quarta-feira, agosto 05, 2009

Sonho de Ícaro

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista



Esta semana que passou foi um pouco atípica, por não dizer-se estranha na TV Brasileira. Os mais impensáveis exitosos produtos televisivos em questão ibope foram a milésima versão de "Bety, la Fea", original colombiana de Fernando Gaitán. Esta que já teve desde versão gringa a mexicana. A terça-feira (04) estreou a versão em parceria com a Televisa(Mex) na Rede Record. Os índices ficaram abaixo do sonhado pela emissora, embora sendo coerente e justo se deva reconhecer que não é simples estrear em mesmo horário que o grande sucesso global e sem sal do momento, Caminho da Índias.

O que se deve entender é que o público brasileiro é muito conservador e prestigia a Rede Globo por osmose. Nada além da vênus platinada tem o tal selo de qualidade Globo. Embora não veja um produto de qualidade na Rede Globo a mais de 2 décadas, exceto por Os Normais. A pasteurização do público mesclada a uma acomodação fenomenal, quase um status quo sócio cultural, faz com que se compre produtos de terceira linha como de primeira se na poderosa estão sendo vinculados. E o contrário também sucede, ou seja, se está fora da Rede Globo o bom lhe parecerá feia. Aí entra o problema para "Bela, a feia", nome da versão recém lançada pela emissora da Barra Funda. Adjunto a isto também se deve ver o fiasco que foi a ultima temporada da saga do mutantes, que chegou a beirar 6 pontos pífios em suas "emoções finais".

Mesmo com todo esse histórico sociopático coisa rara está a passar na mente do povo brasileiro este semana. Por incrível que pareça, a Rede Globo perdeu novamente para o programa religioso da Record. Na última segunda (03/08), o programa “Fala que Eu te Escuto” marcou uma média de 6 pontos. No mesmo horário, a Globo que exibiu o “Programa do Jô” também marcou a mesma média. Enquanto a Globo exibia uma entrevista com a cantora Elba Ramalho, a Record pegou carona em “Bela, a Feia”. Esse outro fenômeno mundial que é a nova aposta da emissora e ainda mais em horário nobre que de acordo com dados preliminares obtidos pelo portal O Planeta TV!, a estréia da novela adaptada por Gisele Joras, no horário das 20h30 às 21h39, marcou uma média de 10 pontos com pico de 13.

O X da questão vem em que TV é hábito, e como sempre em desesperação as emissoras brasileiras e suas grades voadoras são o maior inimigo da perfeição, digo, da audiência. Este sonho de ícaro que todas almejam e poucas alcançam. E seguindo essa tradição após o término do reality "A Fazenda", a pobre feia vai mudar de horário.

A competitividade na tevê brasileira é algo que hora e meia ressurge como um novo ou velho Davi contra o grande Golias midiático global. Todavia acabam naufragando em sua própria volúpia e sede de êxito. A Record hoje se estabilizou em um patamar de boas médias com picos de liderança mais que não passam muito disso, ao contrário de a tempos atrás onde chegava a ter vários programas como líder absolutos de determinados horários.

É eminente que ou a Rede Record terá de voltar a estabilizar sua grade para cativar um público para chamar de seu. Mesmo com produtos como este um "sucesso mundial" ou internacional como queiram, existem outras coisas que fazem o êxito de um produto midiático. Do contrário o que pode ocorrer é um desperdício de dinheiro e em nada fluir em resultados. Hoje se pensar que a emissora investe 200mil reais por capítulo de novela é um grande feito, e a qualidade hoje de seus produtos são incontestáveis. Mas o erro é velho e conhecido, em tempos áureos SBT também tinha seus pontos de liderança, e se perdeu. Hoje o canal paulista é 3° na média mês do PNT e está sofrendo e investindo muito para tentar voltar ao status anterior de segunda rede do país.

Sem embargo vemos que de um lado a Rede Globo caiu em Ibope bem como em qualidade. De outro a guerra Record X SBT, essa que parece não ter fim. É como um cego em tiroteio que não sabe de onde vem a bala e menos para onde está o inimigo. A Globo segue tentando manter o ranzo de seu êxitoso histórico de glórias mil, enquanto os nanicos se escalpelam e sonham em um dia ser líder. Essa é a triste realidade da TV aberta brasileira, infelizmente.




Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista




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