quarta-feira, fevereiro 10, 2010

BBB, nazis-fascismo na TV

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

 

Que conteúdo útil na televisão tupiniquins está cada vez mais raro seria redundante, caso não tivéssemos esta semana no famigerado reality de heróis do Pedro Bial e espero que apenas para ele chegado ao cumulo da ignorância e desinformação. O programa BBB 10 mostrou um exemplo de o quanto em uma sociedade pseudo-pós-moderna o preconceito e a desinformação ainda persistem como falsas-verdades, estas que como diria Chico Buarque em "A Gota d'água".

Marcelo Dourado depois de tantas imbecilidades que proferiu durante sua segunda participação no reality global, mostrando que poderia piorar sua imagem bucéfala diante de uma audiência esquálida e acrítica. Ao meio de seus "brothers" no programa de maior audiência da TV brasileira na actualidade proferiu que: heterossexuais não contraem HIV, causando revolta entre os moradores da casa do Big Brother Brasil.

Depois da exibição da cena, o apresentador Bial lembrou que os participantes falam besteiras e que para saber mais sobre o contagio da doença os espectadores deveriam entrar no site do Ministério da Saúde. Salvo conduto para o jornalista? Jamais. Além das tribos semitistas em sua "divisões", que de antemão rotularam os participes do tal show de realidade, novamente a Rede Globo demonstra o quanto é reaccionária e conservadora.

Pensemos caríssimos, o politicamente correto "foi feito", mas o estrago não foi desfeito. Pois simplesmente dizer que se alguém queira se informar que acesse o site do Ministério de Saúde é omissão, ademais sonegação de informação, num país onde um dos projectos do governo federal justamente é a inclusão digital e da polêmica para alguns disseminação do acesso a banda larga. Ou seja, somos entorno de 40 milhoes de usuarios de internet em um país de 200 milhoes. E penso ainda que um jornalista deve ter um compromisso com a verdade e a atitude omissa do senhor Pedro Bial nao desmentiu a falácea do "herói" homofóbico Marcelo Dourado.

Darei sugestões rápidas, estas disponíveis no site www.aids.gov.br, que poderiam ter sido utilizadas pelo tao reverenciado apresentador e que qualquer pessoa dita esclarecida já sabe a anos:

1) Fornecer o site específico disponibilizado pelo Ministério da Saúde, o mesmo que citei acima. Seria omisso mas ao menos a pessoa não se perderia nos milhões de temas e propaganda do governo que existem no site principal do Ministério.

2) Poderia-se perder alguns míseros 30 segundos dentro do mar de conteúdos úteis dizendo uma obviedade quanto aos grupos de risco relacionados a pandemia do vírus HIV, dos quais homossexuais hoje sao o menor grupo de contagio e contagiados, e nos economizar de seus provérbios enfadonhos para enaltecer seus "heróis". Cito a definição do portal do Ministério da Saúde, o Aids.com.br: "Relação sexual (homo ou heterossexual) com pessoa infectada, sem o uso de preservativos; compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente, no uso de drogas injetáveis; transfusão de sangue contaminado pelo HIV; reutilização de objetos perfuro-cortantes com presença de sangue ou fluidos contaminados pelo HIV".

3) Eliminar ou ao menos punir o jogador do reality, por má conduta, propagação de preconceito e crime de ódio e talvez quiçá apologia a heterossexualidade em uma psicologia já utilizada pelos nazistas. Pois assim como os nazistas se tratar alguma "minoria", essa que segundo o IBGE são 10% da população, é sim um ato de apologia ao preconceito sócio-normativo de que ser hetero é bom e homossexual é ruim.

O crime de ódio só não se acentua mais porque nosso congresso conservador não tem a honradez de aprovar a PCL 122, está que dentre outras coisas criminaliza a homofobia. Além do engavetamento eterno da lei "Marta Suplicy" de união civil, está que já está aprovada a anos em países do Mercosul como: Argentina(2001), Uruguay (2003) aonde a lei também desde 2005 permite o matrimonio e adopção por casais do mesmo sexo. Além de países como México(2001), Colômbia(2009) que também tem leis de descriminalização do aborto.

O atraso na votação e aprovação de leis sobre direitos civis são o escudo protector dos neo-nazistas no país. Hoje colaboram a pretextos múltiplo do tipo temos que discutir mais sobre o tema. Aí inimigos se juntam em favor do atraso e da discriminação, sejam os grupos de ultra-direita como DEM, PP, PSDB e direitistas nanicos como PR, PRONA, etc., ajuntado a seus rivais políticos mais aliados sociológicos pela exclusão de sectores do PT, PCdoB que em mesmo em suas bases possuindo muitos homossexuais pragmaticamente não entram internamente nem externamente nessa discussão, pois internamente sao ainda muito arcaicos e focados apenas na discussão político partidária. E antes da acusação meu pedido de redenção, sim existem excepções em todos os lados, poucas mas há.



Meu lastimo neste caso não é pela esperança de que o Brasil se torne menos exclusor, racista, nazista e fascista. Mesmo porque se nossa concessão pública historicamente mais degradadora desta quase nação, após a "redemocratização", não foi punida nem recebeu sanções por ser instrumento e apoiador da criminosa ditadura militar que tivemos, a mais longa da América Latina, só não comparadas as Portuguesa, Francesa e Espanhola(em período de tempo e obviamente não em número de mortos, que nesse quesito ganhamos em disparada), um fato absurdo deste além de digerido como normal pela massa acéfala que a faz líder de audiência desde 1967, se tornará uma mentira repetida a ser considerada verdade.

É de agonizar que em um país onde tantos já foram mortos por crimes de ódio a principal concessão pública brasileira faca um de-serviço público. E se tanto o Ministério Público diz vigiar, quase como um sensor dos anos de chumbo, modificando programas de outras emissoras de canal, etc. Este mesmo órgão deveria actuar firmemente neste caso. Pelo argumento do próprio que diz que a TV precisa de regulação pelo bem da nação, pois pode influenciar as pessoas e a sociedade. E eu acrescento, positivamente ou neste caso muito negativamente.


Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista

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