sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Um títere que criou vida, Ivan Titerenovich

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Então. Como nas críticas que fiz a outros espetáculos, dentro e fora do festival Invasão Teatral, gostaria de relembrar o espetáculo “Ivan Titerenovich” baseado no texto “Os males do tabaco” de Anton Tchekov, com direção de Juliano Valffi, estava primoroso mesmo com o calor absurdo de Teatro da Armação.

O comentaria por horas, mas como haviam apenas 2 pessoas na platéia deixo aqui minha recomendação. Muito divertido e instigante, mesmo em se tratando de teatro com a presença de um boneco.

Não, não resisti... Irei pincelar um pouco do que vi.

Que imenso prazer ao assistir um espetáculo em que o ator de inicio ao fim carrega com mestria uma personagem. Neste caso 2, que são o ide e o ego da mesma, Ivan. Mas nada ainda melhor, como o insuperável sotaque russo de Ivan, personagem cativante do espetáculo.

Aprofundandoquanto ao espetáculo sitecnicamente a construção e execução da personagem me cativou muito além do que poderia imaginar lendo a sinopse.

Por mais que minha especialização seja em sotaques para interpretação, a obra foi além de um sotaque bem executado, muito organico, desmistificando que um ator nao possa fazer voz e sotaques diferenciando-se do seu natural. O texto realmente me pareceu bom, e de límpido transcorrer em sua adaptação neste caso.

Em menos de 3 minutos a aura, ou como digo a membrana entre ficção e realidade-platéia e rifadas positivamente de exímia concentração, do ator e "seu boneco" em cena.

Uma postura neutra que realmente colocavam o foco no boneco, um plus, que na maioria das peças do estilo que vi... onde o ator muitas vezes força a barra e parece querer aparecer mais que o títere.

Diferente, muito distinto, impar!


segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Brasil e Nigéria são mais parecido que pensamos!

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Enquanto no Brasil bancadas evangélicas associadas a ala de ultra direita do governo Dilma Roussef, pensam ser aliados e salvadores da família normal e cristã, no continente mais atrasado e tribal do mundo, um projeto que foi apresentado pela primeira vez em 2009 e, inicialmente, propunha sentença de morte para atos homossexuais, foi alterado para prescrever prisão perpétua para o que chamou de homossexualidade agravada pode ser assinado nos próximos dias.. 

A homossexualidade é um tabu em muitos países africanos,  como no Brasil, e considerada ilegal em 37 países do continente. O que nos faria pensar, que africanos são arcaicos, diria neonazistas. Ou uma "raça" menos evoluída. Vale lembrar que não só a America recebeu novas influências nos últimos séculos, através de migrações norte-americanas e europeias. Além de insurgências e invasões de fundamentalistas árabes, muçulmanos, evangélicos, protestantes radicais e católicos.

A americanização nazista

Muitos ativistas locais e internacionais dizem que poucos africanos são abertamente gays, temendo a prisão, violência e a perda de seus empregos. A presença maciça de religiosos com discurso fundamentalista, principalmente cristãos, também foi lembrada pelos entrevistados ouvidos pelo por matéria recente do Jornal O GLOBO. Segundo Wainaina, uma militante local, a virada ocorreu entre os anos 1980 e 1990, quando missionários vindos dos EUA passaram a atrair milhões de pessoas e, com elas, o interesse dos políticos.

Na visão de quem acompanha o tema, as investidas contra os cidadãos LGBT surgem menos do preconceito e mais de manobras políticas com o objetivo de distrair a população de problemas não resolvidos e assegurar a liderança frente a uma maioria conservadora sobre a qual igrejas cristãs ganharam influência nos últimos 20 anos. — Neste países, os líderes políticos estão sendo pressionados pela população, e por isso recorrem a leis populistas — disse o escritor queniano Binyavanga Wainaina.

A Nigéria enfrenta uma crise energética e vai ter eleições em 2015. Só lembrada por aqui hoje pelo futebol, e antes por ser origem de parte e nossos ex-escravo. Também trouxe ao Brasil parte da cultura do candomblé, essa que historicamente foi a única religião a aceitar homossexuais nos seus cultos na republiqueta das bananas.

O uso da homofobia como instrumento de dominação popular também tem efeitos nefastos sobre a prevenção e o tratamento da Aids, e logo no continente que concentra 70% dos diagnosticados com a doença no mundo, conta o diretor executivo adjunto do Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids (Unaids, na sigla em inglês), Luiz Loures. Ele lembra que a homofobia tem aparecido como tendência também em países da Ásia e do Leste Europeu. Consciente das dificuldades de reversão do panorama, ele aposta no diálogo.

Quando pensamos no país que queremos ser, sempre miramos ao rico império do norte, pois. Hoje este através de seu presidente, o primeiro egro no continente novo, ameaça o país africano com sanções. Obviamente não tão duras quanto as que duram vários décadas a Cuba. Nos faz pensar então que ser homossexual é algo pior que ser socialista.

Hoje apenas 17 países permitem o matrimonio igualitário. Dois penalizam com a morte o ato homossexual. Trinta e sete punem um homossexual por apenas o ser-lo com prisão perpétua. E o Brasil mata 338 pessoas em crimes e motivação única e exclusivamente homofóbica e temos uma proposta de criminalizar a HETEROFOBIA.

Está na hora do Brasil decidir de que lado do muro ficará... Do lado dos aliados europeus, sulamericanos que aprovaram o matrimonio igualitário. Ou do reacionalismo e fundamentalismo árabe, americano, africano e russo. 

Cidadãos que inda pagam impostos até na comida que compram a diário, façam de suas vidas um ato responsável. Pois se o IBGE afirma que 12,78% da população é homossexual, o próximo a perder a vida poderá estar no seu âmbito familiar. Criminalizar a homofobia e reconhecer um direito constitucional de quem não recebe descontos e impostos por ter menos direitos que os demais cidadão é o mínimo que pode fazer a primeira mulher eleita presidente no país.

Dilma, que vergonha!

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Invasão Teatral: Um pedacinho de terra perdido na espuma!

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Amo releases de espetáculos, por isto, e nada mais os cito: "Em Poses para (não) esquecer, Heloisa Marina confronta as lembranças das histórias de guerra contadas pela avó imigrante polonesa com suas diversas versões, fundindo os fatos e fábulas de sua família com questões íntimas e coletivas." - assim se auto-promove o espetáculo sob direção de Elisza Peressoni Ribeiro.

Esta parte do jornalismo acadêmico me diverte. Onde se criticamos positivamente, somos dados como "coxinhas". Quando criticamos devidamente, somos xingados de tudo e muito mais. Receber uma crítica já o disse Chico Anysio: "é uma dádiva, que a poucos apetece". Embora muitos pensem que criticar é falar mal, ela consiste basada em quesitos teóricos discorrer por um universo em contra ponto a uma opinião, isenta de juízos de valor particular, um consenso.

Mas que nada quero ressaltar através das palavras do dramaturgo Sérgio de Carvalho, que "o processo de esvaziamento da crítica teatral na imprensa brasileira já dura mais de duas décadas. E esses que aí estão talvez constituam o nosso último grupo de críticos. Depois deles, ao menos na imprensa, será a morte da profissão. Fim inglório, para o qual eles próprios contribuíram".

Comentários e burburinhos de entrada de espetáculos de mostras e festivais sempre nos dão pano para manga, atritos, entre os comentários de que o crítico tal vem a um espetáculo para atirar tomates podres ao que seja. Eu detesto carregar sacolas e similares... Não levaria tomates, menos com esse calor brutal que faz na ilha da magia (negra, com uma cabela de burro enterrada na cabeceira da ponte Hercílio Luz). Segui para mais um dia do Invasão Cultural - Mostra Cênica de Desterro.

Poses para (não) Esquecer. - DearaquiaIr ao grão, ou de veras a espuma. Réu confesso de que abomino os espetáculos de marionetes e afins. Fuji de Paper Macbeth, no TAC e nesta calorosa quinta-feira de fevereiro fui ao cercano prédio histórico logo mais a 3 quadras, aonde se localiza o Tetro da UBRO. Paguei para ver, ou seria melhor não ver? Como a própria produção sugere com seu dúbio título que trás um não entre parenteses...

A proposta: Através do jogo entre realidade e ficção, atriz e boneco, presença e imagem, o espetáculo propõe revelar o ontem que insiste em ser esquecido, para pensar o hoje. Poses para (não) esquecer nos convida a relembrar e discutir as velhas histórias como forma de se preparar para o flash que aponta ao nosso futuro e ao passado daqueles que ainda estão por vir.

A realidade: Em uma insólita interpretação de 2 personagens, a atriz solitariamente acompanhada por uma bonequinha simpática de espuma tenta cativar ao início; apesar do pequeno e meio cheio, meio vazio teatro. Os recursos visuais, ou seja um telão com fotos e poucos vídeos, por vezes eram mais interessantes que a atuação da atriz como ela mesma que a entrada da sonoplastia não se entendia o texto que dava.

Os pontos positivos: Uma proposta que tenta internalizar ao público uma nova ótica sobre a 2ª guerra mundial, onde imigrantes alemães nazistas podem ter migrado ao Brasil após o fim da guerra. Esse conflito para a protagonista é muito fragilmente usado na trama, e a interpretação de baixa intensidade de Heloísa prejudicam ainda mais o espetáculo.

Piadas mal executadas ao meio do psicodrama soam inúteis e constrangeram o público, no sentido de sentir pena da atriz. Houve ainda uma promessa de interação, que não se justificou actancialmente ao espetáculo ao chamar uma pessoa da platéia. O propósito? Deve estar na cabeça dos produtores da peça. Ou seria para gerar uma abstração ao público para ser debatida ao fim da apresentação? Ah, o Invasão Teatral não possui conversas ou debates ao fim de seus espetáculos.

Queridos a desesperança me assolou. Sufocado pelo tédio neste embrolho murmurei: E eu que reclamava das panelosas mostras teatrais do SESC Prainha. Ao menos de cada 10 espetáculos 2 eram tragáveis, 3 razoáveis, 2 aplaudíveis, 1 era incrível... Bem os 2 que faltam... As produções passaram a me odiar, pois como havia debate, e sempre puxa-sacos de plantão a qualquer coisa tão boba, rude e atroz como o que estes paneleiros produzem, mas com o status de serem produzidas fora daqui; e obviamente fazia questão de me posicionar claramente no debate.

Seria brincadeira se este baloarte do teatro catarinense não se levassem tanto a sério. Mas parecem-me por assim dizer que querem convencer a cidade, estado, país, planeta que este é "O Teatro" que se faz aqui. E se sim, estamos perdidos. E se não também. Haja visto que os espaços para apresentação monopolizados por editais imbecis e burocráticos para utilização dos teatros pioram o que a anos já era uma badalhoca.

Um pedacinho de terra perdido no mar... NA ESPUMA.

PS.: Aos que dizem que só sei falar mal... Peçam aos teatreiros que melhorem e não que eu diminua meu senso crítico.

PS. 2: “Ivan Titerenovich ” baseado no texto “Os males do tabaco” de Anton Tchekov, com direção de Juliano Valffi, estava primoroso mesmo com o calor absurdo de Teatro da Armação. O comentaria por horas, mas como haviam apenas 2 pessoas na platéia deixo aqui minha recomendação. Muito divertido e instigante, mesmo em se tratando de teatro com a presença de um boneco.

PS. 3: O sotaque alemão da avó era legal. Mas nada como o insuperável sotaque russo de Ivan.

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segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Todo esse Jazz da Chicago Ilhéu

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Hoje fiz um programinha yankee. Fui a um musical estilo Brodway, na saída fui tomar um milk-shake, antes de chegar em casa passei no super market e comprei uma Pepsi e um hamburguer de microondas.

Prestigiei a livre adaptação de Chicago – A Musical Vaudeville, livro de Fred Ebb e Bob Fosse, sob a direção de Ana Luiza Koerich Rios e Marina Soares, pois havia me comprometido com um dos atores a estar presente e assim segui minha saga no festival Invasão Teatral - Mostra Cênica de Desterro. E eu que pensava que seria "do" Desterro.

Menos sofrível que o último espetáculo que presenciei (Leia aqui a crítica sobre Palhaços) no mesmo festival. All That Jazz nome da adaptação é resultado das disciplinas de Prática de Direção 1 e 2 - 2013 (da Udesc - Dado este não aclarado no programa do espetáculo entregue a entrada ao público).


Realmente o entorno de 150 a 200 pessoas no TAC em sua maioria familiares, curiosos, fãs de musicais americanos e colegas de faculdade. Para este quase público interno, que calorosamente aplaudia como torcida de futebol ao final de cada número, o musical foi apresentado o musical nesta terça, 03/02.

A excelência da montagem e o que mais reluz é a qualidade vocal e afinação dos cantores e cantoras. Em apenas 3 oportunidades durante 1 hora de espetáculo houveram semitonadas imperceptíveis a platéia presente. Duas destas da melhor cantora do espetáculo, que interpreta a personagem Mama, ou algo assim. Pois, não consegui entender claramente as partes faladas do espetáculo, o ponto crítico de All That Jazz.

Salve duas exceções, Mama e o detetive, as personagens não tinham uma desenrolho muito profundo. Tradicional dos musicais ao estilo americano que tem foco majoritariamente nas coreografias e canto o musical catarinense segue a receita do bolo. Muito mais no canto e salve, salve, com instrumentos ao vivo muito bem executados(piano, bateria e baixo).

Pode-se dizer que o trabalho psico-físico não estabelece-se com clareza pelas cenas, que são desenhadas apenas para consturar as canções e pela ausência de personagens mais claramente construídas.

Boa música e atuações fracas

Mesmo sem microfones as vozes mesmo nos solos luziram bem, deixando mesmo a única ressalva para as falas. Nas cenas não cantadas o espetáculo fazia com que parte do público mudasse de expressão automaticamente. Com uma trama clichê de musicais e cabaré, não se pode dizer que pela baixa voz e expressões lineares da maioria dos atores tenha-se comprometido o entendimento da peça, mas poderia ter divertido um pouco mais os espectadores caso este quesito também tivesse sido cumprido.

A íngua da língua

No meu caso por não falar inglês e ser completo abstêmio da língua saxônica, ao receber o programa com a letra das músicas traduzidas me animei. Me iludi ao pensar que as músicas seriam cantadas em português, seguindo as adaptações de êxitos norte-americanos no eixo Rio-São Paulo.

Fora boa a intenção de entregar as letras de canções traduzidas ao público, modelo utilizado em algumas óperas pelo mundo, tradicionalmente ainda cantadas em italiano. O drama para as pessoas que como eu não sabem inglês era enxergar as traduções no escuro durante a apresentação.

Volume um problema para o musical

Eis um espetáculo que terá um caminho a seguir. Com um apoio, um patrocínio pode-se incluir microfones sem fio para os atores o que poderia uniformizar melhor o desempenho irregular dos atores entre falas e canto. E seria muito interessante um sistema eletrônico de legendas como utilizado atualmente em grandes óperas traves de leds similares ao de placas de avisos em agencias bancárias.

Veja também o artigo
Arte catarinense: Diferentes sempre, inimigos jamais!
Palhaços: Tornei-me um ébrio

Tornei-me um ébrio, na bebida tento esquecer... A um palhaço...

Fernando Schweitzer - Diretor Teatral e Jornalista


Domingo plácido e caloroso, feliz por chegar ao TAC, no centro de Floripa exatamente as 20h e inda ter ingressos disponíveis para a função de Palhaços, com direção de Marcelo Serra. O espetáculo faz parte da programação da Invasão Teatral – Mostra Cênica de Desterro, que acontece de 1º a 8 de fevereiro com
apresentação de 29 espetáculos.

Surpresa! Estávamos para assistir poucas pessoas. Assisti acompanhado de uma amiga que dormia o espetáculo quase inteiro, somado a 4 casais e um simpático rapaz de óculos, mão no queixo e expressão de intelectual. A nós se juntaram 2 senhoras que chegaram após o inicio da função.

A métrica arrastada das interpretações soavam como uma música monocorde, que causou por várias vezes a desatenção do público. Em momentos dos largos monólogos do palhaço, personagem central da trama, era visível que a falta de variações nas inflexões do mesmo soavam como um jogral e não a uma atuação.

O texto não era de um grande impacto dramático. Uma dramaturgia um tanto que previsível auxiliou a cadencia não fluente que terminou por não cativar o público.

Palhaços se propõe a ser um drama ácido e inusitado, escrito e ambientado no início da década de setenta, auge da ditadura militar. Como o próprio autor, Timochenco Whebi escreveu. O confronto de duas situações humanas: o homem integrado dentro do status quo aspirando a tradicional caminhada ao topo, e o homem-artista-ator, cujos valores encaminham-se contra a média, contra a estabilidade”.

Com um estilo que aparenta buscar o naturalismo a montagem peca pelo excesso de non-performace. Principalmente por parte do ator que interpreta o palhaço careta, que em algo chamou a atenção por beber algo que simularia cachaça ou vodka e não transparecer-se ébrio na cena. 

Fui eu então ao fim tomar uma cerveja, para ver se o álcool do mundo real me ajudaria a sentir outra vez a magia... do circo...

Comecemos a assistir mais o teatro local, claro, sempre lembrando que gosto é um juízo de valor particular e que na multiplicidade de estilos que se começará a formar um público cativo para o teatro catarinense.