quarta-feira, julho 29, 2015

Navegante

Poema de Nando Schweitzer

Quão pode ser sutil um respirar
Quão sonho com estar ao silêncio, mórbido, apenas a lhe escutar
Navegar no teu leito
Nascer em seus afluentes sorrisos, invadido em sonhos somente

Quartzo que rompe lento
Quimera descabida ou desalento, áspero, viver sem seu alento
Nunca, sempre, tarde, cedo
Nunca lento será meu coração que sempre tarde bate

Quando cedo lhe vejo... Lento


domingo, julho 26, 2015

Zorra: Programa por primeira vez faz humor inteligente



É a notório que o mundo televisivo tem mudado a passos largos nos últimos 10 anos. Mas que avanços tecnológicos, temos evoluções sociais. É um grande contra-censo. Ao mesmo que a população se encaretou nos últimos tempos, a TV tenta esforçadamente conter sua queda de audiência e a fuga de público para outros meios de comunicação.

Quando em 1997 escrevi um espetáculo teatral e minha ex-diretora o achou impróprio para ser montado, e eu reclinei-me introspectivamente e o guardei a gaveta, não tinha noção de seu futuro, tão pouco o do país. Já em 2004 ao estruturar minha própria companhia pude montar o mesmo, e ter a mesma diretora à estreia. Eis que fui perguntado se teria modificado o texto. A resposta fora um retundo não.

Esta parábola lhes conta para contextualizar que, as pessoas mudam, seu entorno muda. Hoje vejo pessoas de um perfil libertário não enxergando a libertação de retrógrados conservadores. Hoje o humor de contestação e de cunho quase de vanguarda começa a querer despontar na líder de audiência, a Rede Globo. 

A linha editorial da emissora foi forçada a mudar para sobreviver como grupo de mídia. O próprio Jornal O Globo já havia reconhecido o equivoco de terem apoiado o governo militar, e este ano a emissora de TV do grupo também o fez através de editorial do Jornal Nacional. E no entretenimento se mostrou esta nova faceta no novo Vídeo Show e no programa Tá no Ar... E agora o Zorra bebeu do formato do Tá no Ar, e resgatando algumas posturas do antigo TV Pirata. 

Obviamente não creio que a emissora carioca tenha se tornado menos conservadora. Mas sim que o Brasil se tornou tão conservador que a Globo hoje pareça ser vanguardista quando ao ver seu horário nobre afundar o reformulou. Este acidente de percurso criou o Novo Zorra. 

Claramente o novo humorístico traz uma tentativa de inovação e é muito superior a colcha de retalhos e cacoetes de péssimo gosto que era seu antecessor o Zorra Total. Vejo como uma evolução... Ainda a quem do que gostaria. Mas pontualmente o vídeo postado nas redes intitulado "Festival Musical do Coxinha" é muito, mas muito avançado para os dias retrógrados de hoje. Seja no teatro, TV ou música hoje o país é muito mais careta que a 2 décadas atrás.

"Um festival de musica para aqueles que não ficam se a democracia ficar" é uma frase emblemática e muito ácida que abre o esquete, e seria impensada como presente em um programa da Rede Globo. Sejam nos históricos Os Trabalhões, ou mesmo nos metidos a politizados Casseta & Planeta ou TV Pirata, nunca na história deste país e desta emissora algo deste ímpeto foi recitado.



O vídeo no Facebook já ultrapassa as 850 mil visualizações neste link - https://www.facebook.com/sensacionalista/videos/965801686796032/, e tem causado discussões vazias e acaloradas. Mas o que surpreende são comentários que dizem que o vídeo tem como objetivo degradar a boa música brasileira.

Atento ao conteúdo das faixas a plateia se vê um real cuidado para com o esquete. Frases como: "Volta General"; "O povo não tem cura, volta à ditadura." Recheiam e completa este inusitado e cru vídeo que sim consegue ser critico e bem humorado.

Penso que toda e qualquer paródia por si só são uma forma de se enaltecer o valor de uma canção. E pela primeira vez vi uma paródia desconstruir um discurso histórico, o dos festivais da canção dos anos 60 e 70, e assomar-se de uma discursividade ímpar aonde critica o pensamento reacionário através de uma burlesca e divertida alusão ao momento atual da política brasileira. Esta que vê-se aos berros e nos jornais de hoje, o de pedidos inflamados de regresso ao regime de exceção, a ditadura.

Destaque para o tema Disparate, versão de Disparada. Ao que o grandioso Paulo Silvino canta "... já falei com o coronel para o Congresso fechar!". Ou a magnifica A Banda Naval, e o trecho que diz: "dá choque neste coxinha, que adora torturador."

Aviltantemente o programa ao que realiza algo inédito, ser engraçado, não é compreendido. O Brasil é um carrossel travestido de montanha-russa. E nós? Ainda somos os mesmos, mas não vivemos como nossos país. Estamos pior: acéfalos, inquietas e coxinhisticamente reacionários.

sexta-feira, julho 10, 2015

Uma tese indefesa, de uma defesa maior que qualquer tese

Fernando Schweitzer - Jornalista, diretor teatral e anti-sócio-normativo

“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.” - cito. Este um suicídio forçado, que retardou por casualidades múltiplas em dez anos uma das várias ditaduras que vivemos. Este que se assemelharia em demasia a ditadura do capital e do coxinhismo sócio normativo e do padrão Globo de jornalismo que vivemos, aqui, ali e acolá; antes, sempre e também agora.

"Sigo o destino que me é imposto." disse, e eu sigo-lhes também. O destino, o imposto e sem um vintém. "Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci." Depois de décadas de luta pelo Brasil e pela arte, 1800 e tantas apresentações, 200 e tantas personagens, 117 espetáculo, sucumbi. "Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo." Ah! Oxalá! Quem dera! Perseguido, boicotado e censurado pelo status quo das corrutelas. Me vi sem tablado, com um público, mas expurgado pela frase pública jamais publicada por nenhum pasquim desta terra que alardeia sua qualidade de vida e nível cultural: "Este espetáculo não é condizente com o Teatro Álvaro de Carvalho, e sua temporada está sendo cancelada!" afirmou Márcia Dutra, diretora à época do TAC, mas até hoje sem formação teatral técnica. Pensei na melhor vingança possível, mas a melhor me ocorrerá meses depois. Fazer jornalismo! Pois se não podes vencê-los, torne-se um deles.

Há quem diga que o suicídio de Getúlio Vargas adiou um golpe militar que pretendia depô-lo. O pretendido golpe de estado tornou-se, então, desnecessário, pois assumira o poder um político conservador, Café Filho. O golpe militar veio, por fim, em 1964. Hoje me vejo a merce desta banca, pois: "A AV-1 do acadêmico que está realizando TCC será atribuída exclusivamente pelo orientador de conteúdo. A AV-2 será computada em 70% a partir da nota atribuída pela banca e em 30% a partir da nota atribuída pelo professor orientador de metodologia." E todavia penso na subjetividade do termo acadêmico e que faço comunicação por não ser um protótipo de gênio ou calculadora científica. Do grego academo, o termo surge para afirmar e nomenclaturar: espaço de diálogo para o ascender do conhecimento. Será?

Anos de desprezo da mídia, me pareceram por um momento poder exterminar. Eis que aí não cito, ou, me re-cito: Nada de raiva, pois raiva é passageira, prefiro o ódio pois este é definitivo. "Não querem que o povo seja independente." Afirmo, não querem o jornalismo independente. "Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho."- profanou. Assumi-me jornalista publicamente, profanei. "Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano." E eu? Minguando. Não sirvo para o padrão. Quiçá um dia! Mas já palestrei na Pós-Graduação da USP ao lado de Clóvis de Barros Filho e o digníssimo professor Chaparro. "Veio a crise do café...", mas nunca a crise de valores. Era tarde, a 3ª fase me asfixiava, não havíamos aberto a lanchonete do neoconservadorismo ainda, mas já saltitavam na gordura sócio-normativa as coxinhas.

Enquanto desmilinguido, eu, e também o original ouvíamos o esbravejar de muitos mafiosos, e outros incapazes, e outros nem um nem outro: Lutei por esta vaga e por isto lá estou. Mas enquanto e por quanto tempo "Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue." também pensei eu e ao auto-exílio parti. "Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.", ou melhor, deixar-lhes feliz com minha partida.

"Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado." Mas em Buenos Aires estarei. "Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos". Mas outro jornalismo eu farei. "Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação...". Mas se "Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta."? Não, não sei. A crise por lá veio, o outra vez aqui regressei. Mas quando disse Getúlio: "Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão...", ou não! Pois meu sangue derramado em um assalto recente não gerou uma linha dos diários. Nem uma nota de ex-coleguinhas de faculdade, nem daqueles com quem conjunções carnais cativei. Como outrora, hoje tão poucas matérias vislumbrei sobre este que estão por assistir.

Sei que discursos e grandes reportagens são enfadonhas. As vezes. Quando não realizadas por mim. "Ironia do destino ou coincidência, o tema para o documentário de Fernando Schweitzer surgiu quando o jovem procurava um banheiro para fazer suas necessidades físicas básicas. “Recados de Banheiro”, produzido nos últimos seis meses, retrata e analisa as mensagens escritas em banheiros de diferentes universidades de Florianópolis e São José. o curta afirma ainda que as mensagens escritas vão além do vandalismo. “Já enviei o documentário para alguns festivais, agora aguardo retorno”", conta Schweitzer ao Jornal notícias do Dia de 09/07/2015. O documentário que teve como sua maior dificuldade de produção encontrar pessoas que escrevem as mensagens pois estas acredito usam do anonimato para exasperar suas frustrações e ideologias; e que este “é um documentário jornalístico e cinematográfico" que seguindo a adenda do manual de TCC da instituição deve contemplar interdisciplinaridade.

Desmistificar o impacto sociológico e as intenções, objetivos das pessoas que veem neste suporte e locais uma forma de comunicação para interagir com um público "reservado”, mas ao mesmo tornar-se público e parte dele. Sair do isolamento do mundo ideal, em uma taxativa e desesperada averbação de si para com o outro. Buscar do público-receptor qual o impacto e as intenções, objetivos e sociocultura das pessoas que veem neste suporte e locais uma forma de comunicação para interagir com um público que não podem atingir ou sensibilizar por outros canais e mídias. Abordando assim o atravessamento e impacto destes recados para os usuários de banheiros públicos.

Já estive na TV internacional, pero nunca fiz Jornalismo de Celebridades. Não sou Baduíno, nem um Menezes, tão pouco tenho glória ou me chamo Maria, mas já tentei levar uma Vida de Michê. Mas se Rir é o Melhor Remédio, ou se um dia dirão que hoje este TCC virou piada, não sei. Mas independente do resultado hoje dado seguramente não farei uma homenagem nem ao Figueirense ou Avaí. Pois quando me torne presidente proibirei o futebol por 5 anos para que as pessoas deixem de ser alienadas e seres irrecuperáveis do ópio que é o jornalismo de entretenimento vazio e fugaz. Sempre vivi a vida de outros e nunca a dos outros, sou ator sindicalizado desde 2001, mas meus conteúdos sempre foram 100% originais. Não existem comparativos, embora se afirme que os critérios de avaliação são sempre os mesmo. Não entrevistei meu pai, não entrevistei meu avô, não usei fontes falsas. Não sou o padrão Estácio de Sá.

"E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória." mesmo que não seja agora. "Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém...". E rezo que assim seja quanto ao jornalismo também. Desato aqui um nó. Não o da gravata, pois a muito tempo já o desfiz, refiz, desfiz e usei, fiz e refiz e não usei. ¿Se "Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate."? Poderíamos o mesmo Getúlio e Eu hoje dizer: " Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.", ou, saiu do Centro Universitário Estácio de Sá para adentrar ao mundo.

Mas certo de que seja qual for o resultado após o termino do documentário, seguido de apreciação da banca. Nos encontraremos em um karaokê aqui perto e cantaremos Roda Viva, de Chico Buarque. Com vocês, Recados de Banheiros - Comunicação Escatológica