terça-feira, fevereiro 24, 2009

Fatal ou factual?

Fernando Schweitzer, Buenos Aires/ARG - Ator Não-Global, Diretor Teatral, Cantor, Escritor e Jornalista


Em período pós carnaval é um tanto crítico refletir, diz a lenda. Em resposta ao que questionam a mim em momentos fortuitos da vida dizendo que estou com um nível de álcool acima da média comum, sempre tive 2 respostas simples e concisas.

A primeira resposta surgiu por acaso quando uma amiga me disse: "Nossa! Você bebe muito!!!". E minha resposta foi: "Bebo pouco pois sou pobre e a bebida no Brasil é muito cara!". A segunda foi quando em uma festa alguém disse que não deveria filosofar embriagado, eu rapidamente questionei: "Não sabia que o teor de sangue no meu álcool alterava o meu QI!".

Embuido deste espirito pós carnavalesco me atrevo a falar sobre algo que não é samba ou mulher. Difícil... Em um momento de queda vertiginosa da poderosa não citar está nota repetida em milhares de veículos:

"Na madrugada de segunda pra terça, por volta das 5h, durante o desfile da escola de samba Mangueira, do Rio, a câmera aérea da Globo, presa com um cabo, que passeava por todo o sambódromo, dando imagens aéreas da festa, se partiu e caiu na área das frisas, próximo ao setor 9."

Mas o assunto a que necessito me reportar é uma nota que a mim deixou pasmo, esquálido e talvez estarrecido. Ao ler a Folha on-line esta semana me embasbaquei com esta nota:

"TV Cultura deverá acabar com jornalismo diário

A TV Cultura deverá em breve, terminar com todos seus jornalísticos diários. Segundo a coluna Canal 1, tais atrações deverão ser substituídas por programas da mesma área, porém sem compromisso com o factual.
Como a emissora é estatal, essa medida teria sido tomada à fim de seguir as vontades do Governo de São Paulo."

Que o jornalismo tem se modernizado e até modificado alguns de seus paradigmas através dos tempos isso habitualmente é dito desde rodas de bar a centro acadêmicos e seminários do ramo jornalístico. Agora fico bestificado ao saber que a TV Cultura, a mesma que já possui inúmeras figuras da mais fina nata do jornalismo em todos os períodos da história brasileira, possa passar a não mais possuir jornalismo diário. Quisera que fora mentira pensei ao ler, infelizmente ao checar em blogs e sítios outros confirmara que sim procedia a nota realmente.

Um ponto que também me causou dano fora a opção substitutiva. Por no lugar programas da mesma "área", mas sem compromisso com o factual? Para mim o jornalismo tem compromisso com o factual até mesmo em matérias de gaveta. "Afe Maria!" A que ponto da história chegamos?

Outro aparte que se pode tentar refletir é que ao mesmo tempo que vivemos uma sociedade de consumo e futilidades das massas, ate mesmo as elites se perdem, pois cada vez mais ser parte de algo é importante. O fenômeno das tribos urbanas é grande reflexo disso. Ao pensarmos neste reflexo de contra cultura social podemos ver que o jornalismo também entrou nesta barca furada. Pois como as tribos que negam qualquer coisa da "sociedade" e pensa criar a sua, temos hoje em dia o jornalismo querendo não ser mais jornalismo.

Em um contra ponto a estatal do governo paulista, as duas grandes emissoras comerciais hoje do país investem massivamente em comunicar. A Record teve investimentos da escala de milhões em seu setor de jornalismo maximizando seu objetivo de crescimento no ibope, além de ter aberto um canal de notícias 24horas, que mesmo que não tenha apenas notícias em sua programação tem uma inegável fonte inspiradora dentro e outras várias fora do país. A TV Cultura com esta ação realmente vai de contra a maré mundial a qual estamos vivendo. Na era da informação é inconcebível que uma das maiores redes do país e sendo um órgão de ordem pública.

A mídia no Brasil nunca foi algo que se diga estar entre as mais compromissadas com a informação, mais neste caso parece ser pior, pois estamos falando de dinheiro público. Que empresas privadas deturpem o jornalismo ou usem de vértices não muito criteriosos em seus noticiarias já é fato comum, criticável, mas comum. Agora temos um afronte de precedentes jamais antes pressentidos nem pela maior das videntes ao direito a informação livre de interesses comerciais.

Quais interesses estariam por trás deste ato? Prefiro não manifestar-me antes que me acusem de tendencioso ou qualquer outro "oso" que possam querer proferir contra a minha pessoa.

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