Fernando Schweitzer, Florianópolis/SC - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista
"Ladrón te fuiste, con mi oro", assim cantam esses excluídos em uma mina de extração perante um estrangeiro, dono da mesma. O videoclip do "sencillo" do grupo chocoano ChocQuibTown, filmado nas minas de oro de Condoto e em alguns cenários de Quibdó, Colômbia. Esta mesma banda ganhou na categoria de Canção Alternativa no Grammy 2010 com o tema ¿De dónde vengo yo?.
A banda por aqui poderia ser classificada com "world music", pela mescla de influências expostas em suas canções, classificação que não compreendo, tão menos concordo. O que os gringos chamam de "word music" é apenas e nada mais que tudo que não é americano, rótulo que nossa crítica e publico compraram a preço e banana. Ganhar o Grammy de Canção alternativa, não sei se é algo para deixar os colombianos tristes ou felizes.
¿De dónde vengo yo? Perguntam os simpáticos colombianos na letra da música vencedora da premiação que prestigia os latinos. Pregando a alto crítica em uma das frases ao dizerem "se você não me critica, me critico eu", o sarcasmos parelho ao protesto faz sorrir. Um dos estribilhos é genial, mais parece uma tribuna de recamações da nova geração sul-americana que desesperadamente quer ascender, fazer parte de um todo, mas que são abjeto e refugo sócio-cultural. A angústia de querer-se fugir se retrata neste verso:
Todo el mundo toma whisky… aja
Todo el mundo anda en moto… aja
Todo el mundo tiene carro… aja
Menos nosotros… aja
Todo el mundo come pollo… aja
Todo el mundo está embambado… aja
Todo mundo quiere irse de aquí
Pero ninguno lo ha logrado
Ser alternativo em um mundo robotizado, pasteurizado e muitas vezes acéfalo pode ser positivo para uma parcela mínima dos seres humanos. Apenas aqueles com poder aquisitivo e posição social de destaque. Aos que estão nesta casta restrita dá-se quando ousam sair do padrão o título de excêntrico. Em uma sociedade neo-nazista, hipócrita e carcomida por falsos valores, aonde todos buscam adequar-se a norma por medo a represálias de vários níveis e instâncias, ser alternativo é um fardo pesadíssimo.
ChocQuibTown já gira a um certo tempo pelos canais latinos especializados em clips apenas em espanhol. O título Somos Pacífico, é um êxito em mais de 10 países, tocando em pistas pela América Latina.
A Colômbia é um país pluriétnico e multicultural, a diversidade deste se vê em cada uma de suas regiões. Com representantes de etnias africanas, de comunidades mestiças e indígenas o país é um arco-íris de influências, miscigenação e culturas. Ritmos como o Vallenato, hoje são categorias da premiação. Gênero esse originário do Caribe colombiano que lembra o Merengue, região central da antiga província de Padilla e uma variante importante na região dos departamentos de Bolívar, Sucre e Córdoba.
Muitos podem pensar que rítimos ditos alegres não podem trazer conteúdo politizado. O cantor panamenho Ruben Blades segue causando pelo mundo com sua 'Salsa Intelectual", em seu disco: Cantares del Subdesarrollo (2009), ganhador do Grammy como melhor Álbum de Cantor. Seguindo na linha de não ter papas na língua e falando do sulfrágio das classes menos abastadas. Uma das canções deste álbum que trás outros temas de protesto como: Las Calles, ou, País Portátil. Esta última trás um grito direto e crítico: "Se vende un país portátil. Con su autoestima en el suelo. Con un enorme complejo. Que lo hace antinacional. Se vende un país portátil. Que castiga al que es honrado. Y a un pueblo auto condenado. Por no aceptar la verdad".
A edição deste ano da premiação pode ser vista como uma vitória das castas baixas. Claro alguns figurões como Juan Luiz Guerra e a banda mexicana CAMILA, levaram seus merecidos prêmios, mas o reconhecimento destas obras de alcunha popular autêntica merecem reflexão, no mais atenção. Nós que tanto nos subestimamos deveríamos seguir o hino composto por Rubén Blades. Música do ganhador como Álbum de melhor cantor, Himno de los Olvidados (Hino dos Esquecidos):
Este es el canto de la gente triste Este é o canto da gente triste
Este es himno de los olvidados Este é o hino dos esquecidos
Es el reclamo por lo que no existe É a reclamação pelo que não existe
Es la protesta de los desesperados É o protesto dos desesperados
Las ilusiones nuestras se han perdido As nossa ilusões foram se perdendo
Con la maldad de los que han gobernado Com a maldade dos que nos governaram
Con su violencia nos han sometido Com sua violência a nos submeteram
Con la violencia serán castigados Com a violência serão castigados
Lucharemos hasta ser librados… Lutaremos até sermos libertados...
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