Mostrando o cansaço dos anos de militância e carreira no teatro independente o diretor e ator de Somente Tu e Eu, que reestreará dia 12 de Junho no Teatro da UBRO de Florianópolis, parou por algumas horas em sua agenda atribulada. A entrevista ocorreria ao ar livre, mas devido a uma chuva torrencial nos abrigamos no TAC, Teatro Álvaro de Carvalho.
PN - O te passa à cabeça hoje? Quais seus os projetos?
Nando - Além do regresso aos palcos após o assalto que sofri em Abril com Somente Tu E Eu, estou trabalhando com o diretor carioca Roberto Rezende, em um musical infantil. É uma versão de Peter Pan.
PN - E você fará o Peter Pan?
Nando - (Rindo muito) Mas não tenho mais idade pra essas coisas... Farei o velho Capitão Gancho.
PN - E como é depois de anos trabalhar com um outro diretor?
Nando - Motivante, e ao mesmo tempo difícil. Parece que perdi o jeito para atuação. Desde 2003 eu tenho trabalhado muito livre como ator, pois eu mesmo era o diretor e ator em praticamente todos os espetáculos de minha companhia. O que facilitava muito era o fato de que os textos eram também meus. Mas é um ciclo que se renova a cada parceiro em cena, como agora aonde atuarei com o Gabriel, um ator excelente que nunca havia trabalhado.
PN - O teatro em Santa Catarina teve um grande crescimento nos últimos anos. Como você acompanha e vê este momento?
Nando - Sério? Na verdade houve um crescimento meio que resultado da criação do curso de cênicas na UFSC. Mas muito menor que o esperado, ao menos por mim. A grande dificuldade na cena por aqui é material humano. Sempre e sempre é um parto se fechar um elenco. Sem contar que é muito difícil encontrar bons atores, plenos, disponíveis e que se permitam ser dirigidos. O ego dos atores é um grande entrave nas montagens por aqui.
PN - Quando e porque você começou a fazer teatro?
Nando Schweitzer - Eu cantava já na noite... Comecei aos 9 anos a cantar... Mas aos meus 13 anos tive encefalite, o que me fez perder temporariamente todo
o movimento corporal do lado esquerdo do corpo. Logo ao sair do hospital, após 74 dias de internação eu perdi o calibre das cordas vocais. Acredito que a mudança de voz e a falta de treinamento neste período influenciaram muito e também o fator psicológico pesou. Lembro que não tinha controle da voz e tentava cantar aos prantos. E um dia vi no jornal uma matéria chamando para as inscrições das oficinas profissionalizantes do CIC, e me inscrevi na oficina com a grande mestra Vera Lucia Costa, e logo comecei a atuar profissionalmente em seu grupo o GRATTA.
PN - Quando você começou a dirigir? Foi um caminho fácil?
Nando - Tive algumas tentativas frustradas de dirigir espetáculo ainda no GRATTA. Mas efetivamente dirigi um espetáculo meu, A Tribo de Kerodon, em 2003. O que foi uma das causas de minha saída do grupo anterior. Fiquei muito abalado pois fazia parte de muitas peças, creio que 7, e do nada tinha apenas eu e uma montagem que não tinha perspectiva de continuar. Foi uma decisão coletiva do elenco do GRATTA na época, em que disseram que eu teria de decidir entre "a minha companhia e a deles". E eu muito intempestivo, não conversei, sai caminhando com minha bicicleta e convoquei o elenco da Tribo a fundar A Tribo da Arte, hoje rebatizada como A Tribo Produz.
PN - Paramos aqui no Teatro Álvaro de Carvalho, você já se apresentou aqui?
Nando - Já, Em 2 ocasiões. Com um infantil, Pequenitos e Pequenitas. Era fabuloso. Ficamos 5 anos em cartaz, sem patrocínio, com 33 atores. E a outra peça foi Juan & Marco - Obra teatral que trabalhávamos completamente nus Marcelo Lalau e eu. Foi um loucura. Escrevi em 2 noites, ensaiamos um mês 3 vezes por semana e estreamos no Teatro da UFSC e um mês depois entramos em cartaz aqui todas as quartas-feiras de Agosto. Depois fomos para São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
PN - Juan & Marco sofreu um boicote no TAC em 2007, segundo eu pesquisei. Como foi?
Nando - Foi uma censura também. O absurdo foi tamanho que criou uma crise na nossa companhia na época, e ela se desfez. A diretora do TAC, era a Márcia Dutra. Ela ao final do espetáculo veio ao meu encontro e disse literalmente: "Este espetáculo não é condizente com o Teatro Álvaro de Carvalho, e estaremos cancelando as pautas desta companhia, inclusivo do outro espetáculo agendado para novembro..."
PN - Algo que você ainda não fez e gostaria?
Nando - Sempre quis viver de teatro. Mas não creio que isto ocorrerá um dia. Sempre quis fazer TV, mas isso já fiz.
PN - Sério? Onde foi?
Nando - Interpretei o Alexandre Nardoni no Discovery Channel. Foi ao ar para toda América Latina e Brasil, lá dublado. Foi engraçado me ver com outra voz. E foi uma experiencia muito rica. Gravamos o episódio em 5 dias em Buenos Aires, porque a série foi idealizada e produzida pela Edemol Argentina.
PN - E novelas nunca pensou em fazer?
Nando - Nunca pensei em deitar com um diretor de novelas por um papel. Imagine o que é a vida desses galãzinhos de TV. Se fazer de garanhão em festas e namorar as escondidas o diretor da novela para poder ter papéis de destaque.
PN - Você levanta bandeiras?
Nando - Não. Acho chato. E atualmente quando perco a paciência com algo ou alguém eu caminho. Outro dia estava com amigos em uma balada, e porque achei muito tediosa lhes disse: "estou indo" e caminhei para fora chamei um táxi e fui a outro lugar. Caminhar é minha nova filosofia. Caminhar...
Serviço:
Florianópolis, 12, 13 e 14 de Junho - 20h – TEATRO DA UBRO
Página Official: https://www.facebook.com/SomenteTueEu
Ingressos - R$ 30,00 (No dia)
Antecipados - R$ 20,00
Próximas funções:
São Paulo e Porto Alegre (Julho, datas a confirmar)
Um comentário:
Amo!
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