os jurados que as emissoras fingem para o telespectador que os 3000 candidatos da cidade cantaram para os jurados, o que não ocorreu segundo outros participantes em nenhuma das edições no SBT também.
Muitos se abismavam ao ver candidatos sem o menor preparo serem classificados para a audição com os jurados: a cantora Paula Lima, o empresário Luiz Calainho e o produtor Marco Camargo.”
Temos o caso do recém finado “Linha Direta”, que surgiu para barrar o sensacionalismo do Ratinho no SBT, e se perpetuou na grade da Globo. Um quê de justiça com as próprias mãos, ou em uma analogia colocando-se como pai dos pobres, praticamente um justiceiro midiático. Uma produção muito pobre, com simulações do nível do evangélico fala que eu te escuto. Onde o tendencionismo é a marca. Onde o discurso implícito desrespeita qualquer linha racional e vira mera ilustração.
Quando disse na minha coluna semanal no Correio da Ilha e que também saiu no Observatório: “E volta e meia um novo tufão tumultua os índices de audiência na TV de sua estática conjuntura.” É bem sabido que na TV aberta a Rede Globo hoje detém em torno de 49% do share de aparelhos ligados no país. Um índice que antes, a 10 anos era de 60%, e na década de 80 chegava em momentos como no ultimo capítulo de “Roque Santeiro” a 100%. E nesse cenário tem se o exemplo do Sílvio Santos que nunca teve o intuito de ser líder e sempre correu desordenadamente no segundo lugar, com feitos líderes como o Show de Calouros na década de 80 e início de 90.
Mas cada vez mais a ofensiva da Rede Record que antes tinha um fundo muito mais ideológico, o de buscar status e de qualificar-se no mercado como alternativa de produto para anunciantes. Porque havia uma clara vontade e a sua estratégia era se mostrar como um produto de tanta qualidade para o público como a líder. A estratégia foi seguida sim, com um forte investimento em contratação de artistas principalmente da Globo, como uma jogada de marqueting maquiadora num primeiro momento e que acabou por ser chamada por muitos de clonagem. Após essa medida trazer bons resultados, se tornou uma guerrilha por pontos. Onde a qualidade tem pé de igualdade a busca por índices na decisão do que vai ou não para o ar. Seja em questão de pauta dos programas ou no sentido do que sai ou entra na grade.
Ao passo que o SBT, antes segunda emissora em número de telespectadores na média mês foi deixado para trás, a velha tática Global de desmerecer tudo que não fosse dela que antes atingia apenas o SBT passa a virar a pedra na vidraça da Record. O que me parecia estranho nessa tática antiga por exemplo quando se desmereciam atores do SBT, como Regiane Alves como protagonista num passado não tão distante de uma telenovela no SBT. Sendo que esse ano ela protagonizaria uma trama de qualidade infinitamente pior que Fascinação, com o agravante de a sua atuação ter sido desastrosa em Beleza Pura, e era esplendida no SBT. Aí que me pergunto, o problema é da qualidade da atriz ou da emissora? Me irrita profundamente esse discurso irracional de que a Globo tem qualidade e que não tem atrelado no discurso nenhuma justificativa, apenas uma forte retórica baseada no status quo do tão falado padrão Globo de Qualidade.
Um outro item dentro do caso Eloá que também precisamos nos ater, foi que como revide a investida da Record em passar parte considerável de seus programas de entretenimento hora sendo pautados pelo sequestro e seus reflexos como houve no matinal “Hoje em Dia”, entrevistando se possível até o cachorro de alguém da família seja de Eloá ou do seqüestrador. Mas pensar que a Rede Globo também tentou a mesma pauta, mas a Record chegou a frente. E você pensar que a Globo nos bastidores deu ordem para que ao entrar um plantão da Record sobre o caso, o procedimento seria também entrar com boletim sobre o mesmo tema. Ou seja a ética com o público é nula, pois se pode cortar um programa apenas com o fator Ibope gritando no ponto eletrônico de um apresentador, ou cortando qualquer atração, inclusive os desenhos matinais.
- A falta de incentivo à produção de programas nacionais e educativos, colocando programas “importados” que tragam mais audiência.
Eu sou avesso a crer que hoje se deva ir pelo caminho fálido de criticas rasas como: É bom porque é educativo. Ou ruim porque não é educativo. Tem produto ruim em todos os seguimentos. E se você é um artista ou produtor por mais que seu gosto particular pese na construção de um produto, você produz para alguém. Não existe essa auto-antropofagia na TV. Alias o contrário. Os enlatados são um problema muito mais de falta de identidade sólida de nação no Brasil, falta de pessoas com valores na nossa sociedade que é capitalista e americanista, do que de grade de televisão. Certas coisas americanas não funcionam em diversos países mesmo com toda imposição comercial e sócio-política do Império do Norte. Um país pobre e sem cultura apenas o status se vê como evoluído ao consumir merda americana e criticar a merda brasileira. Tire o status o que resta no entretenimento americano? Nada absolutamente. Algo produzido para imbecis só faz sucesso em públicos imbecis!
Mas vou pulverizar em outro exemplo. Hoje não basta ser da Globo para dar Ibope, quando ela estreou a microssérie A Pedra do Reino - uma das apostas da emissora, e um sucesso de crítica. Ficou novamente atrás da Record (22 pontos com O Aprendiz) e do SBT (16 com o filme Lara Croft - A Origem da Vida). A microssérie registrou 14 pontos.
O que pode aludir a uma co-responsabilidade ao público, pois havia um produto nacional e de qualidade, que perdeu para um semi-nacional e um enlatado. Então onde fica a velha retórica da falta de opção, o momento agora é outro e temos que buscar novos questionamentos.
Então poderíamos antes ter perguntado: “Onde entrariam nessa disputa os programas educativos e culturais na programação?” Além de a pergunta estar errada. A resposta é não entrariam. Eu sempre bato na tecla do formato. O programa para ser educativo e ético não precisa do rótulo enfadonho e nada atrativo comercialmente em uma sociedade idiotizada: “PROGRAMA EDUCATIVO”, isso assusta o gado. E o público é tratado como gado consumidor no Brasil. Então, que seria um programa educativo? Acredito que o formato pode variar, ou seja, educar não pode ser chato. Alguém aqui já assistiu “Tecendo o Saber”? É um programa que passa num horário terrível, lá pelas 5 da matina. É educativo, apesar de baixo orçamento, bem produzido, “educativo”. Quase um telecurso evoluído. Porque não poderia ser exibido em um melhor horário de maior evidência? Com uma produção de peso? Com 2% do orçamento de Malhação tem mais qualidade. E com atores excelentes como Bemvindo Siqueira.
Eu odeio o Jô Soares como pseudo entrevistador. Mas o respeito muito como ator, diretor e comediante. E quando ele questionou o ex-ministro Gilberto Gil quanto aos critérios impostos para um evento artístico ser contemplado pela lei de incentivo a cultura, onde citava-se: “Que a obra ou evento deveriam ter abordagens que contemplassem e estimulassem a cultura em seus temas”. O Jô foi de imensa felicidade e propriedade em dizer que um espetáculo teatral por si só já é um ato fomentador de cultura e de inclusão social. E creio eu que a TV deve ser responsável socialmente, ética obviamente e assim automaticamente ela será educativa.
Pensemos, se a TV Cultura que tem viés público, deixa os melhores programas para horário alternativos, por que a Globo faria diferente sendo uma emissora comercial? Embora muitos esqueçam, ela é uma concessão pública, mas de iniciativa e gestão privada.
E aí quero entrar em uma outra boa discussão. O que seria um produto nacional do padrão Globo perdendo no Ibope? Não sei se é porque as pessoas gostem de produtos de baixa qualidade, ou porque a qualidade da poderosa seja apenas status e não realmente qualidade. A Globo hoje mesmo que de forma pulverizada tem também enlatados em toda a grade sua. Vide a Sessão da Tarde que eu chamo de sessão refugo, ainda é líder no Ibope. O motivo claro além da falta de opção no horário é a acomodação dos telespectadores na grade padronizada. Eu conheço pessoas que não mudam de canal para esperar o próximo programa. Ou seja você espera o prato principal com um ante pasto ou uma entrada. Você espera Malhação com uma coisa de fácil digestão um filme, mais que repetido do qual não necessite de muito raciocínio para assimilação.
Não queiram culpar a Record por comprar um formato internacional para se alavancar, pois o fato é que se não é programa Global as críticas desvairadas chegam antes da estréia. Muito menos o SBT por repetir pela milésima vez um sucesso Hollywoodiano, pois a Globo faz isso diariamente a tarde como manutenção de público inapto que jamais a criticaria por isso, apenas as concorrentes. Na madrugada então é avassalador. O que são as séries enlatadas no SBT, concorrendo com o Fala que eu te escuto e filmes transpassados da Globo, e de quebra os Info-merciais, e os pornos da Band?
Hoje o grande exibidor de enlatados é o SBT, em horário nobre. Mas todas emissoras na falta de verbas ou no que eu chamaria de preguiça de produzir compram o enlatado. Você sendo empresário preferiria gastar 200mil por capítulo de novela como hoje faz a Record, 150 mil a Globo (Pois já tem seu patio de produção estabelecido e dinamizado em 3 produções e uma reprise que desonera as outras no ar, além de ser já estabelecida como importadora), ou pagar 1500 para a Televisa por um produto já testado no mercado?
Uma adenda só pra esquentar a discussão. A caríssima “Os Mutantes”. Gostaria que esse fator fosse abordado em seguida. Pare e pense: Alguém já imaginou uma novela na Record registrar 15 pontos de audiência (média geral até o momento) com picos de 27 contra a principal novela da poderosa?
No quesito filmes e seriados americanos, hoje também pela primeira vez na história o SBT é líder, com o maior horário loteado por série estrangeiras. Se já não fosse muita apelação ter uma grade vazia de conteúdos por ele produzido o canal tem um novo programa, que ao não obter resultados já parti pra guerra banal. O programa “Olha Você”, sem conteúdo, apelou para reprises do reality show, “Casa dos Artistas”. Chega a ser patético. Não consegue ultrapassar 3 pontos no Ibope. E, detalhe: chega a ficar atrás da RedeTV!. O programa não vai longe, seu fim deve ser decretado eu creio, questão de tempo ou piti do Tio Sílvio.
Mas falemos de apelação de um outro tipo só pra amenizar. Que no caso de A Pedra do Reino é uma apelação as avessas, pois você criar um produto de referência numa área que hoje é a maior vidraça da poderosa nada mais é do que isso. Se você considerar que hoje uma novela das 8, o produto de maior faturamento no país e maior audiência ainda é um engodo endossado apenas pelo estigma do tal Padrão Globo de Qualidade. E que pra mim é impossível não comentar que 70% do elenco é de atores que tem formação obscura se é que tem formação. Antes que me façam o comentário padrão: “Mas também qualquer um pode fazer novelas.” E eu pergunto: “Se uma pessoa não formada operar alguém, será preso por exercício ilegal da profissão, não é? E porque não prendem 70% dos pseudo atores da novela das 8?”.
O pior é que se não é da Globo o teatro não lota. A sociedade do espetáculo, não assiste mais espetáculos, apenas pega autografo de prostitutas e prostitutos ao fim de uma exibição sem conteúdo ao vivo. E como sobreviver no ostracismo social? Com que cara um ator vai ao crediário da C&A e perguntada a sua profissão ter de dizer qualquer coisa menos “ator”. Qual ator não global que nunca passou esse constrangimento, duvido. Ao se dizer “Sou Ator” a pergunta que vem como uma faca arremessada no peito é: “Que novela você fez?”
Hoje a Globo amarga grandes reveses nos índices de suas novelas. Como em "Negócios da China" que teve uma primeira semana razoável, melhor do que suas duas antecessoras. Porém, na segunda semana, houve uma queda espetacular. Na semana passada, a novela teve leve recuperação. Até quinta, sua média era de 19 pontos. O que por hora não ameaça a liderança, mas que teve momentos em que a trama deixou de ser líder como quando o SP Record bateu recorde com uma média de 17 pontos e picos de 22. O jornal ficou por aproximadamente 40 minutos – não consecutivos – à frente da Globo que exibia as novelas Negócio da China e Três Irmãs, que tiveram índices abaixo dos 20 pontos em vários momentos. O Jornal da Record também conseguiu ofuscar a audiência do Jornal Nacional.
Tudo isso é apenas culpa da emissora que apela ao sensacional? Neste caso creio que podemos falar sobre a linha de abordagem de uma emissora e seu jornalismo, que é diferente de outra. Mas até então que seja o caso do momento sendo abordado em um jornal não padrão é aceitável embora ainda assim um tanto apelativo. Mas o fato é que realmente a trama é fraca e a ex-BBB, não segura as pontas como protagonista. Assim culpar a Record por apelar é desmerece-la ou pior dizer por tabela: “Como que algo de tão baixo nível pode vencer a Globo” Eu acho que a Globo neste caso perdeu para sua própria incompetência.
Agora fator grave foi no “Hoje em Dia” A revista eletrônica das manhãs da Record que abordou o seqüestro da jovem Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, com direito a entrevistas exclusivas. Mas o pior fora que o “Mais Você” que agora clonou o estilo do matutino da Record, implementando um setor de jornalismo na sua equipe de produção fez o mesmo, só que com menos êxito. E também teve sua entrevista exclusiva com a outra menina envolvida no caso.
Que alguém faça de tudo pelo sucesso não é aceitável, mas de certa forma compreensível. E que a emissora dita como padrão de qualidade no país perca em momentos para apelações ou bizarrices, vai, pode se compreender. Mas que ela se paute pela concorrente sem qualidade segundo ela mesma sempre costuma enfatizar, é a maior apelação de todas na TV nos últimos anos.
Além de tudo existe o fator financeiro que é quem dita em cumplicidade com os telespectadores a falta de ética na TV. E pensar que se idolatram os ícones da TV a cada dia mais para produzirem lixos em troca de salários milionários. Pagar 50 mil por mês para o William Bonner distorcer a realdade é um ultraje aos famintos do país. Mas isso ocorre lá fora também. O descalabro de super sálarios é uma recorrente na TV mundial e em tudo que gira em torno da indústria pseudo-cultural.
Para tentar concluir e jogar a bola pra vocês vou remete-los a uma matéria da agência EFE: “Segundo números obtidos pelo dominical "News of the World", os 50 executivos mais bem pagos da "BBC" ganham, juntos, 14,3 milhões de libras (18,2 milhões de euros).
Aproveitando o escândalo e o debate que se instituiu, os opositores do Partido Conservador já disseram que cortarão a taxa anual que os britânicos pagam para financiar a "BBC" - de 177 euros por televisor colorido - assim que chegarem ao poder, informa o "The Sunday Telegraph".
Uma fonte da legenda disse à publicação que um Governo conservador observaria muito mais de perto a "BBC", para evitar abusos semelhantes com o dinheiro público.”
Lhes pergunto como e quando poderemos exigir ética dos nossos semi-deuses do Olimpo, digo da TV?
Agradeço a atenção e espero estar de alguma forma colaborando com a concretização deste projeto educacional dentro da comunidade da USP e TV USP, bem como com quem nos acompanha em casa.
Informação é um dever além de um direito de todos os cidadãos do mundo, que não pode ser sonegado. Espero que os conglomerados de comunicação bem como os cidadãos se apercebam e pratiquem esta máxima.
E vamos ao debate para começarmos a construir isso.
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