“Você se sente confortável em ter contato físico com outros caras?”, pergunta um personagem de “Interior. Leather bar”, filme que abre, nesta quinta-feira, em São Paulo, a 21ª edição do Festival Mix Brasil. A resposta para a pergunta passa por décadas de representação homossexual no cinema, esbarra em preconceito e censura e se baseia no imbróglio que envolveu um dos mais polêmicos longas-metragens de Hollywood a lidar com personagens gays, 30 anos atrás. Dirigido por James Franco e Travis Mathews, “Interior. Leather bar” é a reconstrução, ou talvez a desconstrução, de “Parceiros da noite”.
Isso significa relembrar protestos de progressistas e ataques de conservadores, significa voltar a artigos publicados em jornais nos quais se pedia boicote ao filme e também significa recordar que as carreiras do diretor e do protagonista do longa, respectivamente William Friedkin e Al Pacino, já foram estremecidas.
— Para a gente, pareceu mais interessante retomar um filme polêmico que fracassou na bilheteria do que um clássico. Sempre, quando alguém revisita o passado, busca como referência algo considerado perfeito. Nós não queríamos isso — define Mathews. — Nosso interesse foi fazer um filme que usasse “Parceiros da noite” como ponto de partida para explorar o quanto avançamos desde então em termos de censura e em termos da representação da sexualidade gay no cinema.
Mathews está em São Paulo não apenas para apresentar seu filme no Mix Brasil (o festival acontece no Rio entre 14 e 21 de novembro), mas também para ser jurado da mostra, a principal do país para o cinema gay. Com uma carreira premiada em festivais do gênero, ele conheceu Franco depois que lançou seu primeiro longa-metragem de ficção, “I want your love” (2012), e recebeu a proposta de entrar no universo arriscado de “Parceiros da noite”: no filme de Friedkin, Pacino interpretou um policial que se disfarçava para caçar, em clubes gays sadomasoquistas, um serial killer. Porém, “Interior. Leather bar”, que foi selecionado para os festivais de Sundance e Berlim, não é um remake. Seu foco está nos 40 minutos de “Parceiros da noite” que foram cortados por censura a cenas de sexo entre homens.
— Nós nunca quisemos imaginar como seriam. O que queríamos era entrar nos temas da censura e da fronteira da exploração sexual. Para isso, misturamos documentário e ficção, mostramos os debates entre pessoas da equipe sobre o que pode ou não ser mostrado e também recriamos algumas cenas — diz Mathews. — Nosso filme é sobre as barreiras que criamos, as criativas, as pessoais e as sexuais.
Essas mesmas barreiras já estavam presentes quando Friedkin resolver filmar “Parceiros da noite”. Mas certamente ele não esperava a repercussão negativa que o projeto alcançou, até porque, no papel, tudo conspirava a favor do filme. “Parceiros da noite” foi lançado em 1980, depois de toda a liberação sexual da década anterior, antes da descoberta do vírus da Aids, numa época em que já se começava a quebrar o preconceito contra gays (vejam bem, apenas “começava”). Sua trama, entre o thriller e o erotismo, se passava no submundo de Nova York, ambiente sobre o qual o cinema mantém constante curiosidade. E a produção conseguiu juntar um diretor que vinha de quatro longas-metragens premiados ou indicados ao Oscar (entre eles “O exorcista”), com Al Pacino, que àquela altura já era o Al Pacino.
Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. “Parceiros da noite” não apenas foi detonado pelos críticos e indicado a três “prêmios” Framboesa de Ouro, inclusive o de pior filme, como foi duramente atacado por grupos de defesa dos homossexuais. O argumento era que a produção de Friedkin mostrava os homens gays como pervertidos ou psicopatas. Um colunista do jornal de Nova York “The Village Voice” chegou a pedir a seus leitores que, caso esbarrassem com Friedkin e equipe na vizinhança, deixassem explícita sua insatisfação.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/polemicas-da-representacao-gay-de-parceiros-da-noite-sao-retomadas-em-interior-leather-bar-10684340#ixzz2jmlE8zfP
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