segunda-feira, julho 17, 2017

A mídia 2017, onde nada se cria, tudo se copia


Vivemos um momento raro, aonde nada parece surpreender. Ao menos não aos que tem o mínimo de cultura e acesso ao conhecimento, certo? Nem tanto ao pão, nem tanto ao queijo. Na mídia vemos tendências do passado a se reeditarem: novelas, filmes, series... nada original. Estamos na década da releitura. Em breve teremos Os Trapalhões, nova geração. Já tivemos a Escolinha do Professor Raimundo, também m versão atualizada. Nos gringos nada é tão diferente, e por um lado series passam a ter temporadas renovadas por medo dos produtores de investir em algo novo, a internet trás êxitos de um passado com um vigor impressionante, e claro de graça.

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David e Fer, se tornaram acidentalmente
o casal protagonista da trama
Tempos atrás me vi re-assistindo uma série espanhola na íntegra via internet, perdi algumas temporadas por falta de tecnologia na época. A lindíssima, marcante(para mim) e comovedora Física ou Química, que conta em 7 temporadas num total de 77 episódios as desventuras de jovens do colégio madrilenho Zurbarán e suas descobertas psicológicas sexuais. A tira castelhana chegou a 18 países, sendo dublado ao francês, polonês, italiano e ao português ibérico para sua exitosa exibição pelo canal português RTP. Confesso que prefiero o original, e não desgosto da versão dublada italiana. Transmitida entre 31 de marzo de 2008 e 13 de junio de 2011, abordou temas que nos caretas anos de hoje seriam um desafio para os produtores, que quando fazem uma releitura a tornam sempre boba e insonsa graças a modernidade politicamente-correta e conservadora da atualidade. Abertamente nela se falou de aborto, racismo, xenofobia, amor inter-fases de idade e até mesmo um casal abertamente homossexual que ONGs da época contabilizaram mais de 500 beijos e mais de 10 atos sexuais no decorrer da trama.

Mas o ponto que busco chegar é que o público também e não só os produtores são medrosos. De um lado o público não quer ver algo sem ter garantias, hoje com a tal proliferação de ismos: feminismo, gordofobicismo, imperialismo, anti-imperialismo, veganismo... entre outros, o público não é mais mente aberta como nos anos 80 e 90, encaretamos e preferimos ver o mesmo de sempre. Nessa onda os que produzem embebem-se do pretexto das tecnologias recentes e inéditas para fazerem novas versões. Nova Buffy, Novo Homem-Aranha, Nova Mulher-Maravilha, Nova Mandioca-no-Rego... o que for. Se ao menos no Brasil comprassem os direitos de Física o Química... Não custa sonhar!

O neoliberalismo que acaba com os postos de trabalho não atingem apenas o mercado de trabalho afetado pelas reformas trabalhistas promovidas pela TROIKA nos quanto cantos do universo, mas também nos âmbitos que sempre estiveram a margem das leis trabalhista. O mercado artístico sempre se auto-regulou de cima para baixo. É dizer no topo dos ganhos Hollywood, seguidos dos off-Broodway, europeus, europeus alternativos, latinos, latinos para festivais, Globo Filmes, nacionais premiados... e por aí vamos até chegar no fundo do poço aonde duelam desigualmente o teatro com estrelas de TV e o teatro das máfias dos editais públicos e leis de incentivo a cultura, e finalizamos a cadeia alimentar com os artistas que vivem de migalhas de bilheterias escassas nas poucas datas remanescentes dos poucos teatros ainda abertos e com pautas democráticas no país.

Me fui da raia principal. Neste emboleio em que vivemos até eu caí na dança e estou a remontar um texto meu de 1997, a pretexto de comemorar os 20 anos da peça e a fazer uma releitura de uma de minhas obras mais polêmicas que foi censurada e boicotada em um teatro público de Florianópolis a 10 anos atrás, poi pois, censura também se comemora e melhor se for com uma versão inédita em Buenos Aires...

Todavia se engana que ache que a humanidade se esgotou em temas ou na sua capacidade de inovar... É que em momentos de crise investir em releituras é mais barato. Pois um novo produto requer novas estratégias de marketing, mais estudo, maior geração de empregos e investimentos por conseguinte.Então vemos formulas velhos em formatos novos, formatos que se dizem novos copiando antigas fórmulas. Mas existe também o acaso e a natural coincidência como quando os egípcios, os chineses desenvolveram complexos ritos funerários para proteger seus mortos no além. Esta vestimenta com que um membro da família real foi enterrado consiste de 2.216 placas de jade. Só os fios de prata que os unem já pesam um quilo. As peças fazem parte da exposição ''China e Egito: Berços da humanidade", no Novo Museu de Berlim.

Mas confesso que como espectador tenho preferido ver séries que se disponibilizam na íntegra pois já foram encerradas que angustiosamente acompanhar as inéditas e entediantes séries by NetFlix, que podem por ventura não terem um fim, pois devido a crise se cancelam e aquele antigo respeito ao telespectador inexiste. Ou quiçá seja preguiça de assistir cousas de conteúdo duvidoso.

Quanto aos filmes, optei por ver cine arte francês ou de estilo similar no Youtube, tendo assim nos comentários uma garantia extra de diversão, pois os comentários muitas vezes são melhores que os próprios vídeos. E claro que seguindo a moda todos podem assistir tardiamente meus espetáculos Bacalhau Regado ao Vinho em Florianópolis que aumentou sua meta e nesta versão garante o mínimo 57 gargalhadas garantidas ou Juan & Marco que estará também em Setembro em cartaz na capital argentina.

Em um 2017 sombrio para a economia, a democracia e também para o entretenimento de massas, pois não chegaremos a falar obre cultura neste artigo, só nos resta esperar, comer, viver, rezar... Quase citei o chatíssimo filme da tia Júlia, a rainha da Sessão Refugo. Nos resta para a "nossa alegria" ver youtubers se tornando ricos e famosos dentro de uma sociedade inóspita e aculturada.

Contudo me vem a dúvida o que e pior? A re-re-re-reciclada A Praça é Nossa? A nova Escolinha, Os novos Trapalhões? O falido Pânico que é um liquidificador nonsense de americanizações esdrúxulas e pitadas de Casseta & Planeta? A cópia do TV Pirata, mal feita pelo Adnet? Ou as inéditas novelas globais que são claros plágios de novelas mexicanas? Ou até mesmo as releituras, estas autorizadas, feitas pelo SBT de novelas infantis argentinas, que foram readaptadas no México e agora re-readaptadas no Brasil? Santo Youtube e sites que carregam séries, protejam-me!

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