quinta-feira, dezembro 20, 2018

Crônicas de um exilado: De cantar na rua a um puteiro!

Meu primeiro dia cantando nas ruas de Montevidéu acabou em uma zona. Desde o início de meu exílio na capital uruguaia eu conheci muitas ruas e poucas pessoas. Entreguei muitos currículos e tive muito poucas respostas. A média de 12 km diários nos dias de sol e calor são a pior parte de distribuir currículos à moda antiga. 


Embora um estranho no ninho, já começo a acostumar-me com o ritmo lendo da cidade e de ver as pessoas daqui a reclamar da insegurança passeando pelas ruas após a meia-noite nos dias de calor. Claro há zonas em que isto não é tão recomendado.Tenho conversado com muitos jovens de direita que me soam irmãos gêmeos dos brasileiros que votaram em Bolsonaro... Mas o artigo hoje não é sobre nada disto.


Depois de preparar um par de canções em espanhol para minha primeira inserção artística no Uruguai, por fim. Me vesti bem, pois. Afinal para pedir esmola ao rei a que vestir-se para tal. Agreguei a meu violão uma placa com os dizeres: "Troco trabalho por comida!". Um tanto apelativo, mas sincero. E por incrível que pareça além de um iogurte com cereal destes que se acha em toda parte do mundo que me deram e foi meu café da manhã de hoje, todos os demais me deram dinheiro mesmo. 

Consegui 220 pesos em uma hora cantando na Praça Independencia. O iogurte custaria cerca de 85 pesos no mercado, o que me faz pensar que se me dão comida ao invés de dinheiro me traria maior vantagem.

Logo de terminar minha rotina ao regressar a residencia de estudantes aonde estou a viver, encontrei algum dos moradores a tomar cerveja à entrada. Me convidaram algumas vezes e fui resiliente. Não queria beber nada gelado até desaquecer a voz. Logo depois de conversar com Matias, um recém chegado a resi e Gostón, um ex morador que aí veio para juntar-se a alguns desta a sair, recebo o convide para acompanhá-los.

Eis que após relutar por algum tempo ao convite e debater política com os rapazes em sua maioria conservadores e anti-esquerda, aceitei seguir-lhes na empreitada!

Seguimos depois de que me esperassem trocar de roupa pela 18 de Julio, principal artéria do centro de Montevidéu e logo compramos em um kiosko por fechar um litro de cerveja que se foi rapidamente entre 5. Logo descemos sentido ao porto e a primeira quadra entramos em uma casa de tolerância. Um dos locais mais escuros e raros que adentrei na vida. A cerveja em litro custava 250 pesos. Fiquei feliz por estar como convidado e não pagar tal preço. Dado uns minutos os rapazes resolver deixar o local a as meninas de lingerie que lá trabalhavam.

Achei inusitado que cada moça no recinto viera falar conosco e se apresentar. Embora não acredite que digam seus nomes reais. Seguimos por ruas semi desertas e logo a 3 quadras, outra wiskeria, a 1313. Esta bem iluminada com boa música, mas com preços e vestimentas das trabalhadores semelhantes a casa anterior. Pamela, uma loira de cerca de 30 anos me perseguiria toda a noite. Deixamos o local depois de um par de cervejas, que por glória divina não tive de pagar.

Chegamos a um terceiro local para buscar mais experiências diferenciadas na noite montevideana. Este sim era bonito, iluminado, mas plenamente vazio. E haviam alguns homens musculosos e muito bonitos aos que se não tivéssemos saído dois minutos após lhes perguntaria se eram garotos de programas. 

Voltamos ao 1313. Muitas risadas e cervejas viriam, o local estava ainda mais cheio que antes, e Pamela voltou a me acercar. Mas quando lhe afirmei de forma contundente que não trazia nem dinheiro nem cartão por fim desistiu de mim e terminou por cortejar um rapaz que lhe ofereceu um Paso de los Toros de 500ml, típico refrigerante de pomelo de fabricação uruguaia.

Ao fim passamos no primeiro prostíbulo, que estava muito cheio e acalorado em todos os sentidos. A música havia despiorado. Logo deixamos o local e regressamos a la e antes de subir con Gastón, a essa altura já quase meu amigo de infância, fomos comer no carrinho de sandwiches da esquina. Ele dos choripãs e eu um humildo pancho.

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